Para nós, espíritas, o corpo de
Jesus é a sua Doutrina, que o Espiritismo retoma à sua origem, tirando-lhe o
véu colocado pelos homens, que lhe encobria o entendimento. Disse Jesus:
"A carne (no caso o corpo) para nada presta, o espírito é que vivifica; as
palavras que vos digo são espírito e vida." (João 6:63)
Jesus apareceu em algumas
ocasiões após sua crucificação, conforme relatos do Evangelho e isso não seria
de se duvidar, conforme os testemunhos dos apóstolos e as explicações trazidas
em A Gênese, por Allan Kardec,
transcritas neste estudo.
Ocorre que Jesus, em nosso
entendimento, não voltaria para pedir que fossem feitas celebrações em seu
nome, embora respeitosas, pois isso seria consagrar a letra que mata: o corpo e
o sangue material em detrimento ao corpo doutrinário; os ensinamentos que
representam o alimento espiritual.
Quando Jesus voltou aos
discípulos após a crucificação, propugnou pela divulgação de sua doutrina em
todos os lugares e pelo encorajamento dos discípulos em sua missão e não por
outra motivação.
Se esse fosse realmente o desejo
de Jesus – a celebração do corpo e do sangue, ele o teria dito aos seus
apóstolos antes de sua crucificação ou durante os 40 dias que esteve com eles em
espírito após a crucificação. Voltar 1.200 anos depois para inserir um novo
fato seria como se estivesse deixado algo para trás em sua grandiosa tarefa ou
como se não tivesse instruído adequadamente os seus discípulos.
Mas, isso não tira o valor da
consagração religiosa, do belo e do sentimento de fraternidade próprios dessas
manifestações. A data, como outras, está impregnada de fortes vibrações ao
longo dos séculos, afetando a todos nós. Trás em si esse influxo que é sentido
por todos, até pelos ainda mais apegados às questões materiais.
Sobre o desaparecimento do corpo
de Jesus, muitos buscam explicações e tentam acomodá-las à ciência, como se
esta pudesse endossar a ressurreição da carne. O fato é que os testemunhos dos
apóstolos, discípulos e das mulheres levam a evidências muito fortes do
aparecimento de Jesus depois de crucificado.
Essa questão da visão subjetiva
que muitos cientistas e intelectuais gostam de abordar, entendemos ser parte
dos sofismas que atendem a interesses contra a ressurreição. Provavelmente o Cristianismo
não sobreviveria sem a ressurreição. De um lado alguns negam, pois a
ressurreição seria uma violação às leis naturais; de outro lado alguns tentam
provar a ressurreição lançando mão de habilidades verbais e atributos milagrosos.
Muitas dessas explicações são baseadas na crença de que a ressurreição de Jesus
não poderia ter ocorrido porque ela não é uma experiência que pode ser
repetida. Se mudarmos o paradigma, veremos que a experiência é repetida
incontáveis vezes, com a ressurreição do espírito e não da carne. A
ressurreição da carne não pode ser repetida, pois nunca ocorreu.
Poucos são os que buscam um novo
entendimento, sem ferir a razão, a ciência ou a crença. Dentre estes, estão os
que creem na ressurreição de Jesus em Espírito (Aparição) ou a compreensão
sobre o desaparecimento do corpo de Jesus pela razão, mesmo sem poder afirmá-la
categoricamente, pois a resolução ainda não é assente.
Supondo o desaparecimento pela
desmaterialização, como uma das explicações prováveis, fica a questão da pedra
do sepulcro removida, pois, nessa hipótese, não haveria necessidade da remoção
da pedra. Ocorre que era preciso levar ao mundo a mensagem da ressurreição,
pilar do Cristianismo. Por isso, é de se supor que a iniciativa pelo desaparecimento
do corpo de Jesus é do Alto, dentro da hipótese de um planejamento da passagem
de Jesus pela Terra. O fato da pedra removida e o sepulcro vazio, se fez
necessário para crença geral.
O sepulcro vazio, como atestado
da ressurreição, foi fundamental para a projeção do Cristianismo em Jerusalém e
no mundo. Se os príncipes dos sacerdotes e fariseus tivessem encontrado o corpo
teriam fortalecido a ideia do embuste (Mateus 63/66) e a ressurreição estaria
morta no nascedouro.
