Dificuldades históricas quanto ao local e à data do nascimento – A
festa de Mitra no calendário romano– Uma realidade que transformou e transforma
o mundo.
O nascimento de Jesus tem dado
motivo a muitas controvérsias. Ninguém, sabe, exatamente, em que dia ocorreu e,
nem mesmo, em que localidade.
Os evangelhos não fixam nenhuma
data, limitando-se a dar indicações vagas à época do nascimento. Esse fato foi
motivo de grandes críticas ao cristianismo, não faltando escritores,
historiadores e mitólogos que procuraram explicar o nascimento e a vida de
Jesus como puramente lendários. Chegou-se a afirmar que Jesus não era mais do que
o mito solar e seus doze apóstolos, os doze signos do zodíaco. Isso levou um
escritor francês a afirmar, como réplica, que Napoleão e seus doze generais
nunca haviam existido, sendo apenas uma idealização mitológica.
O Espiritismo considera Jesus
como um ser histórico, um homem que realmente existiu. Mas não aceita as lendas
que se formaram ao redor da sua figura singular e da sua vida extraordinária.
Sabemos, por exemplo, que a data de 25 de dezembro só foi fixada em princípios
do quarto século, exatamente quando se iniciava a deturpação do Cristianismo, e
que essa fixação se deu em Roma. Vários historiadores admitem que essa data
tenha sido escolhida de acordo com o calendário romano, por nela cair a festa
do deus solar Mitra. É o que se pode ver em Jesus, de Ch. Guignebert, professor
de História do Cristianismo, na Sorbonne, páginas 111 e 112, da edição de 1947,
de Albin Michel, Paris.
Houve, durante muito tempo,
várias datas consideradas pelos cristãos como prováveis: São Clemente de
Alexandria, por exemplo, entendia que Jesus havia nascido a 19 de abril. Outros
optavam pelo 18 de abril, o 29 de maio e o 28 de março. No oriente, diz
Guignebert, o 6 de janeiro era geralmente aceito. Assim, a data de 25 de
dezembro é apenas simbólica, não havendo acerto dessa escolha. Mas a verdade é
que, firmada pela tradição, e apoiada num passado bastante longo de solenidades
religiosas ao deus solar, essa data se mostra impregnada de intensas vibrações
espirituais. Na terra, como no espaço, é nela que se comemora, há dezesseis
séculos, o nascimento de Jesus, como foi nela que se comemorou, durante a
antiguidade, o advento dos deuses simbólicos de várias mitologias.
Kardec, ao lançar O Evangelho
segundo o Espiritismo, firmou o princípio de que os fatos históricos, e outras
partes dos relatos evangélicos, estranhos ao seu conteúdo de ensinos morais,
pouco importam para a doutrina. O que interessa ao Espiritismo não é a exatidão
cronológica, mas a realidade da vida de Jesus e a legitimidade dos seus ensinos
morais. Os espíritas, por isso mesmo, aceitam, sem relutância, a data de 25 de
dezembro como marco tradicional do nascimento de Jesus, aproveitando-se para a
evocação do momento em que o Senhor se encarnou entre os homens.
O que importa aos espíritas, no
Natal, não é a celebração de um fato histórico cronologicamente assentado, mas
a evocação de um acontecimento histórico da mais alta significação espiritual
para a humanidade terrena. Se Jesus nasceu em Nazaré, como o indica Marcos, ou
em Belém, como o dizem Mateus e Lucas, e se esse nascimento ocorreu em 6 de
janeiro ou 25 de dezembro, isso pouco importa. O que importa é que ele tenha
nascido, vivido e pregado entre os homens, mas, principalmente, que nos tenha
deixado uma doutrina capaz de reformar o mundo, como realmente o reformou e
continuará reformando.
A existência de Jesus está hoje
suficientemente provada. Mesmo do ponto de vista histórico, apesar da falta de
documentos a respeito, as pesquisas mais recentes demonstram que realmente
viveu na Palestina e nela morreu o fundador do Cristianismo. Guignebert
assinala a deturpação mitológica dessa figura humana, com o fim de torná-la
extra-humana, divina, supranormal, “sacrificou Jesus ao Cristo”. E Henri Berr,
no prefácio que escreveu para o livro de Guignebert, declara: “Mas Jesus
existiu; isso, podemos dizer que o sabemos; a tese da não historicidade é um
paradoxo”. Não é de admirar que, dois mil anos depois do seu nascimento, seja
difícil precisar-se a data em que isso se verificou. Mas é de espantar que,
depois da revolução que a sua figura e a sua doutrina produziram e continuam a
produzir no mundo, ainda existam pessoas que as ponham em dúvida.
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