Jaider Rodrigues de Paulo
(Médico Psiquiatra)
Para a medicina tradicional, uma
questão genética, complexa, que pode ser, talvez, causada por alterações
químicas no cérebro. E que, apesar de tantos estudos, ainda não se sabe ao
certo a causa deles. Mas para os médicos espíritas, os transtornos mentais têm,
sim, explicações. Essa área da medicina, inclusive, é a que mais se distancia
da medicina tradicional. Questões emocionais desta e de outras vidas entram em
jogo. "O transtorno mental é um resquício do passado", define o
presidente da Associação Mineira dos Médicos Espíritas, Andrei Moreira,
apontando aí as vidas passadas como ponto de partida para essa discussão.
Uma vez que as interpretações
para os males mentais são diferentes para os médicos espíritas, na série do
Estado de Minas, “A saúde à luz do espiritismo”, que começou ontem, o tema a
ser tratado nesta segunda reportagem é referente a essas explicações sobre os
males da mente. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, as doenças
mentais e neurológicas atingem aproximadamente 700 milhões de pessoas no mundo.
No Brasil, estima-se que 23 milhões de pessoas precisam de algum atendimento em
saúde mental. Pelo menos 5 milhões sofrem com transtornos graves e
persistentes.
Segundo o psiquiatra e
diretor-técnico do Hospital André Luiz, Roberto Lúcio Vieira, a psiquiatria é a
área da medicina em que os ensinamentos espíritas mais conseguem aparecer. Isso
porque, segundo ele, além de levar em consideração questões genéticas, assim
como a medicina tradicional, os médicos espíritas, diante de um paciente com
transtorno mental grave, levam em conta as vidas passadas. "O adoecer é o
caminho para cura. Temos percebido que muitos males, como os quadros graves de
esquizofrenia, geralmente são de espíritos que, em outras vidas, abusaram muito
do poder que tinham, cometeram homicídios ou tentaram o suicídio várias vezes.
Quando eles adoecem nesta vida, é porque bateu a culpa da vida anterior",
explica Roberto.
Também membro da Associação
Mineira Médico Espírita, Roberto, em um artigo escrito no portal da entidade,
diz que a doutrina espírita tem mostrado que os processos mentais seriam frutos
da atividade espiritual, com repercussão na estrutura física cerebral.
"Sendo assim, o cérebro seria apenas o instrumento. No entanto, para
ocorrer essa integração entre a essência espiritual, sua manifestação e a
estrutura física, é necessária a existência de um elemento que seja
intermediário, tanto na função quanto em sua composição. Esse corpo é chamado
espiritual ou perispírito", define.
MATÉRIA
O perispírito, de acordo com o
conhecimento espírita, é envoltório fluídico que uniria a alma humana ao corpo
físico e, através do qual, o espírito atuaria na matéria. Mas, antes de mais
nada, é preciso compreender que, para o espiritismo, somos seres em constante
evolução e estar encarnado é o processo para evoluir. No livro a Cura e Auto-Cura, uma visão médico
espírita, do homeopata Andrei Moreira, ele explica que a reencarnação é a lei
biológica natural, "instrumento da evolução, em que o ser experimenta o
contato com a diversidade e desenvolve aptidões necessárias ao progresso."
Ele diz que a reencarnação devolve ao homem o fruto de suas escolhas, "em
mecanismos naturais de reencontros, saúde ou doença".
O médico psiquiatra Jaider
Rodrigues diz que usa recursos da ciência acrescidos da compreensão espírita no
tratamento dos pacientes (Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Segundo explica o psiquiatra
espírita Jaider Rodrigues, o paciente da psiquiatria é visto por dois viés:
"Levamos em conta a influência espiritual, que pode ser do próprio
paciente, ou seja, questões do próprio espírito e, também, as influências
externas, que podem ser de outros espíritos que passam a influenciar no quadro
mental do paciente", explica, acrescentando que todos os casos são
passivos de auxílio. "Usamos os recursos da ciência, acrescidos da
compreensão espírita."
Jaider lembra do caso de uma
paciente que lhe chamou a atenção. Muito bonita e, com no máximo 30 anos, essa
mulher, de BH, desenvolveu um quadro de esquizofrenia grave, sem motivo
aparente. "Ela entrou em um quadro psicótico e tivemos que interná-la no
Hospital André Luiz, pois estava agressiva, falava coisas sem sentido. Durante
as sessões mediúnicas que fazemos para os pacientes, apareceu um espírito
dizendo ter sido escravo na vida anterior e contou que aquela mulher, na sua
última vida, tinha sido casada com um senhor de engenho e abusava muito dos
escravos, com requinte de crueldade. Nesta vida, esses espíritos a
perturbaram", conta, dizendo que o espírito avisou ainda que seria difícil
livrá-la dessas influências externas, e que por mais que os médicos fizessem,
nada ia adiantar. "Por um tempo, ela conseguiu melhorar. Mas não durou
muito e faleceu", lamenta Jaider. Processo de evolução.