OS RELATOS DO
EVANGELHO
Para que os corpos não ficassem
na cruz no dia do sábado seguinte, que era solene para a páscoa dos judeus,
estes pediram a Pilatos que fossem quebradas as pernas dos condenados para
apressar-lhes a morte e os corpos pudessem ser retirados antes do por do sol.
Os soldados quebraram as pernas
dos dois condenados, mas não precisaram fazê-lo com Jesus, pois já estava
morto. Mas um soldado lhe abriu o lado com uma lança, e logo saiu sangue e
água. Esse fato é importante porque Jesus irá aparecer a Tomé e pedirá que Tomé
coloque a mão sobre o ferimento, para que veja e creia (aparição tangível).
JOÃO TESTEMUNHA A MORTE DE JESUS:
"Aquele que viu isto (João)
testificou, sendo verdadeiro o seu testemunho; e ele sabe que diz a verdade,
para que também vós creiais". João com isso, evita que mais tarde suponham
que Jesus pudesse ter sido retirado com vida da cruz.
O SEPULTAMENTO DE JESUS:
Ao cair da tarde, José de
Arimatéia (destacado membro do Sinédrio) foi procurar Pilatos para solicitar
permissão para retirar o corpo de Jesus. Pilatos se admirou que já tivesse
morrido; chamou um centurião que confirmou-lhe que a morte de Jesus já havia
ocorrido. Então Pilatos cedeu o corpo de Jesus a José.
José foi até o local da
crucificação (Calvário) para retirar o corpo. Com ele foi Nicodemos
("Necessário te é nascer de novo..."). Nicodemos levou um composto de
mirras e aloés e, tirando o corpo da cruz, o envolveram em lençóis de linho com
o aroma, como era de uso entre os Judeus na preparação para o sepultamento. No
lugar onde Jesus foi crucificado havia um sepulcro novo, aberto na rocha, onde
ninguém havia sido sepultado (Mateus, 27/60). Esse túmulo era de José de
Arimatéia, segundo Mateus. Ali depositaram o corpo de Jesus e rolaram uma grande
pedra para a entrada do túmulo. As mulheres (Maria, mãe de Jesus e Maria de
Madalena) que tinham vindo da Galileia com Jesus, seguindo, viram o túmulo e
como o corpo fora ali depositado. Então se retiraram para preparar aromas e
bálsamos, que trariam após o sábado.
A GUARDA DO SEPULCRO (Mateus 63/66):
No sábado, reuniram-se os
principais sacerdotes e os fariseus e foram a Pilatos: Senhor, lembramo-nos de
que aquele enganador, enquanto vivia, disse: "Depois de três dias
ressurgirei". Portanto, manda que o sepulcro seja guardado com segurança
até o terceiro dia, para não se dar o caso de que os seus discípulos vão de
noite, o furtem e digam ao povo: "Ressurgiu dentre os mortos". Assim,
o último embuste será pior do que o primeiro. Disse-lhes Pilatos: tendes aí uma
escolta. Ide, guardai-o como bem vos parecer. Indo eles, montaram guarda ao
sepulcro, selando a pedra e deixando ali a escolta.
Os judeus temiam fossem
verdadeiras as palavras de Jesus sobre sua ressurreição. Daí o cuidado em
vigiar o sepulcro. Tinham pois, o interesse de lhe conservar o corpo como
prova, mostrando ao povo caso seus discípulos tentassem espalhar a ocorrência
da ressurreição.
Esperaram passar a festa do
sábado para que a autoridade assumisse a responsabilidade de vigiar o sepulcro.
Quando foram falar a Pilatos, sabiam que o corpo estava no sepulcro e, só
depois de verificarem que lá estava, foi que selaram a pedra e postaram os
guardas a vigiá-lo. Por isso, quando alguns dos guardas lhes relataram o que
ocorrera - A Ressurreição - (Mateus 28; 11/15), eles, os príncipes dos
sacerdotes e os fariseus, se reuniram aos anciões e combinaram dar grande soma
de dinheiro aos soldados, para que espalhassem que durante a noite, enquanto
dormiam, o corpo de Jesus fora furtado pelos seus discípulos. Se a hipótese era
a de que estavam dormindo, como poderiam saber quem havia roubado o corpo? E
como os guardas não ouviram a pedra ser rolada para abrir o túmulo?
