quarta-feira, 15 de julho de 2015

Recursos para a liberação dos sofrimentos[1]



A coragem é fator decisivo para o bem do indivíduo na sua historiografia psicológica. Para hauri-la, basta o interesse consciente e duradouro em favor da aquisição da felicidade, que se deve tornar a meta essencial da sua existência. Inexistente esta necessidade tampouco há sofrimento, porque, a ausência das aspirações nobres resulta da morte dos ideais, provocada pela indiferença da vida, em uma psicopatologia grave.
O sofrimento, em si mesmo, é fonte motivadora para as lutas de crescimento emocional e amadurecimento da personalidade, que passa a compreender a existência de maneira menos sonhadora e mais condizente com a sua realidade. Os jogos e ilusões da idade infantil, superados, dão ensejo a uma integração consciente do indivíduo no grupo social no qual se encontra, fomentando o esforço pelo bem dos demais, por saber-se membro valioso e entender, por experiência pessoal, os gravames que a dor proporciona. Inobstante esta experiência lúcida, sabe que o esforço a envidar para liberar-se dos sofrimentos é, por sua vez, conquista da inteligência e do sentimento postos a serviço da sua realização pessoal e comunitária.
Na maior parte dos métodos, a vontade do paciente prevalece como fator de alta importância. Excetuando-se os referidos sofrimentos por sofrimentos, e mesmo em grande parte deles, a reflexão bem direcionada gera uma psicosfera de paz, renovadora, que o envolve e alimenta, levando à liberação deles.
Relacionemos algumas fases da terapia liberativa:
a) Considerar todos os indivíduos como dignos de ser amados e tomar por modelo alguém que o ama e se lhe dedica, por isto mesmo, credor de receber todo o afeto.
Este sentimento, sem apego nem interesse gerador de emoções perturbadoras, desarma o indivíduo de suspeitas, de ansiedades e medos, ao mesmo tempo dirimindo as incompreensões de outrem e desarticulando quaisquer planos infelizes.
Uma visão favorável sobre alguém dilui as nuvens densas que lhe obscurecem a personalidade, facultando um relacionamento positivo. A não-reação à agressividade do outro lhe desmantela a couraça de prepotência, na qual se oculta. Se a resposta é otimista e sem azedume, conquista-o para um intercâmbio útil, ampliando-lhe o círculo de expressões afetivas. Logo, este sentimento contribui para anular os efeitos do sofrimento moral e dissipar algumas, senão todas as suas causas perturbadoras.
O ato de ver bem as demais pessoas, torna-se um hábito terapêutico preventivo, em relação às agressões do meio ambiente, dos companheiros, constituindo um encorajamento para a luta libertadora.
O cultivo, a expansão de ideias e conceitos edificantes apagam o incêndio ateado pelo pessimismo da maledicência, da inveja, da calúnia, tornando respirável a atmosfera social do grupo onde o homem se localiza.
b) Identificar e estimular os traços de bondade do caráter alheio.
Não há solo, por mais sáfaro, que, tratado, não permita o vicejar de plantas. Em todo sentimento existem terras férteis para a bondade, mesmo quando cobertas por caliça e pedregulhos. Um trabalho, breve que seja, afastando o impedimento, e logo esplendem os recursos próprios para a sementeira da esperança.
Os indivíduos que se notabilizavam pela maldade na vida privada e no seu círculo social, revelavam-se bondosos e gentis tornando-se amados pela família e pelo grupo, mesmo conhecendo-lhes as atrocidades em que eram exímios.
A maldade sistemática, a impiedade, o temperamento hostil revelam as personalidades psicopatas que, antes, necessitam de ajuda, ao invés de reproche. A bondade, neles latente, aguarda o momento de manifestar-se e predominar, mudando-lhes o comportamento.
Com tal atitude, a de identificar a bondade, torna-se possível a superação do sofrimento, como quer que se apresente, especialmente o que tem procedência moral.
c) Aplicar a compaixão quando agredido.
Uma reação de pesar, ante o ato infeliz, produz um efeito positivo no agressor. Proporciona o equilíbrio à vítima, que não desce à faixa vibratória violenta em que o outro se demora. Impede a sintonia com a cólera e seus famanazes, impossibilitando a instalação de enfermidades nervosas e distúrbios gastrointestinais e outros, face à não absorção de energias deletérias.
A compaixão dinâmica, aquela que vai além da piedade buscando ajudar o infrator, expressa bondade e se enriquece de paixão participativa, que levanta o caído, embora seja ele o perturbador.
 Essa conduta impede que se instale o sofrimento na criatura.
d) O amor deve ser uma constante na existência do homem.
Há em tudo e em todos os seres a presença do Amor. Em um lugar revela-se como ordem, noutro beleza e, sucessivamente, harmonia, renovação, progresso, vida, convocando à reflexão.
O amor é o antídoto mais eficaz contra quaisquer males. Age nas causas e altera as manifestações, mudando a estrutura dos conteúdos negativos quando estes se exteriorizam.
Revela-se no instinto e predomina durante o período da razão, responsabilizando-se pela plenificação da criatura.
O amor instaura a paz e irradia a confiança, promove a não-violência e estabelece a fraternidade que une e solidariza os homens, uns com os outros, anulando as distância e as suspeitas. É o mais poderoso vínculo com a Causa Geradora da Vida. É o motor que conduz à ação bondosa, desdobrando o sentimento de generosidade, ao mesmo tempo estimulando à paciência.
Graças à sua ação, a pessoa doa, realizando o gesto de generosa oferta de coisas, até o momento em que é levado à autodoação, ao sacrifício com naturalidade.
O amor é o rio onde se afogam os sofrimentos, pela impossibilidade de sobrenadarem nas fortes correntezas dos seus impulsos benéficos. Sem ele a vida perderia o sentido, a significação. Puro, expressa, ao lado da sabedoria, a mais relevante conquista humana.



[1] O Homem Integral – Joanna de Ângelis/Divaldo Franco – BA, Centro Espírita Caminho da Redenção

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