Na área dos conflitos
psicológicos a competição surge, quase sempre, como estímulo, a fim de
fortalecer a combalida personalidade do indivíduo que, carente de criatividade,
apega-se às experiências exitosas que outros realizaram, para impor-se e,
assim, enfrentar as próprias dificuldades, escamoteando-as com o esforço que se
aplica na conquista do que considera meta de triunfo.
Ambicionando a realização
pessoal e temendo o insucesso que, afinal, é um desafio à resistência moral e à
sua perseverança no ideal, prefere disputar as funções e cargos à frente, sem
qualquer escrúpulo, em luta titânica, na qual se desgasta, esperando
compensações externas, monetárias e de promoção social, assim massageando o ego, ambicioso e frágil.
O homem que age desta forma,
está sempre um passo atrás da sua vítima provável, que de nada suspeita e
ajuda-o, estimula-o até padecer-lhe a injunção ousada quão lamentável.
Por sua vez, o triunfador não se apercebe que no degrau
deixado vago, já alguém assoma utilizando-se dos mesmos artifícios ou
mascarando-os com os olhos postos no seu trono
passageiro.
A competição saudável, em forma
de concorrência, fomenta o progresso, multiplica as opções, abre espaços para
todos que, criativos, propõem variações do mesmo produto, novidades, ideias
originais, renovação de mercado.
De outra forma, as
personalidades conflituosas, arquitetando planos de segurança, apegam-se ao
trabalho que realizam, às empresas onde laboram, crendo-se indispensáveis,
responsáveis pelo primeiro lugar que conseguiram com sacrifício, e
transferem-se, psicologicamente, para a sua Entidade. Somente se sentem felizes
e compensadas quando discutem o seu
trabalho, a sua execução, a sua importância. O lar, a família, o
repouso, as férias se descobrem, porque não preenchem as falsas necessidades do
ego exacerbado. Respiram o clima de
preocupação do trabalho em toda parte e vivem em função dele.
Sentem o triunfo após os anos de
lutas exaustivas, e informam que, a sua saída seria uma tragédia, um caos para
a organização, já que são pessoas chaves, molas mestras, sem as quais nada
funciona, ou se tal se dá é precariamente.
Não percebem que o tempo escoa
na ampulheta das horas, os métodos de ação se renovam, o cansaço os vence, a
vitalidade diminui e, no degrau, imediatamente inferior, já está o competidor,
jovem ambicioso aguardando, disputando, aprendendo a sua técnica e mais bem
equipado do que ele, em condições de substituí-lo com vantagens. A sua cegueira
não lhes permite enxergar. Quando o observam, deprimem-se, revoltam-se contra
os limites orgânicos inexoráveis, utilizando-se de artifícios para
prosseguirem.
Dão-se conta que passaram a ser
constrangimento no trabalho, que pensavam pertencer-lhes, lamentando-se,
queixando “que deram a vida e agora colhem ingratidão”. Certamente, os homens indispensáveis doaram a vida como
fuga de si mesmos e ofereceram-na a um ser
sem alma, sem coração, que apenas
objetiva lucros, portanto, insensível, impessoal... Ali, os filhos substituem
os pais, expulsam-nos, jovialmente,
sob a alegação de que estes merecem o justo
repouso, as viagens de férias que
nunca tiveram; aposentam-nos. Livram a Empresa deles, de sua dominação, não
mais condizente com os tempos modernos.
Eles foram bons e úteis no começo, não mais agora, quando
começam a emperrar a máquina do progresso,
a impedirem, por inadaptação óbvia, o curso do crescimento e desenvolvimento da
entidade...
Assim, chega o momento da
realidade para o homem que ocupa o primeiro lugar, o indispensável. É convidado
a solicitar a aposentadoria, quando não é jubilado sem maior consideração.
Surpreso, diz-se em condições de
prosseguir. Afirma que ainda é jovem; quer trabalhar; dispõe de saúde... O
silêncio constrangedor adverte-o que não há mais outra alternativa. Ele foi
usado como peça de engrenagem empresarial que, desgastada, deve ser substituída
de imediato a benefício geral. Oportunamente, a benefício da organização, ele
tomara a mesma atitude em relação a outros funcionários, que foram afastados.
A amargura domina-o, o
ressentimento enfurece-o e a frustração, longamente adiada, assoma e o conduz à
depressão.
As interrogações sucedem-se. “E
agora? Que fazer da vida, do tempo?”
Como não cultivou outros
valores, outros interesses, arroja-se ao fosso da autodestruição,
egoisticamente, esquecido dos familiares e amigos, afinal, aos quais nunca deu
maior importância nem valorização. Afasta-se mais do convívio social e, não
raro, suicida-se, direta ou indiretamente. A empresa não lhe sente a falta,
prossegue em funcionamento.
Somente quem realizou uma boa
estrutura de personalidade, enfrenta com razoável tranquilidade o choque de tal
natureza, para o qual se preparou, antevendo o futuro e programando-se para
enfrenta-lo, transferindo-se de uma ação para outra, de uma empresa para um
ideal, de uma máquina para um grupamento humano respirável, emotivo, pensante.
Ninguém é indispensável em lugar
nenhum. O primeiro de agora será dispensável amanhã, assim como o último de
hoje, possivelmente, estará no comando no futuro. A morte, a cada momento,
demonstra-o.
A polivalência das aspirações é
reflexo de normalidade, de equilíbrio comportamental, de harmonia da
personalidade, convidando o homem a buscar sempre e mais.
A desincumbência do dever
reflete-lhe o valor moral e a nobreza da sua consciência. Segurar as rédeas da
dominação em suas mãos fortes, denota
insegurança íntima, crise de conduta.
O homem tem o dever de abraçar
ideais de enobrecimento pessoal e grupal, participar, envolver-se
emocionalmente, fazer-se presente na comunidade, como complemento da sua
conduta existencial.
A criatura terrena está em
viagem pela Terra, e todo trânsito, por mais demorado, sempre termina. Ninguém
se engane e não engane a outros.
Uma autoanálise cuidadosa, uma
reflexão periódica a respeito dos valores reais e aparentes, a meditação sobre
os objetivos da vida concedem pautas e medidas para a harmonia, para o êxito
real do ser.
A finalidade da existência
corporal é a conquista dos valores eternos, e o êxito consiste em lograr o
equilíbrio entre o que se pensa ter e
o que se é realmente, adquirindo a
estabilidade emocional para permanecer o mesmo, na alegria como na tristeza, na
saúde conforme na enfermidade, no triunfo qual sucede no fracasso.
Quem consiga a ponderação para
discernir o caminho, e o percorra com tranquilidade, terá começado a busca do
êxito que, logo mais, culminará com alegria.
[1] O Homem
Integral – Joanna de Ângelis/Divaldo
Franco – Bahia: Centro Espírita Caminho da Redenção, 1990
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