Por outro lado, a crucificação
foi um duro golpe para os discípulos, que estavam profundamente abalados:
"Nós esperávamos que fosse Ele que haveria de redimir a Israel"
(Lucas 24:21). Nesse estado de prostração, eles não lembravam da promessa de
Jesus de que ressuscitaria dentre os mortos. Por isso, as aparições tangíveis
de Jesus durante quarenta dias, após os discípulos terem testemunhado a sua
morte, lhes solidificou a fé, levando-os à divulgação do Evangelho por todos os
lugares. Foram testemunhas da ressurreição ao povo, o que pode ser constatado
em Atos, 5: 17-42, quando as autoridades judaicas pressionaram os discípulos
para que não pregassem mais a respeito do Cristo ressuscitado.
OPINIÕES DIVERGENTES:
Até hoje, mesmo entre os
cristãos, há quem negue o desaparecimento do corpo de Jesus por processos que
atendem à razão, como a hipótese da desmaterialização, admitindo uns o roubo;
outros o milagre. Colhemos algumas opiniões de estudiosos da Bíblia, nos meios
de comunicação (Fantástico abril/96; O Estado de São Paulo, 07.04.96, pag.
A-23). Um deles afirma que o corpo de Jesus "apodreceu na sepultura"
(Gerd Ludemann). Segundo ele, o Cristo ressuscitado que apareceu ao apóstolo
Pedro não passou de uma "visão subjetiva", provocada pela dor
profunda do apóstolo e por sua sensação de culpa por ter negado a Jesus quando
este foi preso. Já para John Dominic Crossan, ex-sacerdote católico romano, a
sepultura estava realmente vazia. A razão: seu corpo já havia sido devorado por
cães selvagens. Esse, segundo Crossan, era o destino dos criminosos romanos
crucificados. Estudioso da Bíblia na Universidade de Paul, de Chicago, Crossan
não explica como os cães entraram na sepultura, ou como tiveram acesso ao corpo
de Jesus, que desceu da cruz para a sepultura, que por sua vez foi fechada por
José de Arimatéia e Nicodemos e que depois recebeu a guarda de uma escolta.
E PARA NÓS, ESPÍRITAS?
Vamos à Kardec (A Gênese, capítulo XV - Os milagres do
Evangelho - Superioridade da Natureza de Jesus - Desaparecimento do corpo de
Jesus):
Jesus esteve num corpo de carne
como qualquer outro ser encarnado e ao ressurgir, o fez como uma aparição
tangível; Kardec oferece várias exemplificações de aparições tangíveis,
notadamente na Revista Espírita (exemplo: abril de 1860). No entanto, se Kardec
não sugere como desapareceu o corpo de Jesus, é conclusivo quanto ao sepultamento
de Jesus e sua ressurreição, deixando-nos a compreensão do desaparecimento do
corpo de Jesus à luz do estágio de nosso entendimento e à confirmação geral dos
Espíritos (CUEE) se um dia se der essa possibilidade.
No capítulo XIV - Os fluidos, de
A Gênese, no item 14, temos: "Os espíritos agem sobre os fluidos
espirituais... com o auxílio do pensamento e da vontade". O pensamento e a
vontade são para o espírito, aquilo que a mão é para o homem. Pelos pensamentos
eles imprimem a tais fluidos esta ou aquela direção; eles o aglomeram, os
combinam e os dispersam; formam com esses materiais, conjuntos que tenham uma
aparência, uma forma, uma cor determinada; mudam suas propriedades como um
químico altera as propriedades dos gases ou de outros corpos, combinando-os
segundo determinadas leis. É a grande oficina do laboratório da vida
espiritual. É assim, por exemplo, que um espírito se apresenta a um encarnado,
sob as aparências que tinha na época em que se conheceram, mesmo que isso se dê
depois de diversas encarnações: Apresenta-se com as roupas, os sinais
exteriores, enfermidades, cicatrizes, membros amputados etc. Na realidade, ele
não conservou tais aparências (como espírito não é coxo etc.); mas seu
pensamento, entrando em relação com a época em que isto se dava, seu
perispírito toma instantaneamente aquela
forma, a qual deixa também instantaneamente, desde que o pensamento cesse de
agir. (...) Por um efeito análogo o pensamento do espírito cria, fluidicamente,
os objetos dos quais tem o hábito de se servir: um militar terá suas armas,
seus uniformes, etc. (...)
