FRANCISCO REBOUÇAS
costareboucas@ig.com.br
Niterói, Rio de Janeiro (Brasil)
Há uma frase que no movimento espírita tornou-se extremamente
conhecida, e que qualquer um de nós, espiritistas, já ouviu alguém se referindo
a ela em palestras, estudos ou outras atividades do movimento espírita, e que
por isso mesmo o ouvinte imediatamente acrescenta ao seu conhecimento de
Espiritismo e sai, por sua vez, a espalhá-la multiplicando velozmente seu
conteúdo.
Como não gosto de passar à frente algo referente à Doutrina Espírita de
que não possa apresentar a fonte de onde se origina minha informação, procurei
desesperadamente encontrar a conhecida frase, que se tornou tão comum e que
qualquer um, mesmo sem qualquer base doutrinária, hoje em dia se faz portador
de sua mensagem passando à frente o Espiritismo, sem qualquer base em seus
postulados divinamente codificados pelo digno seguidor do Mestre de Nazaré.
Só então me pude dar o direito de também acrescenta-la em minhas
modestíssimas anotações doutrinárias, para então poder tornar-me um divulgador
de seu conteúdo, não como sempre ouvi e li, nos diversos meios de comunicação
com que tive contato, bem como em palestras, seminários, livros, revistas,
programas de rádios etc., mas, sim, como em verdade ela nos foi transmitida por
seu criador, o querido benfeitor Emmanuel.
A frase a que me refiro é esta: “a
maior caridade que podemos fazer pela Doutrina Espírita é a sua própria
divulgação”. Ora, quem procurar essa frase nos livros de Espiritismo
ditados por Emmanuel a Chico Xavier, não será bem sucedido em sua busca, pois a
tal frase, tão corriqueira no movimento espírita, não está escrita dessa forma
nem foi pronunciada pelo citado benfeitor dessa maneira.
A referida citação está contida no livro “Estude e Viva”, ditado pelos
Espíritos Emmanuel e André Luiz, psicografado por Chico Xavier e Waldo Vieira,
e consta do capítulo 40 da referida obra, intitulado Socorro Oportuno, o que
nos mostra como as coisas são alteradas ou modificadas voluntária ou
involuntariamente, quando passadas de um para outro interlocutor; senão vejamos
como está no livro: “(...) Lembra-te deles, os quase loucos de sofrimento, e
trabalha para que a Doutrina Espírita lhes estenda socorro oportuno. Para isso,
estudemos Allan Kardec, ao clarão da mensagem de Jesus Cristo, e, seja no
exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra, recordemos que o Espiritismo nos
solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade da sua própria
divulgação”[2].
Em momento algum identifiquei no conteúdo do parágrafo acima que a
divulgação do Espiritismo seja a maior caridade que podemos fazer pela doutrina
espírita. Penso que a observância e vivência correta dos seus postulados ainda
é a grande finalidade da doutrina espírita ao seu sincero seguidor, pois, da forma
como ela vem sendo difundida por grande parcela de “espíritas” que não conhecem
seus postulados, não é verdadeiramente nenhuma forma positiva de caridade para
com ela, e sim um enorme desserviço prestado contra sua digna e elevada
mensagem. Isto porque o Espiritismo nos solicita que estudemos a codificação,
que é a mensagem do Consolador Prometido por Jesus, tão bem elaborada pelo fiel
Discípulo do Mestre de Nazaré, para a vivência da mensagem cristã, contida no
evangelho ensinada e exemplificada por Jesus, para só então, sem que seja
preciso fazer qualquer alarde, a espalhemos em forma de atitude, na ação da
caridade em favor do nosso semelhante, testemunhando com nosso próprio trabalho
na plantação da semente do bem para que possa germinar, crescer e dar bons
frutos.
A referência de Emmanuel ao estudo das obras de Kardec não é citada,
mesmo fazendo parte do mesmo pensamento no assunto enfocado, e que por essa
razão não pode ser desprezado ou esquecido como se não tivesse sido
pronunciado. É por essa razão que a divulgação da doutrina espírita segue sendo
difundida sem qualquer cuidado com a fidelidade doutrinária, que todo e
qualquer espírita consciente deve ter como meta primordial; essa é a razão de
hoje em dia se aceitar verdadeiros absurdos como sendo obra espírita, quando
não passam de ridículas obras mediúnicas, e o pior, são aceitas até mesmo por
grande número de “espíritas” que, sem conhecerem os fundamentos da doutrina que
dizem professar, mas que não professam verdadeiramente, a elas se referem com
entusiasmo, como se estivessem falando do conteúdo da mensagem espírita
codificada pelos Nobres Imortais sob a supervisão do próprio Jesus.
Precisamos tomar cuidado com as frases corriqueiras, e prestarmos mais
atenção ao conteúdo do que à forma, para que o mais importante das mensagens
que nos cheguem ao conhecimento não seja simplesmente aceito sem uma análise
mais apurada em todo o seu conjunto, e, sim, que seja devidamente apreciado e
absorvido pelo crente sincero da doutrina espírita, e, se for portador de um
bom conteúdo, aí então dele se utilizará para sua correta divulgação.
O espírita sincero deve ter por lema: “fora da caridade não há salvação”[3],
mas deve observar que essa máxima precisa ser devidamente compreendida para não
ser interpretada ao bel prazer de quem quer que se ache tão absolutamente dono
da verdade, pois a caridade não dispensa o cuidado que todos devemos ter em
observar que “fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão
em todas as épocas da humanidade”[4], e
que por isso mesmo, não podemos nos deixar descuidar da razão e o bom senso.
A principal caridade que podemos fazer é a nós mesmos, em primeiro
lugar, estudar a mensagem cristã contida no evangelho, como nos alerta
Emmanuel, seguindo Jesus através de Kardec, e efetuarmos nossa transformação
moral-espiritual, para que, fundamentados no cristianismo redivivo que o
Consolador nos veio trazer, possamos dar testemunhos como nos alerta o
benfeitor: “seja no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra”, de que seguimos
Jesus, como fiéis discípulos respeitáveis divulgadores da sua sublime mensagem,
sem achismos ou modismos condenáveis sob todos os aspectos.
Em O Evangelho segundo o
Espiritismo encontramos a bela mensagem que o Espírito de Verdade nos
transmitiu e que transcrevemos a seguir: “Espíritas! amai-vos”, este o primeiro
ensinamento; “instruí-vos”, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas
as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. (...)[5]
Precisamos entender que o Cristianismo contém todas as orientações de
que necessitamos para fazer crescer em nós os valores morais que dormitam em
nosso íntimo, desde nossa criação, e que só o estudo sério, constante e
disciplinado da doutrina espírita dar-nos-á a necessária capacidade para melhor
compreender as atitudes infelizes e os defeitos do nosso próximo, ampliando
nosso poder de discernir melhor para melhor agir, utilizando-nos dos recursos
hauridos nos conhecimentos adquiridos nesses estudos, para vivenciar em nosso
dia-a-dia as lições com que os Espíritos Superiores nos instruíram sobre a
verdadeira caridade como a entendia Jesus: “Benevolência para com todos,
indulgência para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas”[6].
É hora de tomar uma atitude de serenidade e seriedade em tudo o que
pretendemos falar com relação à doutrina espírita, não mais agindo como simples
repetidores do que ouvimos alguém dizer, e, sim, procurarmos falar com
responsabilidade apenas do que realmente conhecermos com segurança e que esteja
contido nos postulados da codificação do Espiritismo.
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