João Batista Armani
Ao iniciarmos uma doutrinária
fazemos uma prece, ao encerrarmos fazemos uma prece, para os trabalhos de passe
fazemos uma prece, ao deitarmos fazemos uma prece, ao levantarmos fazemos uma
prece, fazemos uma prece nos momentos alegres; e oramos também nos momentos de
aflição.
Muito se tem dito a respeito da
prece, mas muito pouco ainda conhecemos do seu mecanismo de funcionamento. Por
isso mesmo, pouco a valorizamos, e por vezes até a esquecemos.
Já o dissemos em outras ocasiões,
que o Espiritismo é uma Doutrina de Tríplice aspecto, Ciência – Filosofia –
Religião, mas é comum vermos trabalhos, palestras, cursos e etc., enfocarem
quase que essencialmente as partes filosóficas e religiosas, deixando um pouco
de lado o seu aspecto científico. É até um procedimento normal, uma vez que o
Espiritismo é uma Doutrina relativamente jovem com aproximadamente 150 anos, e
a análise de seus aspectos científicos requer conhecimentos básicos, sem os
quais não entenderíamos as suas explicações, precisaríamos então ter noções de
física, ciências, biologia, fluídos, magnetismo, eletromagnetismo,
eletricidade, telecomunicações etc. Mas nesse trabalho, passaremos uma pequena
noção do seu aspecto científico.
·
Poderíamos dizer
que a prece é uma projeção do pensamento, a partir do qual irá se estabelecer
uma corrente fluídica cuja intensidade dependerá do teor vibratório de quem
ora, e nisto reside o seu poder e o seu alcance, pois nesta relação fluídica o
homem atrai para si a ajuda dos Espíritos Superiores a lhe inspirar bons
pensamentos. Por que pensamentos? Porque é a origem da quase totalidade de
nossas ações. (Primeiro pensamos, depois agimos).
·
Poderíamos dizer
também que a prece é uma invocação e que por meio dela pomos o pensamento em
contato com o ente a quem nos dirigimos.
·
A prece é a
expressão de um sentimento que sempre alcança a Deus, quando ditada pelo
coração de quem ora.
O Espiritismo faz compreender a
ação da prece explicando o processo da transmissão do pensamento: quer o ser
por quem se ora venha ao nosso chamado, quer o nosso pensamento chegue até ele.
Para compreender o que se passa
nessa circunstância, convêm considerar todos os seres, encarnados e
desencarnados, mergulhados no mesmo fluido universal que ocupa o espaço, como
neste planeta estamos nós na atmosfera. O ar é o veículo do som com a diferença
que as vibrações do ar são circunscritas ao planeta Terra, ao passo que as do
fluido universal se estendem ao infinito.
Então, logo que o pensamento é
dirigido para um ser qualquer na Terra ou no espaço, de encarnado a
desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece de um para o
outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som. A energia da corrente está na razão da
energia do pensamento e da vontade. É por esse meio que a prece é ouvida
pelos espíritos onde quer que estejam; que eles se comunicam entre si; que nos
transmitem as suas inspirações; que as relações se estabelecem a distância etc.
Esta é sua visão científica.
Pela prece podemos fazer três coisas: louvar, pedir e
agradecer (LE, 659).
Mas o que isso significa exatamente?
·
Louvar é
enaltecer os desígnios de Deus sobre todas as coisas, aceitando-O como Ser
Supremo, causa primária de tudo o que existe, bendizendo-Lhe o nome.
·
Pedir é recorrer
ao Pai Todo-Poderoso em busca de luz, equilíbrio, forças, paciência,
discernimento e coragem para lutar contra as forças do mal; enfim, tudo, desde
que não se contrarie a lei de amor que rege e sustenta a Harmonia Universal.
·
Agradecer é
reconhecer as inúmeras bênçãos recebidas, ainda que em diferentes graus de
entendimento e aceitação: a alegria, a fé, a bênção do trabalho, a oportunidade
de servir, a esperança, a família, os amigos, a dádiva da vida.
As preces devem ser feitas
diretamente ao Criador, mas também pode ser-lhe endereçada por intermédio dos
bons Espíritos, que são os Seus mensageiros e executores da Sua vontade. Quando
se ora a outros seres além de Deus, é simplesmente como a intermediários ou
intercessores, pois nada se pode obter sem a vontade de Deus.
