João Pedro Caleiro, de
EXAME.com
Mais de 1 bilhão de pessoas
saíram da pobreza extrema desde 1990. A meta da ONU (Organização das Nações
Unidas) é erradicar o problema até 2030.
As armas para isso são bem
conhecidas: crescimento econômico com distribuição de renda e programas sociais
com garantia de acesso a serviços básicos.
Ao invés da suposta oposição
entre "dar o peixe" ou "ensinar a pescar", os últimos
estudos têm pensado a pobreza como um fenômeno de várias dimensões - inclusive
a psicológica.
Não significa dizer que os
pobres são culpados pela pobreza, e sim que ela molda o cérebro com certos
incentivos difíceis de entender por quem nunca passou por ela.
Alguns exemplos: o que significa
pensar no futuro quando você não sabe se terá o que comer amanhã? Qual é o
valor do chamado autocontrole quando suas recompensas são incertas? Dá para
fazer boas decisões com fome?
"Quem não é pobre tem o luxo
de pensar em resultados de longo prazo porque suas necessidades imediatas já
estão supridas; as pessoas pobres, não", diz o professor de psicologia
americano Elliot Berkman.
Como diretor do Laboratório de
Neurociência Social e Afetiva da Universidade do Oregon, ele estuda como o
cérebro é parte da armadilha da pobreza e pode prejudicar até quem já conseguiu
escapar dela.
Por e-mail, Berkman respondeu a
algumas perguntas de EXAME.com. Veja a seguir:
EXAME.com - Quais são as diferenças na estrutura psicológica
de pessoas pobres e não pobres?
Elliot Berkman -
Não são diferenças na estrutura, e sim nos fatores salientes para quem é pobre
ou não pobre e que contam nas suas decisões.
Quem não é pobre tem o luxo de pensar em resultados de longo
prazo porque suas necessidades imediatas já estão supridas; as pessoas pobres
não tem esse luxo, ou pelo menos não no mesmo grau.
EXAME.com - Por que é difícil para um indivíduo na
pobreza praticar o autocontrole?
Berkman - Isso
depende da sua definição de autocontrole. Uma definição comum entre psicólogos
é escolher o longo prazo em detrimento do curto.
Um exemplo disso é ver o que uma pessoa faz com 5 dólares -
ela gasta agora ou guarda para depois? Se alguém está faminto e gasta isso para
comer agora, é correto chamar isso de falta de autocontrole? É essencialmente o
que muitas sociedades fazem.
EXAME.com - Você diz que a pobreza faz as pessoas
viverem sempre no "agora". Isso não é algo positivo?
Berkman - Entre
pessoas de classe média ou alta, existe uma idealização da ideia de "viver
no momento" baseado em práticas de atenção e consciência.
Mas este foco no presente deve ser voluntário e não forçado;
caracterizado por uma abertura à experiência e não por uma luta constante para
sobreviver ao dia.
E mesmo entre quem tem recursos suficientes para não
precisar pensar na próxima refeição, o foco no presente não é sempre a melhor
ideia. Algumas horas você precisa pensar no futuro e antecipar obstáculos.
EXAME.com - Você pode dar alguns exemplos de barreiras
psicológicas que se fazem presentes mesmo quando as pessoas conseguem escapar
da pobreza?
Berkman - Muitas
são relacionadas ao aprendizado. Uma criança que cresceu pobre pode não saber
como guardar dinheiro ou se planejar para o futuro.
Não é algo que se aprenda na escola. Se os pais não te
ensinarem a criar uma conta de poupança para a faculdade, não há porque esperar
que alguém saiba como fazer isso.
Atletas profissionais nos Estados Unidos são um bom exemplo:
muitos cresceram pobres, e mesmo sendo espertos de forma geral, muitos acabam
torrando quantias enormes de dinheiro simplesmente porque não sabem economizar
e se planejar.
EXAME.com - Isso tem relação com o conceito de
"exaustão cognitiva", a ideia de que as preocupações graves da
pobreza consomem os recursos mentais e levam a decisões ruins, como mostram
alguns estudos importantes?
Berkman - Talvez.
A "exaustão cognitiva" ou "esgotamento do ego" é sempre
demonstrada em laboratório e geralmente não é comparando pessoas pobres ou não
pobres.
O esgotamento do ego pode ter mais a ver com manter algum
equilíbrio entre "trabalho" e "diversão", ou com pessoas
sentindo que já satisfizeram o experimentador e perderam a motivação de
trabalhar duro.
Em contraste, pessoas pobres frequentemente tem muita
motivação para trabalhar duro e ter vários empregos. É que elas colocam o foco
na sobrevivência no momento presente ao invés do sucesso de longo prazo.
EXAME.com - O que pode ser feito, de uma perspectiva de
política pública, para ajudar as pessoas pobres a superarem estes obstáculos?
Berkman - A
resposta mais óbvia seria garantir que ninguém precise se preocupar se vai
sobreviver até o final do dia, o que significa garantir para todos comida,
abrigo e talvez até uma renda mínima.
Libertar as pessoas da preocupação da sobrevivência diária é
a melhor forma de garantir que eles foquem no futuro.
Educação sobre orientação futura também é um bom plano:
literalmente, ensinar as pessoas a pensar e planejar para o futuro já seria um
grande avanço.
Matéria publicada em
Exame.com, em 22 de outubro de 2015.