Geralmente, os transtornos
quando se manifestam, é a culpa do que se fez em outra vida, como apontam os
estudos espíritas. Mas, de acordo com os médicos, não se trata de um castigo
divino. Faz parte do processo de evolução daquele espírito. Ouvir vozes, de acordo
com Jaider, pode ser, sim, um espírito falando. A obsessão, de acordo com o
precursor do espiritismo, Alan Kardec, é a ação persistente que um espírito mau
exerce sobre um indivíduo. "Apresenta caracteres muito diversos, desde a
simples influência moral sem perceptíveis sinais exteriores até a perturbação
completa do organismo e das faculdades mentais", diz em seu livro, O Evangelho segundo o Espiritismo. Ele
diz que a obsessão ocorrerá toda vez que alguém, encarnado ou desencarnado,
exercer sobre o outro constrição mental negativa.
De acordo com Kardec, há vários
tipos de obsessão, sendo o mais grave o de subjugação, em que o obsessor
interfere e domina o cérebro do encarnado. A subjugação pode ser psíquica,
física ou fisiopsíquica. Assim, as doenças mentais ou físicas podem, sim, de
acordo com o conhecimento espírita, sofrer influências externas. Um dos
tratamentos indicados são os passes, idas ao centro espírita e sessões de
desobsessão, em que os médicos médiuns ajudam os espíritos desencarnados e
encarnados envolvidos no processo a receber esclarecimentos, para que ambos
tenham bases sólidas para mudar hábitos e atitudes, condicionando-se a atitudes
mentais mais saudáveis. Segundo escreveu Francisco Cândido Xavier, ao
psicografar a obra de André Luiz, Mundo Maior,
"o processo obsessivo não é, na realidade, uma doença, é simplesmente um
reflexo de mentes doentias que se unem. Ele não é uma causa, é o efeito de um
'mal' anterior".
REBELDES
Nesses casos de transtornos
mentais, além do conhecimento espírita, medicamentos são usados. Kardec
acreditava que somente medicação não traria alívio. No Hospital André Luiz, em
BH, que tem 45 anos de funcionamento, sendo referência para casos psiquiátricos,
os pacientes, de acordo com o diretor, Roberto Lúcio Vieira, são de todas as
crenças, sendo o diferencial da unidade o tratamento espiritual. Segundo ele,
há no hospital 350 funcionários que trabalham voluntariamente. "Com
autorização do paciente ou da família, aplicamos os conhecimentos do
espiritismo." De acordo com ele, algumas doenças psiquiátricas,
geralmente, são de indivíduos mais rebeldes.
É o caso, por exemplo, da
depressão, que afeta cerca de 35 milhões de pessoas no Brasil. "É uma
doença que demarca a grande rebeldia do espírito", diz Roberto. Segundo
Jaider, geralmente, é o espírito não se contentando com a vida que Deus lhe
deu. "É como se dissesse 'já que não tenho a vida que quero, não aceito a
vida que tenho'. Se o paciente der espaço, a gente estimula a relação com Deus
e o hábito da oração", conta. Os pensamentos negativos também contribuem
para o quadro.
Outro mal apontado pelos médicos
é o de Alzheimer. Segundo Roberto, assim como a medicina tradicional vem
tentando entender essa doença que afeta a memória do paciente, o espiritismo
também busca suas explicações. Um dos esclarecimentos para a causa da
enfermidade é que a grande maioria dos portadores da doença foi culturalmente
pobre durante a vida, se prendeu a questões materiais e dificuldades de
relacionamento. "Quando ocorre o Alzheimer, é como se fosse uma
oportunidade para que essa pessoa chegue mais "limpa" espiritualmente
no outro plano. E para os familiares, é uma prova de paciência."
Uma nova visão
•Transtorno mental
Os médicos espíritas passaram a
perceber, por meio de estudos e casos clínicos, que muitos pacientes que
desenvolvem algum transtorno mental sofrem influência da sua vida anterior. No
caso da esquizofrenia grave, por exemplo, tem-se percebido que esses espíritos,
em vidas passadas, cometeram alguma transgressão às leis divinas e, nesta vida,
sentiram o peso da culpa. O paciente pode, sim, sofrer ainda influência de
outros espíritos que tiveram alguma ligação com ele nas outras vidas.
•Mal de Alzheimer
Assim como a medicina
tradicional estuda as causas do Mal do Alzheimer, a doutrina espírita começa a
perceber que as pessoas portadoras do mal, geralmente, foram pessoas apegadas a
bens materiais e muito vaidosas, que precisam do desapego, do "esquecimento",
marca da doença, para evoluir e fazer uma limpeza na alma.
•Depressão
Para os médicos espíritas, a
depressão atinge aqueles espíritos rebeldes, que não estão satisfeitos com a
vida que Deus lhe deu. Assim, se abrem para os pensamentos negativos e as
influências externas que podem contribuir para o agravamento do quadro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário