quarta-feira, 9 de março de 2016

A relação entre a alma dos animais e o homem[1]


 

Fernando Porto
 

Iniciamos o nosso artigo com duas perguntas fundamentais: os animais têm o mesmo status do homem perante Deus? Qual a finalidade da existência dos animais no Universo, particularmente em nosso planeta?
Há uma unidade indissociável na ordem da Criação, disso não podemos duvidar. Cada ser vivente tem um papel fundamental na natureza, porque não poderíamos imaginar que Deus criasse algo apenas para o nosso deleite contemplativo.
Em uma das mais famosas e profundas proposições da Doutrina Espírita, apresentada na questão 540ª. de O Livro dos Espíritos, aprendemos que “tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou pelo átomo".
Podemos depreender das teses expostas no capítulo XI, da segunda parte, da obra citada, que há uma ligação entre todos os seres, através de uma longa cadeia do processo evolutivo, o que nos leva a concluir que a alma dos animais e a alma humana tiveram uma origem comum.
O ensinamento dos Espíritos superiores esclarece que, somente ao Espírito humano, Deus destinou a possibilidade de adorá-Lo e conhecê-Lo, e é a lei de progresso que impulsiona o ser humano a se aproximar Dele. Os animais, a saber, as diferentes espécies de nosso globo, não estão submetidos a esta mesma lei. Podemos afirmar que o princípio inteligente que habitou estas espécies evolui e, por sua vez, possibilita o surgimento de outras espécies mais avançadas.
Se, enquanto espécie não progride como o ser humano, qual à sua finalidade na harmonia da Criação? Conforme as palavras do Espírito Erasto, no item 236ª. de O Livro dos Médiuns, “Deus colocou os animais ao vosso lado como auxiliares, para vos alimentarem, para vos vestirem e vos ajudarem. (…) Tais como foram criados, se conservaram e se conservarão até a extinção das raças".
Observamos que a relação de convivência entre os animais e o homem tem variado em função de aspectos culturais e sociais, ao longo dos séculos. Nos primórdios, algumas espécies animais eram rivais do homem na procura pelos alimentos ou companhia indispensável para a sobrevivência dos agrupamentos humanos.
A partir de determinadas características que se destacavam, como força, astúcia ou pureza, muitos animais foram elevados à condição do sagrado, ora sua presença apontada como bom ou mau augúrio dos deuses.
Mais recentemente, em nossa sociedade contemporânea, constituída por uma exacerbação do individualismo, os animais de estimação estão ocupando um espaço em nosso ambiente doméstico muito especial, muitas vezes aplacando as angústias da solidão da vida nas grande cidades. Muitos deles atingiram um status equivalente a membro da família, recebendo por certo mais consideração e atenção do que um parente indesejado.
E aqui cabe uma reflexão muito oportuna: não estaríamos promovendo uma inversão de valores, em razão de nossos conflitos emocionais? Precisamos ter cuidado para, em razão de nossas carências, não venhamos a sujeitar os nossos irmãos em estágio evolutivo inferior aos nossos caprichos pessoais, sob o pretexto de “respeito aos animais”.
Respeitar a Criação de Deus, é buscar compreender seu propósito e trabalhar para que os fins da obra divina atinjam o seu objetivo, procurando cumprir os desígnios do Criador na esfera de ação em que nos situamos, individual e coletivamente.
O ser humano mais desprezível, segundo nosso limitado ponto de vista, é muito mais importante que o animalzinho mais belo e adorável. Por mais chocante que possa parecer esta afirmativa, vejamos os argumentos que nos comprovam sua veracidade.
Todo Espírito individualizado, na escala evolutiva do ser humano, foi dotado por Deus do potencial da perfectibilidade! Isso significa que não podemos analisar as pessoas pela condição em que se encontram, mas naquilo a que estão destinadas a se transformarem! Segundo a questão 603ª., de O Livro dos Espíritos, para o animal, mesmo aquele que habita um mundo superior, o homem é um deus, tamanha é a distância evolutiva entre eles.
O que diferencia o Espírito do homem da alma dos animais, é que aquele possui a consciência de si mesmo, e foi dotado de livre-arbítrio por Deus. A liberdade de escolha do homem provém de sua consciência moral, da compreensão de sua mortalidade, e da intuição de sua imortalidade.
O animal, enquanto espécie, não está subordinado à lei do progresso, e portanto, não está sujeito à expiação, este é um ponto fundamental. A dor é uma lei natural presente nos mundos da categoria da Terra. Quando um animal morre, ele não passa pelo processo de desencarnação como nós humanos, nos quais o apego à matéria, os vícios e faltas cometidas implicam em uma perturbação mais ou menos longa.
É claro que o animal não é uma máquina, possui emoções e inteligência em desenvolvimento, em conformidade com as necessidades da vida material a que estão subordinados pelo determinismo biológico e do instinto. É somente aí que reside, de fato, sua liberdade.
Se os nossos bichinhos de estimação muitas vezes parecem tanto com os seres humanos, isto se deve à estreita convivência conosco. E isto nos cativa, a sua afabilidade e fidelidade irrestritas, independentes de quaisquer circunstâncias. Esta é uma benção de Deus, não há dúvida!
Cabe, no entanto, um último apontamento indispensável: o animal foi feito para o homem e não o contrário! Respeitar e cuidar dos seres inferiores da Criação são nosso dever, sem distorções de comportamento que impliquem em desvios de nossa marcha evolutiva.
O propósito fundamental do Espiritismo é a evolução intelecto-moral do homem para Deus, e se os animais podem ser treinados ou mesmo adestrados, à Doutrina Espírita cabe à grande obra de educação da humanidade rumo a um mundo melhor.
 
Bibliografia.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2013.
____________. O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2013.
____________. A gênese. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2013.


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