O problema da pobreza é muito
diverso e complexo. Talvez o ser pobre significa ter falta de segurança e
estabilidade, portanto não é só uma questão de carência de dinheiro. O mundo
atual tem alguns vencedores e muitos perdedores. Os pobres se encaixam na
categoria dos perdedores, daqueles que não podem surfar na onda de mudança e
que, de certa forma, são esmagados por ela.
A palavra “pobre” deriva do
latim pauper, radicado em paucus (pouco). No conceito original,
“pobre” não era o deserdado, mas o terreno agrícola ou gado que não produzia o
suficiente. Sob outro ponto de vista, entre alguns grupos, especificamente os
religiosos, a pobreza é considerada como necessária e desejável, e deve ser
aceita para alcançar um certo nível espiritual, moral ou intelectual.
Nesse aspecto, o papa Francisco
assevera que a Igreja deve articular com a verdade e também com o testemunho da
pobreza. Não é possível que um fiel fale de pobreza e dos sem teto e leve uma
vida de faraó. Na Igreja há alguns que, ao invés de servir, de pensar nos
demais, se servem da Igreja. São os arrivistas, os apegados ao dinheiro.
Quantos padres e bispos deste tipo já vimos? É triste dizer, não? Pronunciei o
pontífice ao jornal holandês "Straatnieuws", de Utrecht.
A pobreza é considerada como um
elemento essencial de renúncia por budistas e jainistas enquanto que para o
catolicismo romano, como vimos acima, é um princípio evangélico e é assumido
como um voto por várias ordens religiosas e é entendida de várias formas. A
ordem franciscana, por exemplo, abandona tradicionalmente todas as formas de
posse de bens. Neste caso, a pobreza voluntária é normalmente entendida como um
benefício para o indivíduo, uma forma de autodisciplina através do qual as
pessoas se aproximam de Deus.
O professor de psicologia Elliot
Berkman, diretor do Laboratório de Neurociência Social e Afetiva da
Universidade do Oregon/EUA, estuda como o cérebro é parte da armadilha da
pobreza. As pessoas pobres frequentemente têm muita motivação para trabalhar
duro e ter vários empregos porque colocam o foco na sobrevivência no momento
presente ao invés do sucesso de longo prazo. Libertar as pessoas da preocupação
da sobrevivência diária é a melhor forma de garantir que eles foquem no futuro.
Afiança Berkman.
Para o Espiritismo, a pobreza,
tal como a riqueza, nada mais é que uma prova pela qual o Espírito necessita
passar, tendo em vista um objetivo mais alto que é o seu progresso. Deus
concede, pois, a uns a prova da riqueza, e a outros a da pobreza, para
experimentá-los de modos diferentes. A pobreza é, para os que a sofrem, a prova
da paciência e da resignação.
Ao que nasce na pobreza é dado
aprender o valor do trabalho árduo, resistir às tentações do ganho fácil,
descobrir os valores reais do espírito, e não raro se vê entre os pobres as
mais dignas demonstrações de solidariedade. Na pobreza aprendemos a nos
compadecer dos males alheios fazendo-nos compreendê-los melhor.
É evidente que a desigual repartição
de bens materiais, culturais e políticos exclui um vasto número de pessoas
deserdadas dos processos de participação e consente a coexistência em formas
inumanas de sobrevivência e de insignificante protagonismo social. Por isso
mesmo, diante dos deserdados, a nossa primeira e obrigatória ação deve ser a do
auxílio.
Mas primeiramente suavizemos o
sofrimento dos pobres, abraçando-o fraternalmente, manifestando de tal modo o
nosso sentimento de acolhida a fim de estabelecer o laço de confiança essencial
e poder ajudá-los. Em seguida, nos informemos a respeito da situação
transitória de seu sofrimento. Dessa forma, não cairemos nas armadilhas que
consideram o pobre como “coitadinho’, não vendo nele as potencialidades de
Espírito imortal e de indivíduo capaz de, com as devidas oportunidades, prover
dignamente a própria existência”.
Aliás, a síndrome do
“coitadinho” é uma das moléstias oportunistas mais comuns da sociedade atual,
onde muitos deserdados têm medo de encarar a vida de frente e de cabeça erguida,
sendo maduros e responsáveis. A principal característica de uma pessoa que
sofre da síndrome do “coitadinho” é colocar-se como “vítima” das
circunstâncias, e como tal passa a ideia de que a culpa de sua pobreza é dos
outros. Aliás, os arautos das ideias do socialismo ATEU adoram fazer isso!
Diante dos pobres, procuremos
nos informar de suas lutas materiais e verifiquemos se a oferta de trabalho e
de orientação espírita não será mais eficaz do que a aviltante doação da esmola
em seu favor. Recordando aqui que a esmola dentro da lógica assistencialista é
uma ação que atende a deficiência material sem o móvel educativo e que envilece
a humanidade do sujeito, adestrando-o à condição da mendicância ou da
dependência. Como tal, não atende ao projeto regenerador do Espiritismo para
Humanidade.
Não se pode esquecer que a
Lei do Trabalho e do Progresso, promulgada em O Livro dos Espíritos, relata
justamente a importância de o indivíduo romper com o acomodamento e ultrapassar
os obstáculos existenciais, o que inclui buscar sair também da penúria material
(pobreza) através de seu esforço.
[2] Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em
18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em
Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados),
Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.
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