Jorge Hessen - E-Mail: jorgehessen@gmail.com - Site: http://jorgehessen.net
Historicamente, o patriarcado
ancestral tem dominado a trajetória do cristianismo. A exemplo de Deus, o “Pai”
e não Mãe, Criador e não Criadora, passando pelos 12 apóstolos e não apóstolas,
e culminando com Jesus, Filho e não filha. Curiosamente, contudo, são as
mulheres que não só participaram, como protagonizaram boa parte dos momentos
cruciais da vida de Cristo.
Foi no encontro com Maria que
Isabel confirmou o projeto divino à prima, ao anunciá-la como bendita entre as
mulheres, além de bendizer o fruto de seu ventre. “Isabel, idosa e estéril, mas
grávida de João Batista, representaria o passado que abre caminho e dá as boas
vindas ao novo, que é Maria, jovem e grávida de Jesus [3]”
.
Maria de Magdala (Madalena), que
foi libertada de sete algozes espirituais (desobsidiada) por Jesus passou a
segui-Lo e se tornou importante no ministério cristão. A mais poderosa das
demonstrações de confiança do Mestre Jesus em Madalena, e, por extensão, nas
mulheres, foi o fato de tê-la escolhido para ser a primeira testemunha de seu
ressurgimento após a crucificação. A história de outras duas mulheres próximas
de Jesus no Evangelho é exemplo disso. Marta e Maria, irmãs de Lázaro, têm dois
episódios marcantes junto ao Messias.
A importância das mulheres,
aliada ao fato de que muitas não foram identificadas, alimentou um verdadeiro
aluvião de lendas sobre o papel que elas tiveram nos momentos apoteóticos do
Evangelho. O certo é que o legado feminino deixado pelas mulheres
contemporâneas de Jesus tem valor inestimável. Os relatos de Mateus, Marcos,
Lucas e João, compilados entre os anos 30 d.C. e 80 d.C., dão enorme
importância à presença feminina na Boa Nova.
É fato! O Cristianismo primitivo
foi o primeiro movimento histórico que tentou dar à mulher uma condição de
"status" social igual à do homem. Mas com o passar dos anos, o
movimento cristão fragmentou-se, e a única vertente que sobreviveu e cresceu
sobre a função social da mulher foi a interpretação de Paulo de Tarso, o
“Convertido de Damasco”.
O “Apóstolo dos Gentios” era
formado no rígido patriarcalismo da lei judaica, mesmo tendo realizado
profundas transformações morais com relação aos costumes e tradições legados de
sua estirpe racial. Ainda assim, após sua conversão, não superou alguns de seus
costumes cristalizados, sobretudo em referência às mulheres.
Comprovam sua rigidez em relação
a elas as suas missivas a Timóteo: "Não permito à mulher que ensine, nem
se arrogue autoridade sobre o homem, mas permaneça em silêncio, com espírito de
submissão [4]".
Ou ainda aos cristãos de Corinto, quando prescreve "Se desejam instruir-se
sobre algum ponto, perguntem aos maridos em casa; não é conveniente que a
mulher fale nas assembleias [5]".
E aos Colossenses, admoesta: "mulheres, sejam submissas a seus maridos,
pois assim convém a mulheres cristãs [6]".
Percebe-se, sem muito esforço de
interpretação, que o apóstolo de Tarso não assimilou, na prática, que a
liberdade de consciência que ele apregoava envolvia também os anseios femininos
– distorção que o Espiritismo corrigiu , desautorizando qualquer ideia de
rebaixamento da mulher em relação ao homem e vice-versa.
Em verdade, a mulher é
exponencial referência do equilíbrio definitivo do Planeta. Cabe a ela influir
decisivamente sobre os seres que reencarnam, transmitindo-lhes a primeira noção
da vida. Sabemos que "homem e mulher são iguais perante Deus e têm os
mesmos direitos porque a ambos foi outorgada a inteligência do bem e do mal e a
faculdade de progredir [7]".
Não existem sexos opostos, mas complementares.
“Em pleno século XXI, temos um
cristianismo que, no que diz respeito às mulheres, ainda está na Idade Média [8]”.
Portanto, nada mais justo que a luta pela causa de maior liberdade e direito
para a mulher. Afinal, na Ordem Divina não há distinção entre os dois seres.
Mas, obviamente, urge muita cautela. Os movimentos feministas, não obstante
tenham seu valor, costumam cair no radicalismo, querendo fazer da participação
natural uma imposição. Muitas vezes, em seus intuitos, ao lado de
compreensíveis pleitos, enunciam propósitos que fariam da mulher não mais
mulher, mas imitação ridícula e imperfeita do homem.
Jamais podemos deixar de lembrar
das irmãs Fox, Florence Cook, e das jovens senhoritas que colaboraram
intensamente com Kardec na qualidade de médiuns. Segundo informações
históricas, as corajosas vanguardeiras da mediunidade chamavam-se Julie Baudin,
Caroline Baudin, Ruth Japhet e Aline Carlotti. As duas primeiras psicografaram
a quase totalidade das questões de O
Livro dos Espíritos nas reuniões familiares dirigidas por seus pais e
assistidas pelo Codificador [9]. Ruth foi a medianeira responsável pela
revisão completa do texto, incluindo adições [10].
Aline fez parte do grupo de médiuns através do qual Kardec referendou as
questões mais espinhosas do livro, fazendo uso da concordância dos ensinos
(CUEE – Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos) [11].
Atualmente, embora as mulheres
ainda não usufruam do prestígio e reconhecimento que tinham nos tempos de
Cristo, a força das histórias daquelas que viveram a fé de forma plena, por
meio de atos e palavras, deixou sua marca e continua estimulando mudanças estruturais.
No século XIX, se o Consolador Prometido não contasse com a mão-de-obra, com a
grandeza, com a persistência e com a moralidade feminina, certamente a Doutrina
Espírita inexistiria.
[2] Revista IstoÉ, edição nº 2146 de 22.dez.2010
[3] idem
[4] I Tim. 2, 9-13
[5] Coríntios 14, 34-35
[6] Colossenses 3: 18
[7] Kardec, Allan. O Livro
dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 2001 pergs. 817 a 822
[8] Revista IstoÉ, edição nº 2146 de 22.dez.2010
[9] Revista
Espírita, 1858, jan. p.35, Edicel
[10] idem
[11] Kardec cita essa última checagem em Obras Póstumas, p.270 (26ªedição da FEB).Aline
era filha de Sr. Carlotti, um dos iniciadores de Rivail nas coisas do invisível.
Em Obras Póstumas há uma mensagem do
Espírito de Verdade, recebida pela Srta.Carlotti (pag.281, da edição
citada).mais detalhes sobre o principio da verificação universal podem ser
encontrados na introdução (II) do Evagelho.Segundo
o Espiritismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário