DAVILSON SILVA
davsilva.sp@gmail.com
São Caetano do Sul, SP (Brasil)
O “homem civilizado” não se sente seguro nem feliz no tocante à sua
intimidade. Ainda que tenha atingido um aprimoramento e desenvolvimento
sociocultural, obtido toda a comodidade da vida moderna, apesar de toda a
rapidez dos meios de comunicação e de transporte, os quais facilitam empresas e
negócios, a criatura humana não se sente isenta de angústias e apreensões.
Chamam civilização toda sociedade resultante de tal processo, ou o
conjunto de suas conquistas, em especial, aquelas distintas por certo estágio
de desenvolvimento. O que caracteriza uma sociedade civilizada é o seu
progresso tecnológico, econômico e intelectual, suas realizações materiais
elaboradas coletiva e individualmente em diversos níveis de cargo, segundo
modelo das sociedades ocidentais modernas. A despeito das vantagens da vida
moderna, homens e mulheres dos grandes centros urbanos não vivem lá muito
felizes ao se deparar com súbitos empecilhos que lhes infelicitam a vida.
Nesse caso, os filhos das urbes
têm de reduplicar suas forças. Em meio à competitividade globalizada que as
novas tecnologias de comunicação e de processamento de dados tornaram a luta
pelos meios de subsistência mais acerba, todo o cuidado é pouco. Angústias
profissionais, problemas familiares e outros distúrbios particulares ou
coletivos causam a sensação de desamparo e receio, como os dos últimos nefastos
incidentes de vandalismo, de brigas de torcidas organizadas, da onda de
assaltos com mortes e outras tragédias.
Norte-americanos, europeus e orientais próximos vivem aturdidos,
desconfiados, revoltados, com medo de súbitas ações de franco-atiradores, de
terroristas. Em nosso país, permanece o clima de insegurança — o brasileiro não
sofre a ação sistemática de terroristas políticos; mas, sofre com o terror de
traficantes de drogas, enfim, da violência urbana generalizada.
Sensação
de impotência, pessimismo.
Já ouvi algumas pessoas dizerem que, de vez em quando, ao acordar,
sentem aquela sensação de impotência, de violentadas em seus direitos humanos e
de cidadãs. Estas se confessaram pessimistas quanto ao futuro, temerosas. Nos
grandes centros urbanos do nosso país, o receio do assalto, da bala perdida, do
sequestro-relâmpago, a frustração pelas últimas ocorrências lamentáveis de
corrupção na política... Consoante adágio popular, “a corda arrebenta sempre do
lado mais fraco”...
Entendamos aqui por “lado mais fraco” o organismo físico. Como
resultado dos abalos sociais e de toda a agitação, surge a ardência ou aperto
no peito, o transpirar frio e abundante, a taquicardia, a palidez no rosto, o
medo da morte ou de enlouquecer de vez — sinais vistos em milhões de pessoas.
São, segundo os médicos, sintomas da “síndrome do pânico”, o “mal dos tempos”,
ou “da vida moderna”. Há quem busque nas substâncias tóxicas um estado psíquico
capaz de lhe assegurar uma melhora; mas tudo não passará de mero equívoco;
pioram as crises.
As crises generalizadas da síndrome do pânico têm acometido muitos em
quase todos os lugares do globo, homens e mulheres, idosos e jovens já as
sofreram. Essa doença afeta de 1,5% a 2% das pessoas, conforme o médico Antonio
Egidio Nardi, professor adjunto do Instituto de Psiquiatria da Universidade
Federal do Rio de Janeiro[2].
Ainda por cima, as pessoas acabam por desenvolver certas fobias: de avião, de
elevador, de multidão, de congestionamento de trânsito, etc., por isso, o
acúmulo de atendidos em clínicas de emergência. Aliás, os médicos perceberam
agora que o medo mórbido, a ânsia, a depressão, no fundo, resumem-se em coisas
da alma...
Tem cura? Têm — mas de modo relativo, dependendo de cada caso e
paciente. Não raro, as crises podem estar associadas ao abuso de alcoólicos, do
tabagismo e das demais drogas que lesam a saúde. “A síndrome do pânico nada
mais é que uma resposta de uma situação de estresse”, afirmou um psiquiatra, o
dr. Steven Bruce, da Brown University, Rhode Island, EUA.
Terapia
cognitiva comportamental
No conceito de alguns renomados psiquiatras, o que eles denominam
“terapia cognitiva comportamental” pode curar tais transtornos. Essa prática consiste
também no emprego de medicamentos antidepressivos tricíclicos,
benzodiazepínicos e os IRSS (antidepressivos inibidores seletivos da recaptação
da serotonina). A terapia cognitiva comportamental expõe o paciente a situações
de estresse e, com o tempo, ele pode aprender a lidar com estas e até adquirir
autodomínio, dependendo do caso, com o suporte dos tais medicamentos.
