sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Redução da maioridade penal. Sim ou não?



       
Muitos temas considerados polêmicos, como a redução da maioridade penal, estão agitando os debates em vários segmentos da sociedade brasileira, com diferentes opiniões e posicionamentos. Isso faz parte do saudável exercício democrático e da esperada liberdade de expressão.
Há espíritas contrários e favoráveis à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 171, que altera a redação do art. 228 a respeito da imputabilidade penal do maior de 16 anos. Todas as opiniões são respeitáveis e apresentam seus argumentos.
Muito mais, porém, do que se ponderar prós e contras entre os espíritas, é preciso lembrar que um dos pontos mais importantes e que permite, inclusive, o caráter científico da doutrina espírita é o método do critério da universalidade dos seus postulados. Isso permite que se acenda, no mínimo, uma luz amarela diante de qualquer opinião – a favor ou contra – que se coloque como sendo representativa do espiritismo.
O Correio Fraterno abre esse espaço para que se possa refletir sobre os dois posicionamentos, baseando-se no critério adotado por Allan Kardec de respeito às opiniões. "Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado", ensinou ao lançar o primeiro número da Revista Espírita em 1858.
Outro ponto fundamental a ser considerado é que, como lembrou o pesquisador espírita Ademir Xavier, em seu blog A era do espírito, a maturidade nem sempre está relacionada à idade cronológica e que, nos tempos modernos, não compete mais a nenhuma religião ou doutrina alterar leis humanas." Isso acontecia no passado por força da importância que a religião tinha dentro do Estado e vice-versa. No caso do espiritismo, as respostas dadas pelos Espíritos dizem respeito à lei natural e sua justiça e não poderão ser extrapoladas nem copiadas para a lei humana". Acrescenta ele ainda que "o espírita que quiser contribuir para o debate sobre a redução da maioridade penal não deve se esquecer da importância da educação infantil, da missão da paternidade, da necessidade de aprimorar o conhecimento sobre a psicologia humana, da existência no mal no coração de mentes perversas recém- encarnadas e da infinita capacidade do amor no resgate desses corações desviados".
Vale a pena refletir sobre o tema e tirar suas próprias conclusões. Será esse um problema para o espiritismo? Será que cabe a ele dar a palavra final sobre os particulares das legislações humanas?

CONTRA[1]
Políticas públicas devem buscar a emancipação do ser
A AJE-Brasil ¬–Associação Jurídico-Espírita do Brasil, por ocasião do 1º Fórum de Reflexões, promovido em 7 e 8 de fevereiro de 2015, na Federação Espírita Brasileira (FEB), em Brasília, deliberou ser contrária ao Projeto de Emenda Constitucional (PEC 171/93), que pretende reduzir a maioridade penal no Brasil, fixando-a a partir de 16 anos, pelos seguintes motivos:
1.      O Brasil é signatário da Convenção dos Direitos da Criança de 1989, da ONU, que reconhece que a criança – indivíduo menor de 18 anos – é merecedora de cuidados especiais e de proteção, por conta de sua falta de maturidade física e mental;
2.      O adolescente – indivíduo de 12 a 18 anos incompletos segundo a legislação brasileira – é um ser cuja personalidade está em desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual, devendo lhe ser garantido o sistema de maior proteção aos direitos fundamentais;
3.      Para a hipótese de condutas definidas como crime, o sistema jurídico brasileiro, por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente, já prevê medidas socioeducativas para a adequada responsabilização do adolescente, não havendo que se falar em impunidade;
4.      Ao invés de se adotar o sistema punitivo de natureza penal a adolescentes de 16 a 18 anos, cumpre ampliar medidas concretas nas áreas de assistência social, moradia, esporte, lazer, saúde, educação, entre outras;
5.      A inserção de adolescentes no sistema carcerário – que se apresenta superlotado, em condições subumanas, portanto, sem estrutura mínima para cumprir o fim de ressocialização da pena e para atender à dignidade da pessoa humana – implica aumentar os efeitos deletérios desta realidade, com prejuízo para o cidadão e para sociedade em geral;
6.      Dados estatísticos comprovam que a maior incidência da lei penal dá-se em relação a adolescentes pobres, negros e com baixo grau de alfabetização, o que revela a seletividade do sistema punitivo. De outro lado, o número de crimes praticados por adolescentes é baixo, em torno de 0,1425% (IBGE);
7.      As políticas públicas devem buscar a emancipação do ser – em especial do adolescente que se encontra em desenvolvimento – em detrimento do aumento de medidas repressivas, o que se faz por meio da educação, que proporciona o aperfeiçoamento moral e intelectual do espírito imortal;
8.      A lei humana deve privilegiar a ampliação e não a restrição dos direitos fundamentais, visando à construção de uma sociedade justa e fraterna;
9.      A educação deve ser vista como prioritária e permanente opção para a evolução humana. Logo, a proposta em debate – de aumento de medida repressiva em prejuízo da adoção de medida de natureza educativa – se aprovada, representa retrocesso social e espiritual para os destinos da sociedade brasileira. (Brasília, abril de 2015).