A prece torna o homem melhor
porque aquele que faz preces com fervor e confiança se torna mais forte contra
as tentações do mal, e Deus lhe envia bons Espíritos para o assistir (LE 660).
O essencial é orar com
sinceridade e aceitar os próprios defeitos, porque a prece não redime as faltas
cometidas; aquele que pede a Deus perdão pelos seus erros, só o obtêm mudando
sua conduta na prática do bem. Deste modo, as boas ações são a melhor prece, e
por isso os atos valem mais do que as palavras.
Através da prece pode-se ainda
fazer o bem aos semelhantes, porque o Espírito que ora, atuando pela vontade de
praticar o bem, atrai a influência de Espíritos mais evoluídos que se associam
ao bem que se deseja fazer.
Entretanto, a prece não pode
mudar a natureza das provas pelas quais o homem tem que passar, ou até mesmo
desviar-lhe seu curso, e isto porque elas (..) estão nas mãos de Deus e há as
que devem ser suportadas até o fim, mas Deus leva sempre em conta a resignação.
Deve-se considerar, também, que
nem sempre aquilo que o homem implora corresponde ao que realmente lhe convém,
tendo em vista sua felicidade futura. Deus, em Sua onisciência e suprema
bondade, deixa de atender ao que lhe seria prejudicial.
Todavia, as súplicas justas são
atendidas mais vezes do que supomos, podendo a resposta a uma prece vir por
meios indiretos ou por meios de ideias com as quais saímos das dificuldades.
A prece em favor dos
desencarnados não muda os desígnios de Deus a seu respeito; contudo, o Espírito
pelo qual se ora experimenta alívio e conforto ao receber o influxo amoroso dos
entes que compartilham de suas dores. Além do mais, o efeito benéfico da prece
sobre o desencarnado é tal, que pode levá-lo à conscientização das faltas cometidas
e ao desejo de fazer o bem.
É nesse sentido que se pode
abreviar a sua pena, se do seu lado ele contribui com a sua boa vontade. Esse
desejo de melhora, excitado pela prece, atrai para o Espírito sofredor os
Espíritos melhores que vêm esclarecê-lo, consolá-lo e dar-lhe esperanças (LE,
664).
Qual a importância da
prece?
Lembremo-nos de um exemplo
prático. Se não limparmos periodicamente o nosso quintal, a sujeira se acumula,
o mato cresce, e há a proliferação de bichos. No campo espiritual, se não
limparmos o nosso psiquismo, os espíritos luminosos se afastam (mesmo que
temporariamente), as trevas tomam conta favorecendo a ação de espíritos
endurecidos.
Deus atende àqueles
que oram com fé e fervor?
Deus envia-lhes sempre bons
Espíritos para os auxiliarem. Não existem fórmulas especiais de orações. A
bondade de Deus não está voltada para as fórmulas e o número de palavras, mas
sim para as intenções de quem ora.
O que dizer das
orações repetidas inúmeras vezes?
As intermináveis ladainhas e
“PAI NOSSOS”, repetidos algumas vezes, as rezas pronunciadas com os lábios
apenas, que o coração não sente e a inteligência não compreende, não têm valor
perante Deus. Jesus disse: “Não vos assemelheis aos hipócritas que pensam que
pelo muito falar serão ouvidos” (Mateus 6:7). O essencial é orar bem e não
muito.
Por que existe então,
mesmo no espiritismo, orações ditadas por espíritos e publicadas em livros?
Para ensinar aos homens a
raciocinar quando se dirigem a Deus e fazê-lo não só por meio de palavras, como
também pelo sentimento e com inteligência. Estas orações não constituem
rituais, uma vez que, no espiritismo não existem rituais de nenhuma espécie,
nem formalismo.
Por quem devemos
orar?
Primeiramente por nós mesmos,
por nossos parentes, pelos nossos amigos e inimigos, deste e do outro mundo;
devemos orar pelos que sofrem e por aqueles por quem ninguém ora.
O que pedir?
