segunda-feira, 7 de março de 2016

Reflexões oportunas[1]



Manuel Vianna de Carvalho[2]

 
A sociedade terrestre alcançou, na atualidade, os mais altos níveis de ciência e tecnologia, decifrando inúmeros enigmas do macro ao microcosmo.
As doutrinas médicas vêm conseguindo debelar enfermidades pandêmicas destruidoras de milhões de vidas, enquanto a tecnologia de ponta elimina as distâncias, facilita as comunicações e a locomoção, ensejando melhor compreensão das culturas diversas e mais fácil aprendizagem sobre as avançadas aquisições da inteligência.
Pântanos e desertos têm sido transformados em jardim e pomares que embelezam a Terra e facilitam o convívio humano.
Nada obstante, o ser contemporâneo encontra-se faminto de luz espiritual, de amor fraternal e de paz interior.
Em consequência, aumentam os índices de criminalidade, do abandono, do desrespeito aos direitos humanos, das massas em revoluções contínuas, inquietas e dominadas por sofrimentos inenarráveis punidas com severidade, assim como alarmantes desmandos morais, sociais, religiosos, políticos e administrativos…
Homens e mulheres que assumiram a responsabilidade pela condução dos povos, com exceções consideráveis, arruínam as nações que governam dominados pelo egoísmo, pelas ambições desmedidas que os induzem a condutas reprováveis e criminosas, constituindo-se exemplos de malversação dos recursos públicos mediante comportamentos vergonhosos.
Os vícios campeiam ao lado da violência urbana, que culmina em revoluções coletivas, tentando desapear do poder governos arbitrários que os usurpam, e pretendem neles eternizarem-se, inescrupulosos e servis às paixões subalternas que os dominam.
Isto, naturalmente, como resultado da perda da identidade moral em torno da responsabilidade pessoal, da desconsideração aos princípios ético-morais que devem viger no indivíduo, tanto quanto na sociedade. Falhando, no primeiro, inevitavelmente desaparece na segunda.
Vive-se o momento de inadiável necessidade de retornar-se aos valores estabelecidos pela cultura, pela civilização, pelo Evangelho de Jesus – o mais extraordinário código de ética da Humanidade em todos os tempos – a fim de construir-se um mundo melhor, iniciando-se no cidadão transformado pelo bem.
Nenhuma legislação terrestre pode alcançar esse mister, porque é da natureza íntima de cada um, intransferível, já que nada de fora pode alterar a consciência e o comportamento interior do ser humano.
Somente o esclarecimento em torno de suas responsabilidades morais e sociais, particularmente as que dizem respeito à sua realidade de Espírito Imortal, pode realizar o processo de transformação interior para melhor, como clara consciência do que lhe cabe realizar como dever, a fim de fruir dos decorrentes direitos que lhe dizem respeito.
O ser humano ainda permanece um enigma para ele próprio, mas somente através da introspecção orientada com segurança conseguirá decifrar-se por conhecer-se na intimidade, nas raízes existenciais do imenso caminho reencarnacionista, propondo-se à autoiluminação e ao serviço de solidariedade em relação ao seu próximo.
Um ser iluminado é um campeão de conquistas valiosas, que se transforma em farol humano apontando as penedias no oceano existencial.
Para lográ-lo, torna-se impostergável o dever de trabalhar-se intimamente, a fim de descobrir-se, identificando de onde vem, para onde vai e qual o sentido objetivo que lhe deve direcionar o comportamento, a fim de prosseguir no rumo da imortalidade vitoriosa.
O Espiritismo é a ciência ainda não conhecida quanto deveria, que dispõe dos mais seguros instrumentos que facultam a análise e o autoconhecimento humano, aliada a uma filosofia otimista, rica de elucidações profundas que deságuam nos luminosos conceitos de ordem moral de efeito religioso…
O seu estudo consciente e sério liberta o ser humano da ignorância em torno da existência, enquanto o enriquece de sabedoria, a fim de conduzir-se com segurança, experimentando a plenitude – meta de toda a existência.
Conhecê-lo profundamente é o grande desafio que a todos aguarda.
Desse modo, aos militares espíritas, que são educados na severa disciplina dos códigos legais, para servir à Pátria, cabe a grande tarefa de aliar os conhecimentos da estratégia bélica e daqueloutra pacífica, às lições do Embaixador da Paz no mundo, que veio para servir e doou-se, tornando-se exemplo do mesmo, os inolvidáveis servidores Maurício e à sua legião tebana, que matar, mesmo quando legalmente, é um crime perante as Leis Cósmicas, sendo mais importante salvar e pacificar para melhor conquistar aquele que se lhe torna inimigo…
Todo inimigo é alguém que perdeu o endereço de si mesmo, e, por consequência, teme os outros, deles fugindo através do conflito da agressividade mental, emocional, política e social.
A compaixão para com ele e a educação para com todos são os recursos psicoterapêuticos mais valiosos, a fim de dar-lhes sentido e significado psicológico e espiritual à existência que atravessa a noite escura da alma, perdidos em si mesmos.
Congratulando-nos com os companheiros de lutas terrestres e servidores militares pelo transcurso do septuagésimo aniversário da Cruzada dos Militares Espíritas, exora o amparo e as bênçãos de Jesus para todos nós, de ambos os planos da vida, o companheiro e amigo de lides espíritas e militares.


[1] Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na tarde de 12 de maio de 2014, na cidade de Bruxelas, Bélgica.
[2] Nascido na cidade de Icó, Estado do Ceará, aos 10 de dezembro de 1874, era filho do professor Tomás Antônio de Carvalho e de D. Josefa Viana de Carvalho. Desencarnou a bordo do navio "Íris", sendo o seu corpo sepultado na Bahia, aparentemente em Salvador. Era o dia 13 de outubro de 1926. Numa época quando a divulgação da Doutrina Espírita ensaiava os seus primeiros passos e encontrava pela frente a mais obstinada oposição, o Major Dr. Manuel Vianna de Carvalho, com pulso firme e animado do mais vivo idealismo, desbravava o terreno para nele lançar a semente generosa da propaganda.

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