O diretor do Programa de Tratamento de Diagnóstico Duplo do Centro
Médico de Harbor, na Universidade da Califórnia, EUA, John Tsuang, crê no bom
êxito da terapia cognitiva comportamental. Embora outros médicos a subestimem,
Tsuang põe confiança nesse método. “Ainda não sabemos ao certo como
funcionaria; porém, sabemos que a mente pode ser bem forte na correção de
comportamentos”, disse isso em outubro de 2004, durante conferência no
Congresso Brasileiro de Psiquiatria, em Salvador, BA.
Sob tal ponto de vista, concordamos com o diretor, uma vez que, nós,
espíritas, sabemos acerca da importância da mente. De fato, ela é capaz de
admiráveis casos; porém, esta tanto pode se aviltar sem cogitar do balanço
moral da consciência, como pode se engrandecer espiritualmente através das
dificuldades, superando ou resolvendo um problema de difícil resolução.
Que
diz o Evangelho
O Evangelho segundo o Espiritismo diz que, no transcorrer de nossas
existências físicas, acontece uma série de dissabores, cujas causas se
encontram em nós mesmos, de acordo com nosso mau procedimento e excessos de
toda a sorte. “O homem é, assim, num grande número de casos, o autor de seus
próprios infortúnios”, afirmou Allan Kardec em sua exposição escrita[3].
Quer dizer, o homem não conhecerá mais que a aflição, se estacionar nas
ideias obscuras da exterioridade, por isso a doença, para ele, ilógica.
Escreveu o notável filósofo espírita, Léon Denis: “O homem só é grande, só tem
valor pelo seu pensamento” [4]. Pensamentos de ansiedade, de insegurança e de
malogro na maneira de proceder na alegria ou na dor e todo o conjunto de
problemas atinentes a desequilíbrios são sintomas doentios da alma.
Alguns chegam mesmo a cometer suicídio, nos EUA e em outros países
ditos de primeiro mundo, pensam em não continuar sofrendo, com “medo de morrer”
ou de ficar loucos por causa de traumas causados pelo pânico, disse Bruce. O
trabalho de psiquiatras brasileiros e estrangeiros é digno de todo o nosso
respeito. Segundo os médicos preocupados em dar combate a esse sofrimento de
ricos e pobres, o fundamental é o equilíbrio, além de exercícios, de uma dieta
saudável, de alguma ocupação interessante, de atividades lúdicas.
E nós, por nossa vez, acrescentamos que, independente da terapia
cognitiva, de exercícios e dietas saudáveis, de crença religiosa e de qualquer
modo de pensar, todos somos filhos de um mesmo Pai, que é Deus, e Ele nos criou
para que sejamos saudáveis, sobretudo, felizes. Em meio à aflição, procuremos
jeito de ocorrer um famoso salmo: “O Senhor é meu pastor e nada me faltará” [5], principalmente
você, caro leitor ou cara leitora, se “por acaso” lê estas linhas, estando
angustiadamente inseguro (a), ansioso (a), com a autoestima em baixa por causa
de algum dos mencionados sintomas.
Quanto a você, meu irmão ou minha irmã de fé espírita, oremos, vigiemos
sem cessar (não o próximo, e sim nós mesmos!) conforme solicita nosso querido
Mestre Jesus, o Médico dos Médicos. Espírita de verdade, conhecedor da sua
Doutrina, não sente depressão nem teme coisa alguma porque, antes de tudo,
confia plenamente (e sabe como ninguém por que confia) em Jesus, em Deus e na
salutar influência dos bondosos Espíritos executores da Sua vontade.
Por último, reflitamos sobre importante receita do Espírito Emmanuel
pela incomparável mediunidade psicográfica do bondoso e saudoso médium
Francisco Cândido Xavier: “Lança as inquietudes sobre as tuas esperanças em Nosso
Pai Celestial porque o Divino Amor cogita do bem-estar de todos nós. Justo é
desejar firmemente a vitória da luz, buscar a paz com perseverança,
disciplinar-se para a união com os planos superiores, insistir por
sintonizar-se com as esferas mais altas. Não olvides, porém, que a ansiedade
precede sempre a ação de cair” [6].
[2]
Ramalho, Cristina. Mal dos tempos. In: Diálogo
médico. Ano 31, nr. 1. São Paulo: Editora Livre, fevereiro/janeiro de
2005. p. 54.
[3]
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo.
Tradução Guillon Ribeiro. 77. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira
(Feb), 1979. Capítulo 5.o, item 4, p. 102.
[5]
ALMEIDA, Tradução de João Ferreira de. A bíblia
sagrada. 100.000. ed. Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica do Brasil, 1960. Cap.
23, vers. 1 a 6, p. 576.
[6]
XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso (Espírito
Emmanuel). 10. ed. Rio: Feb, 1984. Tema 8, p. 27.
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