terça-feira, 30 de junho de 2015

A Força Psíquica. Os fluídos. O magnetismo[1]




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Negado muito tempo pelas corporações doutas, como negadas foram, por elas, a circulação do sangue, a vacina, o método antisséptico e tantas outras descobertas, o magnetismo, tão antigo quanto o mundo, acabou por penetrar no domínio científico sob o nome de hipnotismo.
É verdade que os processos diferem. No hipnotismo, é pela sugestão que se atua sobre o sensitivo, a princípio para o adormecer, e em seguida para provocar fenômenos. A sugestão é a subordinação de uma vontade a outra. O sensitivo se abandona ao experimentador e executa suas ordens, expressas pela palavra e pelo gesto, ou simplesmente pelo pensamento. Pode obter-se o mesmo resultado com as práticas magnéticas. A única diferença consiste nos meios empregados. Os dos hipnotizadores são, antes de tudo, violentos. Se podem curar certas afecções – e não é possível desconhecer que sua aplicação à terapêutica tenha dado resultados apreciáveis –, na maior parte das vezes ocasionam desordens no sistema nervoso e, com a continuação, desequilibram o sensitivo, ao passo que os eflúvios magnéticos, bem dirigidos, quer em estado de vigília, quer no sono, restabelecem com frequência a harmonia nos organismos perturbados.
Vimos que a sugestão pode ser exercida de perto ou de longe, tanto no plano visível quanto no invisível, quer por operadores humanos, quer por agentes ocultos. Permitindo ao indivíduo agir mentalmente sobre outro, sem o concurso dos sentidos, ela nos faz melhor compreender a ação do Espírito sobre o médium. O que, com efeito, pode obter o homem, cuja ação e poder são limitados, mesquinhos, restritos, uma inteligência desembaraçada dos obstáculos da matéria grosseira muito melhor o poderá: conseguirá influenciar o sensitivo, inspirá-lo, servir-se dele para realizar os fins que se propõe.
O magnetismo, considerado em seu aspecto geral, é a utilização, sob o nome de fluido, da força psíquica por aqueles que abundantemente a possuem.
A ação do fluido magnético está demonstrada por exemplos tão numerosos e comprovativos que só a ignorância ou a má-fé poderiam hoje lhe negar a existência. Citemos um caso entre mil[2].
“O Sr. Boirac, reitor da Academia de Grenoble, foi vice-presidente da Sociedade Hipnótica de Paris, e abandonou o hipnotismo pelo magnetismo depois da seguinte experiência: entrando em casa um dia, à tarde, encontrou seu criado a dormir. O Sr. Boirac o avistou desde o patamar da escada em que se achava, e teve a ideia de tentar uma experiência magnética. Do lugar onde estava estendeu a mão direita na direção e à altura dos pés do criado adormecido. Após um ou dois minutos, tendo levantado a mão, viu, com surpresa, elevarem-se os pés do criado e acompanharem o movimento ascensional da mão. Renovou diversas vezes a experiência, e de todas elas os resultados foram idênticos”.
A vontade de aliviar, de curar – dissemos – comunica ao fluido magnético propriedades curativas. O remédio para os nossos males está em nós. Um homem bom e sadio pode atuar sobre os seres débeis e enfermiços, regenerá-los por meio de sopro, pela imposição das mãos e mesmo mediante objetos impregnados da sua energia. Opera-se mais frequentemente por meio de gestos, denominados passes, rápidos ou lentos, longitudinais ou transversais, conforme o efeito, calmante ou excitante, que se quer produzir nos doentes. Esse tratamento deve ser seguido com regularidade, e as sessões renovadas todos os dias até à cura completa.
Pode assim a pessoa, pela auto-magnetização, tratar-se a si mesma, descarregando com o auxílio de passes ou de fricções os órgãos enfraquecidos e impregnando-os das correntes de força desprendidas das mãos.
A fé vivaz, a vontade, a prece e a evocação dos poderes superiores amparam o operador e o sensitivo. Quando ambos se acham unidos pelo pensamento e pelo coração, a ação curativa é mais intensa.
A exaltação da fé, que provoca uma espécie de dilatação do ser psíquico e o torna mais acessível aos influxos do Alto, permite admitir e explicar certas curas extraordinárias operadas nos lugares de peregrinação e nos santuários religiosos.
Esses casos de curas são numerosos e baseados em testemunhos muito importantes para que se possa a todos pôr em dúvida. Não são peculiares a tal ou tal religião: encontram-se indistintamente nos mais diversos meios: católicos, gregos, muçulmanos, hindus, etc.
Livre de todo acessório teatral, de todo móvel interesseiro, praticado com o fim de caridade, o magnetismo vem a ser a medicina dos humildes e dos crentes, do pai de família, da mãe para seus filhos, de quantos sabem verdadeiramente amar.
Sua aplicação está ao alcance dos mais simples. Não exige senão a confiança em si, a fé no Poder Infinito que por toda a parte faz irradiar a vida e a força. Como o Cristo e os apóstolos, como os santos, os profetas e os magos, todos nós podemos impor as mãos e curar, se temos amor aos nossos semelhantes e o desejo ardente de os aliviar.
Quando o paciente se acha adormecido sob a influência magnética e parece oferecer-se à sugestão, não a empregueis senão com palavras de doçura e de bondade. Persuadi, em lugar de intimar. Em todos os casos, recolhei-vos em silêncio, sozinho com o paciente, e apelai para os Espíritos benfazejos que pairam sobre as dores humanas. Então sentireis descer do Alto sobre vós e propagar-se ao sensitivo o poderoso influxo. Uma onda regeneradora penetrará por si mesma até à causa do mal; e demorando, renovando semelhante ação, tereis contribuído para aligeirar o fardo das misérias terrestres.
Quando se observa o grande poder do magnetismo curativo e os serviços que já tem prestado à Humanidade, sente-se que nunca seria demasiado protestar contra as tendências dos poderes públicos, em certos países, no sentido de lhe embaraçar o livre exercício. Assim procedendo, eles violam os mais respeitáveis princípios, calcam aos pés os sagrados direitos do sofrimento. O magnetismo é um dom da Natureza e de Deus. Regular-lhe o uso, coibir os abusos, é justo. Impedir, porém, a sua aplicação seria usurpar a ação divina, atentar contra a liberdade e o progresso da Ciência e fazer obra de obscurantismo.
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[1] No Invisível - Léon Denis - FEB
[2] BULLETIN DE IA SOCIÉTÉ D'ETUDES PSYCHIQUES DE NANCY, fevereiro de 1901, Pág. 60.

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