Em Mateus 26:39, há a passagem
amarga do Cristo, que antecedia as suas dores supremas no calvário, onde Ele
nos diz: “Pai, se quiserdes, afasta de mim este cálice, mas acima de tudo
faça-se a Tua vontade e não a minha”. Demonstrava-nos o Mestre que as Leis
Naturais são sábias e justas e que são aplicadas indistintamente. Assim, não
peçamos “milagres ou prodígios”, mas tão somente forças para suportar aquilo
que não está ao nosso alcance mudar, paciência, resignação, fé e coragem.
Formas da Prece
A prece deve ser curta e feita
em segredo, no recôndito da consciência e em profunda meditação. Preces
prolongadas ou repetidas, tornam-se cansativas, sonolentas e, muitas vezes,
delas não participam o pensamento e o coração.
Assim, a condição da prece está
no pensamento reto, podendo-se orar em qualquer lugar, a qualquer hora, a sós
ou em conjunto, em pé, deitado, de luz acesa ou apagada, de olhos abertos ou
fechado; desde que haja o recolhimento íntimo necessário para se estabelecer a
sintonia harmoniosa. Por isto a importância do sentimento amoroso, humilde,
piedoso, livre de qualquer ressentimento ou mágoa, dessa maneira o homem irá absorver
a força moral necessária para vencer as dificuldades com seus próprios méritos.
Eficácia da Prece
Existem aqueles que contestam a
eficácia da prece, alegando que, pelo fato de Deus conhecer as necessidades
humanas, torna-se dispensável o ato de orar, pois sendo o Universo regido por
leis sábias e eternas, as súplicas jamais poderão alterar os desígnios do
Criador. No entanto, o ensinamento de Jesus vem esclarecer que a justiça divina
não é inflexível a ponto de não atender os que lhe fazem súplicas. Ocorre que
existem determinadas leis naturais e imutáveis que não se alteram segundo os
caprichos de cada um. Porém, isso não deve levar à crença de que tudo esteja
submetido à fatalidade. O homem desfruta do livre-arbítrio para compor a
trajetória de sua encarnação, pois Deus não lhe concedeu a inteligência e o
entendimento para que não os utilizasse.
Existem acontecimentos na vida
atual aos quais o homem não pode furtar-se; são consequências de falhas e
deslizes de passado que necessitam de reajustes; é a aplicação da Lei de Causa
e Efeito e isto explica porque alguns alegam que pedem benefícios a Deus, mas
que nunca são concedidos; o que parece, a princípio, contrariar o ensinamento
de Jesus citado em Marcos 11:24 “O que quer que seja que pedirdes na prece,
crede que obtereis, e vos será concedido”.
Muitas coisas que na vida
presente parecem úteis e essenciais para a felicidade do homem, poderão ser-lhe
prejudiciais e esta é a razão por que elas não lhe são concedidas. Contudo, o
egoísmo e o imediatismo não permitem que ele perceba com exatidão a eficácia da
prece.
Porém, seus efeitos ocorrem
segundo os desígnios divinos: A curto prazo na medida em que consola, alivia os
sofrimentos, reanima e encoraja; a médio e longo prazo porque pelo pensamento
edificante dá-se a aproximação das forças do bem a restaurar as energias de
quem ora.
Àquele que pede, Deus está
sempre pronto a conceder-lhe a coragem, a paciência, a resignação para
enfrentar as dificuldades e os dissabores inerentes à natureza humana, com ideias
que lhes são sugeridas pelos Espíritos benfeitores, deixando-nos contudo o
mérito da ação, e isto porque não se deve ficar ocioso à espera de um milagre,
pois a Providencia Divina sempre ampara os que se ajudam a si mesmos, como
asseverou o Mestre: “Ajuda-te e o céu te ajudará” (ESE, Cap. 27, item 7).
Portanto, de tudo o que foi dito
anteriormente, podemos concluir que a eficácia da prece está na dependência da
renovação íntima do homem, em que deve prevalecer a linguagem do amor, do
perdão e da humildade para que ele possa assim, de coração liberto de
sentimentos negativos, agradecer a Deus a dádiva da vida.
“Vigiai e Orai” nos recomendou o
Mestre (Mateus 26:41).
Bibliografia:
·
Curso Básico do
Espiritismo 1º Ano – FEESP.
·
Curso Básico do
Espiritismo 2º Ano – FEESP.
·
O Evangelho
Segundo o Espiritismo – Allan Kardec.
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