Já no item 6, do mesmo capítulo,
temos:
(...) A matéria tangível, tendo por elemento
primitivo o fluido cósmico etéreo, ao desagregar-se deve poder voltar ao estado
de eterização, assim como o diamante, o mais duro dos corpos, pode volatizar-se
num gás impalpável. A solidificação da matéria, na realidade, não passa de um
estado transitório do fluido universal, o qual deve voltar ao seu estado
primitivo quando as condições de coesão cessam de existir. Quem sabe mesmo se,
no estado de tangibilidade, a matéria não é suscetível de adquirir uma espécie
de eterização que lhe confira propriedades particulares?
Certos fenômenos, que parecem
ser autênticos, tenderiam a tal suposição. Ainda não possuímos senão as balizas
do mundo invisível, e o futuro nos reserva sem dúvida o conhecimento de novas
leis que nos permitirão compreender o que para nós ainda é um mistério.
No capítulo XV, temos:
65. (...) Após o suplício de Jesus, seu corpo ficou lá,
inerte e sem vida; ele foi sepultado como os corpos ordinários e cada um pôde
vê-lo e toca-lo. Após a ressurreição, quando ele quis deixar a Terra, ele não
morre; seu corpo se eleva, se desvanece e desaparece sem deixar nenhum traço,
prova evidente que seu corpo era de uma outra natureza que a que permaneceu na
cruz, de onde é preciso concluir que se Jesus pôde morrer, é que ele tinha um
corpo carnal.
67. Em que se transformou o corpo carnal? É um problema cuja solução não se pode
deduzir, até nova ordem, salvo por hipóteses, falta de elementos suficientes
para assegurar uma convicção. Esta solução, aliás, é de uma importância
secundária e não juntaria nada aos méritos do Cristo nem aos fatos que atestam,
de uma certa maneira bem contrariamente peremptória, sua superioridade e sua
missão divina.
Não pode, pois, haver sobre a
maneira na qual esse desaparecimento se operou senão opiniões pessoais que
teriam valores apenas igualmente quanto as que fossem sancionadas por uma
lógica rigorosa e pelo ensinamento geral dos Espíritos; ora, até o presente,
nenhuma das que foram formuladas recebeu a sanção deste duplo controle.
Se os Espíritos ainda não
resolveram a questão pela unanimidade de seus ensinamentos, é que, sem dúvida,
o movimento da resolução não veio ainda ou que ainda falta conhecimentos em
auxílio dos que possam resolvê-la por si própria. Em atentando, descarta-se a
suposição de um rapto clandestino, poder-se-ia encontrar, por analogia, uma
explicação provável na teoria do duplo fenômeno dos transportes e da invisibilidade.
(Livro dos Médiuns, cap. IV e V).
Observação: o item 67 não consta da tradução de Victor Tollendal
Pacheco, 17º edição LAKE, de outubro de 1990 de que nos servimos para o
presente estudo. Para o item 67, utilizamos a tradução de Carlos de Brito
Imbassahy, da 3ª edição de 1868, já próximo à desencarnação de Kardec.
Consideramos o item 67 de vital importância para entendimento do assunto que
nos propomos estudar.
Na tradução de Victor Tollendal
Pacheco, o item 67 é o item 68 da tradução de Carlos de Brito Imbassahy.
A Gênese - Allan Kardec
Bíblia Sagrada - Tradução das línguas originais por João
Ferreira de Almeida.
Estudos Espíritas do Evangelho - Therezinha Oliveira
Elucidações Evangélicas - Sayão
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