Fernando Porto
Iniciamos o nosso artigo com
duas perguntas fundamentais: os animais têm o mesmo status do homem perante
Deus? Qual a finalidade da existência dos animais no Universo, particularmente
em nosso planeta?
Há uma unidade indissociável na
ordem da Criação, disso não podemos duvidar. Cada ser vivente tem um papel
fundamental na natureza, porque não poderíamos imaginar que Deus criasse algo
apenas para o nosso deleite contemplativo.
Em uma das mais famosas e
profundas proposições da Doutrina Espírita, apresentada na questão 540ª. de O Livro dos Espíritos, aprendemos que
“tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que
também começou pelo átomo".
Podemos depreender das teses
expostas no capítulo XI, da segunda parte, da obra citada, que há uma ligação
entre todos os seres, através de uma longa cadeia do processo evolutivo, o que
nos leva a concluir que a alma dos animais e a alma humana tiveram uma origem
comum.
O ensinamento dos Espíritos
superiores esclarece que, somente ao Espírito humano, Deus destinou a
possibilidade de adorá-Lo e conhecê-Lo, e é a lei de progresso que impulsiona o
ser humano a se aproximar Dele. Os animais, a saber, as diferentes espécies de
nosso globo, não estão submetidos a esta mesma lei. Podemos afirmar que o
princípio inteligente que habitou estas espécies evolui e, por sua vez,
possibilita o surgimento de outras espécies mais avançadas.
Se, enquanto espécie não
progride como o ser humano, qual à sua finalidade na harmonia da Criação?
Conforme as palavras do Espírito Erasto, no item 236ª. de O Livro dos Médiuns, “Deus colocou os animais ao vosso lado como
auxiliares, para vos alimentarem, para vos vestirem e vos ajudarem. (…) Tais
como foram criados, se conservaram e se conservarão até a extinção das
raças".
Observamos que a relação de
convivência entre os animais e o homem tem variado em função de aspectos
culturais e sociais, ao longo dos séculos. Nos primórdios, algumas espécies
animais eram rivais do homem na procura pelos alimentos ou companhia
indispensável para a sobrevivência dos agrupamentos humanos.
A partir de determinadas
características que se destacavam, como força, astúcia ou pureza, muitos
animais foram elevados à condição do sagrado, ora sua presença apontada como
bom ou mau augúrio dos deuses.
Mais recentemente, em nossa
sociedade contemporânea, constituída por uma exacerbação do individualismo, os
animais de estimação estão ocupando um espaço em nosso ambiente doméstico muito
especial, muitas vezes aplacando as angústias da solidão da vida nas grande
cidades. Muitos deles atingiram um status equivalente a membro da família,
recebendo por certo mais consideração e atenção do que um parente indesejado.
E aqui cabe uma reflexão muito
oportuna: não estaríamos promovendo uma inversão de valores, em razão de nossos
conflitos emocionais? Precisamos ter cuidado para, em razão de nossas
carências, não venhamos a sujeitar os nossos irmãos em estágio evolutivo
inferior aos nossos caprichos pessoais, sob o pretexto de “respeito aos
animais”.
Respeitar a Criação de Deus, é
buscar compreender seu propósito e trabalhar para que os fins da obra divina
atinjam o seu objetivo, procurando cumprir os desígnios do Criador na esfera de
ação em que nos situamos, individual e coletivamente.
O ser humano mais desprezível,
segundo nosso limitado ponto de vista, é muito mais importante que o
animalzinho mais belo e adorável. Por mais chocante que possa parecer esta
afirmativa, vejamos os argumentos que nos comprovam sua veracidade.
Todo Espírito individualizado,
na escala evolutiva do ser humano, foi dotado por Deus do potencial da
perfectibilidade! Isso significa que não podemos analisar as pessoas pela
condição em que se encontram, mas naquilo a que estão destinadas a se
transformarem! Segundo a questão 603ª., de O
Livro dos Espíritos, para o animal, mesmo aquele que habita um mundo
superior, o homem é um deus, tamanha é a distância evolutiva entre eles.
O que diferencia o Espírito do
homem da alma dos animais, é que aquele possui a consciência de si mesmo, e foi
dotado de livre-arbítrio por Deus. A liberdade de escolha do homem provém de
sua consciência moral, da compreensão de sua mortalidade, e da intuição de sua
imortalidade.
O animal, enquanto espécie, não
está subordinado à lei do progresso, e portanto, não está sujeito à expiação,
este é um ponto fundamental. A dor é uma lei natural presente nos mundos da
categoria da Terra. Quando um animal morre, ele não passa pelo processo de
desencarnação como nós humanos, nos quais o apego à matéria, os vícios e faltas
cometidas implicam em uma perturbação mais ou menos longa.
É claro que o animal não é uma
máquina, possui emoções e inteligência em desenvolvimento, em conformidade com
as necessidades da vida material a que estão subordinados pelo determinismo
biológico e do instinto. É somente aí que reside, de fato, sua liberdade.
Se os nossos bichinhos de
estimação muitas vezes parecem tanto com os seres humanos, isto se deve à
estreita convivência conosco. E isto nos cativa, a sua afabilidade e fidelidade
irrestritas, independentes de quaisquer circunstâncias. Esta é uma benção de
Deus, não há dúvida!
Cabe, no entanto, um último
apontamento indispensável: o animal foi feito para o homem e não o contrário!
Respeitar e cuidar dos seres inferiores da Criação são nosso dever, sem
distorções de comportamento que impliquem em desvios de nossa marcha evolutiva.
O propósito fundamental do
Espiritismo é a evolução intelecto-moral do homem para Deus, e se os animais
podem ser treinados ou mesmo adestrados, à Doutrina Espírita cabe à grande obra
de educação da humanidade rumo a um mundo melhor.
Bibliografia.
KARDEC, Allan. O livro dos
espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2013.
____________. O livro dos
médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2013.
____________. A gênese. Trad.
Evandro Noleto Bezerra. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2013.
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