FÓSSEIS DO FUTURO
Jonathan Amos -
Correspondente de Ciência da BBC News – 08/01/2016
Os pesquisadores, que receberam
a tarefa de definir o chamado "Antropoceno", afirmam que os impactos
do domínio dos seres humanos sobre a Terra será visível em sedimentos e rochas
daqui a milhões de anos.
A escala de tempo geológico
estabelece eones, eras, períodos, épocas e idades que permitem categorizar as
diferentes fases que vão da formação da Terra ao presente.
Segundo a Comissão Internacional
de Estratigrafia (ICS, em inglês), responsável pela definição da escala de
tempo da Terra, estamos, ainda, na época Holocena (iniciada há 11.500 anos).
Atualmente, os cientistas
trabalham para elaborar uma classificação formal da nova época, que dá à
presença humana uma posição mais central na história geológica do planeta.
Uma questão ainda em aberto é
sobre qual seria sua data formal de início, que alguns membros do painel
acreditam que deve ser a década de 1950.
A década marca o início da
"Grande Aceleração", quando a população humana e seu padrão de
consumo acelerou subitamente.
Ela também coincide com a
proliferação dos "tecnomateriais" como alumínio, concreto e plástico
e cobre os anos em que testes de armas termonucleares dispersaram elementos
radioativos por todo o planeta.
Mudanças significativas
O relatório, feito pelo
Antropocene Working Group e publicado na revista Science, não é ainda um
parecer final sobre o assunto. Ele representa uma posição preliminar sobre o
assunto – uma espécie de atualização nas investigações do painel.
Mas a descoberta mais importante
é a de que o impacto da humanidade na Terra deve ser considerado como dominante
e suficientemente distinto para justificar uma classificação separada.
"O trabalho analisa a
magnitude das mudanças que a humanidade provocou no planeta", disse à BBC
o geólogo britânico Colin Waters, que é porta-voz do grupo.
"Será que (estas mudanças)
foram suficientes para alterar significativamente a natureza dos sedimentos
sendo acumulados no presente, e será que são diferentes do que ocorreu na atual
época Holocena, que começou no fim da última era do gelo? Os argumentos nesse
sentido foram apresentados."
"Dentro do grupo – e nós
temos 37 membros – acho que a maioria das pessoas concorda que estamos vivendo
um intervalo que deveríamos chamar de Antropoceno. Ainda há uma certa discussão
sobre isso deveria ser uma unidade formal ou informal, mas gostaríamos de ter
uma definição específica. E a maioria do grupo está inclinada a considerar o
meio do século 20 como o começo dessa nova época."
Depois que o grupo apresentar
suas recomendações finais, caberá à Comissão Internacional sobre Estratigrafia
(ramo da geologia que estuda os estratos ou camadas de rochas) aceitar ou não o
"Antropoceno" como unidade adicional no esquema temporal usado para descrever
os 4,6 bilhões de anos de história do planeta.
No entanto, ainda deve demorar
um pouco para que a famosa tabela cronoestratigráfica, que aparece em livros e
cartazes na escola mostrando os diferentes momentos da Terra, seja reformulada
para a inclusão da nova época.
Se for decidido que a data
inicial do Antropoceno foi o meio do século 20, será preciso justificar a
decisão com amostras de solo, feitas com sondas, que mostram a
"assinatura" do período.
Ela pode incluir, por exemplo,
sedimentos de lagos ou oceanos contendo marcadores de poluição, como partículas
de fuligem produzidas pela queima de combustíveis fósseis.
Estas amostras precisariam
refletir uma marca global, e não apenas local, da atividade humana. Mas elas
podem levar anos para serem coletadas.
Provas 'óbvias'
Materiais modernos como plástico
e alumínio podem resultar em um tipo diferente de fóssil no futuro
"Há uma dificuldade
conceitual de entender que no período de uma vida humana, nossa espécie – que
existe há pouco tempo – mudou profundamente este planeta de bilhões de
anos", disse à BBC a jornalista e escritora britânica Gaia Vince,
comentando o trabalho do grupo de cientistas.
Em 2015, ela tornou-se a
primeira mulher em 30 anos a ganhar o prêmio Winton da Royal Society (a mais
importante sociedade científica britânica) de melhor obra científica por seu
livro Adventures in the Anthropocene (Aventuras no Antropoceno, em tradução
livre), uma espécie de diário de viagem que tenta explicar as enormes mudanças
que têm ocorrido na Terra.
"No entanto, as provas
estão cada vez mais óbvias para todos nós, desde imagens de transformações
globais feitas por satélites passando por extinções locais de borboletas até
nossas experiências com eventos climáticos extremos. No entanto, essa é uma
tarefa difícil e nova para os geologistas. Eles têm que determinar o início de
uma época cuja paleontologia e geologia ainda estão sendo criadas. Ainda não há
uma 'listra' nas camadas de rochas que simboliza o 'Antropoceno'."
"Isso é importante
porque mostra que foi uma evolução na sociedade humana que criou esta mudança
climática planetária – e é a forma como a sociedade humana se desenvolve que
moldará esta nova era por muitas décadas e séculos."
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