segunda-feira, 28 de março de 2016

A prece nas reuniões espíritas[1]


 

Nos primórdios do Espiritismo não era comum orar na abertura das reuniões espíritas. Não sabemos ao certo quando a prática da oração passou a fazer parte das sessões práticas, mas não é possível ignorar que o Espírito de Santo Agostinho foi um dos primeiros Espíritos, senão o primeiro, a sugeri-la.

No cap. XXXI de O Livro dos Médiuns, no subcapítulo intitulado “Sobre as Sociedades Espíritas”, Kardec tratou do assunto, ao inserir ali importante mensagem assinada por Santo Agostinho.

Eis o teor da mensagem:

“Por que não começais as vossas sessões por uma invocação geral, uma como prece, que disponha ao recolhimento”? Porque, ficai sabendo, sem o recolhimento, só tereis comunicações levianas; os bons Espíritos só vão aonde os chamam com fervor e sinceridade. É o que ainda os homens não compreendem bastante. Cabe-vos, pois, dar o exemplo, vós que, se o quiserdes, podereis tornar-vos uma das colunas do novo edifício.

Observamos com prazer os vossos trabalhos e vos ajudamos, porém, sob a condição de que também, de vosso lado, nos secundeis e vos mostreis à altura da missão que fostes chamados a desempenhar.

Formai, portanto, um feixe e sereis fortes e os maus Espíritos não prevalecerão contra vós. Deus ama os simples de espírito, o que não quer dizer os tolos, mas os que se renunciam a si mesmos e que, sem orgulho, para ele se encaminham.

Podeis tornar-vos um foco de luz para a humanidade. Sabei, logo, distinguir o joio do trigo; semeai unicamente o bom grão e preservai-vos de espalhar o joio, por isso que este impedirá que aquele germine e sereis responsáveis por todo o mal que daí resulte; de igual modo, sereis responsáveis pelas doutrinas más que porventura propagueis.

Lembrai-vos de que um dia pode vir em que o mundo tenha postos sobre vós os olhos. Fazei, conseguintemente, que nada empane o brilho das boas coisas que saírem do vosso seio. “Por isso é que vos recomendamos pedirdes a Deus que vos assista”.

Segundo Kardec, solicitado a ditar uma fórmula de invocação geral, Santo Agostinho respondeu:

“Sabeis que não há fórmula absoluta. Deus é infinitamente grande para dar mais importância às palavras do que ao pensamento. Ora, não creiais baste pronuncieis algumas palavras, para que os maus Espíritos se afastem. Fugi, sobretudo, de vos servirdes de uma dessas fórmulas banais que se recitam por desencargo de consciência. Sua eficácia reside na sinceridade do sentimento que a dita; está, sobretudo, na unanimidade da intenção, porquanto aquele que se lhe não associe de coração não poderá beneficiar-se dela, nem fazer que os outros se beneficiem. Redigi-a, pois, vós mesmos e submetei-me, se quiserdes. Eu vos ajudarei.”

Hoje, passados 152 anos desde a publicação de O Livro dos Médiuns, não é difícil compreender o motivo da recomendação acima transcrita, visto que o valor da oração e do pensamento elevado é algo bem conhecido no meio espírita.

Com efeito, diz-nos André Luiz ("Missionários da Luz", cap. 5): "A prece, a meditação elevada, o pensamento edificante refundem a atmosfera, purificando-a". "O pensamento elevado santifica a atmosfera em torno e possui propriedades elétricas que o homem comum está longe de imaginar".

Corroborando esse entendimento, Emmanuel informa ("Pensamento e Vida", cap. 2 e 26): "A prece impulsiona as recônditas energias do coração, libertando-as com as imagens de nosso desejo, por intermédio da força viva e plasticizante do pensamento, imagens essas que, ascendendo às Esferas Superiores, tocam as inteligências visíveis ou invisíveis que nos rodeiam, pelas quais comumente recebemos as respostas do Plano Divino".

Não foi, pois, sem razão que Kardec estabeleceu que a prece não deve faltar nas reuniões espíritas sérias, aquelas em que sinceramente se deseja o concurso dos bons Espíritos, devendo ser dita tanto no início quanto no término da reunião, orientação que ele consignou em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVIII, itens 4 a 7. 

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