A FAVOR[2]
A dureza da leis é proporcional à condição evolutiva da sociedade
Por Adilson Alves de Souza[3]

Todos nós reencarnamos para continuar a nossa jornada evolutiva e nesse breve período na Terra temos a oportunidade de manifestar todas as virtudes já conquistadas e, principalmente, de enfrentar e vencer os nossos próprios defeitos com coragem e disciplina. Afinal, ninguém está aqui de férias e cabe a nós superarmos todos os desafios que favorecem o fortalecimento do ser. A cada um segundo as suas obras e somente pelo próprio esforço galgaremos patamares espirituais mais elevados.
A convivência mútua nos propicia experiências valiosas para o burilamento individual. Aprendemos com os nossos erros e muitas vezes as dores e sofrimentos entram em nossas vidas não como punição, mas como prova da bondade divina para nos alertar sobre o mal que estamos fazendo.
A sociedade é o reflexo do nível moral de seus membros. Se aparentamos viver tempos ainda próximos à barbárie, com guerras e violências de toda ordem, é porque ainda temos muito o que fazer para realizar o potencial da perfeição espiritual que carregamos. A dureza das leis, por sua vez, é proporcional à condição evolutiva da maioria dos cidadãos. É uma consequência natural.
Conforme observamos no Código Penal da Vida Futura, apresentado no capítulo VII do livro O céu e o inferno, cada um é responsável por suas ações e sofrerá as devidas consequências para valorizar o que é preciso. Sofremos porque agimos mal contra o próximo ou contra nós mesmos.
No Brasil, atualmente, discute-se a proposta de redução da maioridade penal para indivíduos de 16 anos. Há espíritas favoráveis e contrários. É plenamente compreensível haver divergências de opiniões em leis humanas e transitórias.
A maioridade, seja penal ou civil, é uma convenção adotada em cada país, com variações entre os mesmos. Cada indivíduo age de acordo com a sua maturidade e, se alguns ainda agem em detrimento de um grupo ou sociedade, ele deve ter a oportunidade de ser educado e não prejudicar ainda mais a própria sociedade que o acolhe, ainda que tenha que ficar recluso.
Sou um dos 87% dos cidadãos brasileiros, conforme pesquisa recente do Datafolha, favoráveis à respectiva redução da maioridade penal, não por entendê-la como solução definitiva para a criminalidade crescente neste país, mas por uma questão óbvia de que aquele que sabe discernir entre o certo e o errado, entre o legal e o ilegal, deve responder por seus próprios atos. Se um jovem de 16 anos pode votar e ajudar a escolher os destinos da nação, ele sabe o que está fazendo e tem discernimento sobre o certo e o errado.
Um aspecto muito importante, levantado pelo psicanalista Contardo Calligaris, é a idealização alienada de parcela da população sobre uma suposta "pureza" da infância. Essa idealização prejudica o próprio amadurecimento do indivíduo, infantilizando seres que terão dificuldades de se tornarem adultos. Calligaris, por sinal, é contra a existência de maioridades e menoridades penais, seja qual for a idade fixada, pois o que vale é o discernimento do indivíduo.
Aqueles que argumentam contra a redução costumam afirmar que a prisão de criminosos de 16 e 17 anos fará com que sejam recrutados por grupos organizados de criminosos. Ora, muitas crianças e jovens já são aliciados por esses grupos nas ruas, justamente porque a idade os favorecem perante a lei penal atual.
É primordial a adoção de medidas educativas para o aperfeiçoamento moral dos seres, tanto de curto quanto de longo prazos. Não basta o simples discurso normativo de que se deve investir na infância e que se precisa mais de escola do que de cadeias se o imobilismo continuar. A redução da maioridade penal é uma proposta real para o estágio em que nos encontramos. Tomara que cheguemos, um dia, a não precisar de leis punitivas para mais ninguém, porém isso depende do próprio nível evolutivo dos habitantes deste planeta.

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