O espaço é de vital importância
para a movimentação dos seres, especialmente do homem.
Experiências de laboratório
demonstram que, em uma área circunscrita, na qual convivem bem alguns
exemplares de ratos, à medida que aumenta o seu número, neles se manifesta a
agressividade, até o momento em que, tornando-se mínimo o espaço para a
movimentação, os roedores lutam, dominados por violenta ferocidade que os leva
a dizimar-se.
Graças a isto, nas cidades e
lugares outros superpopulosos, o respeito pela criatura e à propriedade
desaparece, aumentando, progressivamente, a violência e o crime, que se dão as
mãos, em explosões de sandices inimagináveis.
A diminuição do espaço retira a
liberdade, restringindo-a, na razão do volume daqueles que o ocupam, o que dá
margem à promiscuidade no relacionamento das pessoas, com o consequente
desrespeito entre elas mesmas.
Inconscientemente, a preservação
do espaço se torna um direito de propriedade, que adquire valores crescentes em
relação à sua escassez e localização.
O homem, como qualquer outro
animal, luta com todas as forças e por todos os meios para a manutenção da sua
posse, a dominação do espaço adquirido e, às vezes, pelo que gostaria de
possuir, tombando nas ambições desmedidas, na ganância.
No relacionamento social, cada
indivíduo é cioso dos seus direitos, do seu espaço físico e mental, da sua
integridade, da sua intimidade, zelando pela independência de ação e conduta
nestas áreas comportamentais.
Quando os sentimentos afetivos
irrompem e ele deseja repartir a sua liberdade com a pessoa amada, naturalmente
espera compartir dos valores que ela possui, numa substituição automática
daquilo que irá ceder. Trata-se de uma concessão-recepção, gerando uma ação
cooperativista.
A princípio, o encantamento ou a
paixão substitui a razão, quebrando um hábito arraigado, sem chance de
preenchê-lo por um novo, que exige um período de consciente adaptação para uma
convivência agradável, emocionalmente retributiva. Apesar disso, ficam
determinados bolsões que não podem ou não devem ser violados, constituindo os
remanescentes da liberdade de cada um, o reino
inconquistado pelo alienígena.
Nos relacionamentos das pessoas
imaturas, os espaços são, de imediato, tomados e preenchidos, tornando a
convivência asfixiante, insuportável, logo passam as explosões do desejo ou os
artifícios da novidade.
Surgem, nesse período, as
discussões por motivos fúteis, que escamoteiam as causas reais, nascendo as
mágoas e rancores que separam os indivíduos e, às vezes, os arruínam.
Nas afeições das pessoas
amadurecidas psicologicamente, não há predominância de uma vontade sobre a do
outro, porém, um bom entrosamento que sugere a eleição da sugestão melhor, sem
que ocorra a governança de uma por outra vida, que a submetendo aos seus caprichos
comprime-a, estimulando as reações de malquerença silenciosa que explodirá,
intempestivamente, em luta calamitosa.
Por isto mesmo, o afeto
conquista sem se impor, deixando livres os espaços emocionais, que substituem
os físicos cedidos, ampliando-se os limites da confiança, que permite o
trânsito tranquilo na sua e na área do ser amado, que lhe não obstaculiza o
acesso, o que é, evidentemente, de natureza recíproca.
O homem ou a mulher de
personalidade infantil deseja o espaço do outro, sem querer ceder aquele que
acredita seu. Quando consegue, limita a movimentação do afeto, a quem deseja
subjugar por hábeis maneiras diversas, escondendo a insegurança que é
responsável pela ambição atormentada. Se não logra, parte para o jogo dos
caprichos, que termina em incompatibilidade
de temperamentos, disfarçando as suas reações neuróticas.
A vida feliz é um dar, um
incessante receber.
Toda doação gratifica, e nela,
embutida, está a satisfação da oferta, que é uma forma de gratulação. Aquele
que se recusa a distribuição padece a hipertrofia da emoção retribuída e
experimenta carência, mesmo estando na posse do excesso.
Somente doa, cede, quem tem e é
livre, interiormente amadurecido, realizado. Assim, mesmo quando não recebe de
volta e parece haver perdido o investimento, prossegue pleno, porquanto,
somente se perde o que não se tem, que é a posse da usura e não o valor que
pode ser multiplicado.
A pessoa se deve acostumar com o
seu espaço, liberando-se da propriedade total sobre ele e adaptando-se,
mentalmente, à ideia de reparti-lo com outrem, mantendo porém, integral, a sua
liberdade íntima, cujos horizontes são ilimitados.
Ademais, deve considerar que os
espaços físicos são transitórios, em razão da precariedade da própria vida
material, que se interrompe com a morte, transferindo o ser para outra
dimensão, na qual os limites tempo e espaço passam a ter outras significações.
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