Wellington Balbo
Escrever sobre a morte é dádiva
divina. Dádiva porque a morte não necessita ser encarada como algo ruim na
vida. E foi justamente isto que quis passar ao escrever a obra “Pérolas
Devolvidas”. A morte pode ser vista de forma carinhosa, terna, e podemos
aprender muito com a partida de nossos amores, ou até mesmo quando enfrentarmos
a situação de despedida eminente.
O complicado é que vemos na
morte a destruição, o final, o nunca mais. Entretanto, com as lições da
reencarnação ensinadas pelo Espiritismo passamos a enxergar a morte de forma
natural, como um momento que todos passaremos. Porém, precisamos entender que a
natureza não dá saltos, e passar por alguns estágios é fundamental para a plena
compreensão do tema morte, seja a nossa ou de nossos afetos.
A propósito, há a figura do
luto, que devemos vivenciar em nosso interior para superarmos a dor da perda. O
luto é um processo psicológico, e elaborá-lo significa ultrapassar as suas
fases. Imprescindível passar por esses estágios para o amadurecimento.
Aliás, existe uma ciência que
estuda e nos ensina a olhar a morte com naturalidade. É a Tanatologia, palavra
formada por “Thanatos”, o deus da mitologia grega representante da morte, e
“logos”, que significa conhecimento, estudo.
Um dos grandes pesquisadores
desta ciência em nosso País é o médico Evaldo A. D’Assumpção. Autor e
conferencista renomado, Dr. Evaldo tem mais de 40 livros publicados. Em uma das
suas obras, ele narra os cinco estágios que envolvem uma família ou um
indivíduo para melhor lidar com os assuntos morte e luto.
A primeira fase é a da negação.
Natural negar algo que não se quer. Quando descobrimos que nós – ou um afeto –
estamos com a situação de saúde delicada, vem logo o espanto, e negamos. Não,
isto não pode ser verdade. De forma alguma iria acontecer comigo ou em minha
família.
Ensina o pesquisador ser
prejudicial abortar essa fase. Todos nós precisamos passar por isso, até para
amenizar o impacto causado pela notícia desagradável. Contudo, prejudicial
também é permanecer nesse estágio, porque nele não tomamos decisões e não há
crescimento.
A segunda fase é a da raiva.
Para estar no estágio da raiva já se superou a fase da negação, e admite-se a
questão como algo concreto. São comuns frases assim: Mas, tinha que acontecer
com a minha família? Por que comigo? Não é possível, Deus não existe! Colocar
Deus nessas questões soa um pouco estranho para os familiares religiosos, que
logo virão com conselhos. Entretanto, afirma o Dr. Evaldo, essa fase também é
passageira. E como as emoções estão à flor da pele, o indivíduo irá superar e
passar adiante.
A terceira fase é a da negociação
(barganha). Já passados os períodos da negação e da raiva, entra-se nesse
campo: o de negociar. O indivíduo prestes a deixar esse plano físico faz
promessas, e o Deus negado por ele na fase anterior – raiva – agora será o seu
sustentáculo.
A quarta fase é a da interiorização
(depressão). Quando as outras três estão superadas, o indivíduo inicia um
processo de reflexão sobre as razões da existência humana. No caso da partida
de entes amados, surgem as lembranças, o que foi vivido, momentos marcantes,
sejam bons ou não. Nessa fase de interiorização deve-se ter muito cuidado,
porquanto pode lançar-nos ao estágio da raiva, caso recordamos de coisas que
falamos e não deveríamos ter dito a eles, ou de situações em que poderíamos ter
feito algo a mais e não fizemos.
A quinta e última fase é a da aceitação.
A aceitação é vivida pelas pessoas que passaram por todas as outras fases e
souberam compreendê-las, mesmo a custo de lágrimas e sofrimentos. Essa fase
celebra a vitória de nós mesmos. É o entendimento de que há coisas na vida que
nos escapam ao alcance, pois insondáveis são os desígnios de Deus.
Muito longe de ser uma prostração,
trata-se de resignação ativa, que compreende o que pode e o que não pode ser
mudado. E, a partir daí, prossegue o seu caminho, trabalhando sempre. Aqui ou
além…
Cenas retiradas do filme: Cazuza - O tempo não para.
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