Vista medianímica pelos olhos
Quando um médium vê um Espírito,
pode-se, a priori, estabelecer a seguinte questão: é o médium que experimenta
uma modificação ou o Espírito? Com efeito, no estado ordinário, não vemos os
Espíritos, porque nossos órgãos são muito grosseiros para nos fazer perceber
certas vibrações que lhes escapam. Mas quando se realiza a visão, ou nossos
órgãos adquiriram maior sensibilidade ou o Espírito fez com que seu invólucro
experimentasse certas modificações que, diminuindo a rapidez das vibrações
moleculares perispirituais, pudesse torná-lo visível.
Se este último modo de encarar o
fenômeno fosse exato, o Espírito seria visto por todas as pessoas presentes: é
o que se dá, no caso das materializações, que já estudamos com Crookes; mas,
quando numa assembleia, só uma pessoa vê os Espíritos, é que esta experimenta
uma variação orgânica do sentido da vista, que é interessante estudar.
O olho, como se sabe, é uma
verdadeira câmara escura, no fundo da qual se desenham as impressões luminosas.
A retina, formada pela expansão do nervo ótico, transporta ao cérebro as
vibrações luminosas; aí elas se transformam em sensações. Os fisiologistas não
se limitaram a estudar a participação da retina na função visual, remontando
dos efeitos às causas, mas procuraram a explicação desses fatos.
Para explicar a sensação da cor, a do
claro, a do escuro, eles admitiram velocidades diferentes nas ondas de um
fluido (éter), que estivesse espalhado em todo o Universo. Essas ondas
impressionariam a retina, de maneira diferente, e a natureza da percepção, de
que a alma tem consciência, seria subordinada a essas impressões variáveis. Por
esta teoria, admite-se que os fenômenos de visão sejam, simplesmente, o
resultado da percepção, pelo sensorium,
de um estado determinado da retina, e a sensação da obscuridade é explicada
pela ausência de qualquer sensação, e pelo estado da própria retina.
O que prova, aliás, a existência de
uma modificação superveniente na retina, durante a percepção dos objetos luminosos,
é a possibilidade de se reproduzir as mesmas sensações por outro excitante, que
não a luz. Toda causa capaz de determinar uma alteração no estado da membrana
nervosa do olho determina sensações íntimas, ou por outra, subjetivas de luz.
Comprimindo-se o olho com o dedo, percebem-se figuras de formas diversas: ora
anulares, ora radiadas.
Acontece, por vezes, que estas
sensações subjetivas se produzem espontaneamente. Diz Muller ter verificado, em
certos casos, a aparição de uma pequena mancha branca, que se produzia ao mesmo
tempo em que os movimentos respiratórios; virando-se bruscamente os olhos para
o lado, veem-se aparecer, de repente, círculos luminosos, no campo visual
mergulhado na obscuridade.
Admitidas as sensações de luz como o
resultado de uma alteração sobrevinda na retina, indagaram alguns fisiologistas
onde esse estado era percebido pela alma. É evidentemente no encéfalo e não na
retina. O que põe fora de dúvida a participação da retina no ato da visão é que
os animais de vista mais penetrante são os que têm a retina mais desenvolvida.
Sendo esta membrana a extremidade expandida do nervo ótico, e não apresentando
uma sensibilidade igual em toda a sua superfície, as fibras que compõem o nervo
ótico não vibram todas em uníssono. As mais sensíveis poderão ser
impressionadas por ondas luminosas, que deixarão as outras em repouso. Tal fato
é a consequência da especificação dos órgãos, ou seja, da tendência que possuem
as fibras para se acomodarem a um estado vibratório determinado.
A sensibilidade de um órgão depende
do maior ou menor número de fibras que ele contém, sendo cada uma capaz de
tomar um movimento vibratório particular, em relação com as causas externas que
podem influenciar esse órgão.
Não esqueçamos que uma condição é
indispensável ao bom funcionamento dos aparelhos sensoriais, a de que cada
órgão tenha uma quantidade determinada de fluido nervoso à sua disposição; as
sensações serão agudas ou nulas, conforme aquela quantidade aumenta ou diminui.
Temos numerosos exemplos. Em certos estados patológicos o ouvido atinge uma
agudeza notável; esse desenvolvimento é devido à acumulação momentânea do
fluido nervoso no nervo acústico; o mesmo acontece com os outros sentidos.
Isto posto, vejamos, pelo estudo da
luz, entre que limites de vibrações se pode exercer, no estado normal, o
sentido da vista.
Suponhamos que fazemos passar,
através de um prisma, um raio de sol; se recolhermos sobre um écran esse raio
refratado, notaremos que ele forma uma faixa luminosa, composta de sete cores,
que se chamou de espectro solar. Os coloridos extremos são o vermelho e o
violeta; além dessas duas cores o olho não percebe mais sensações luminosas.
Entretanto, colocando-se sais de prata nessa parte obscura, eles são
decompostos, o que prova que, além do violeta, existem radiações particulares
que o olho não é capaz de apanhar, às quais o termômetro é insensível, mas cuja
atividade química é poderosa. Além do vermelho, existem ondulações caloríficas
invisíveis.
Chegamos, assim, a esta conclusão
necessária, a de que o espectro completo formado pelas radiações solares se
prolonga além do violeta e do vermelho, e que é só a parte média do espectro
total que nossos olhos podem distinguir.
Existe, pois, luz que não vemos, há
vibrações luminosas inapreciáveis à vista, porque a retina, que é o aparelho
receptor, não pode registrar as vibrações luminosas muito rápidas para ela.
Cálculos recentes mostraram que as ondulações etéreas, de menos de 400 trilhões
por segundo, ou mais de 790, são impotentes para impressioná-la. O mesmo para
com o ouvido e com os outros sentidos, de sorte que o homem é uma máquina
animal dotada de aparelhos receptores, que funcionam entre fraquíssimos
limites, comparados à infinidade da natureza.
Esta ideia é capital para a
compreensão dos fenômenos espíritas. Só percebemos a matéria pela vista quando
suas vibrações não ultrapassam 790 trilhões por segundo, mas, como vimos, há
ondulações mais rápidas, que nos escapam. Ora, os fluidos perispirituais são
matéria em estado de rarefação extrema; possuem um movimento vibratório muito
rápido, de sorte que, em estado normal, nosso olho não pode ver os Espíritos.
Mas, se pudéssemos diminuir o número das vibrações perispirituais, se
conseguíssemos trazê-las aos limites compreendidos na visão, veríamos os
Espíritos. Esse resultado pode ser atingido de duas maneiras:
1º- diminuindo o número das
ondulações luminosas;
2º- aumentando o poder visual dos
olhos.
É possível diminuir o movimento
vibratório de um raio de luz? Não hesitamos em afirmá-lo, porque notáveis
experiências feitas ultimamente vieram tornar essa verdade indubitável.
Os raios luminosos ultravioleta, do
espectro, invisíveis até então, tornam-se visíveis quando são projetados em uma
espécie particular de vidro, contendo um silicato de um metal denominado
urânio. Esse vidro tem a propriedade de tornar visíveis os raios que, sem ele,
não nos impressionariam os olhos. Se tomarmos um pedaço desse vidro e o
iluminarmos, sucessivamente, à luz elétrica, à de uma vela, à de uma lâmpada de
gás, e se o colocarmos no campo de um espectro prismático de luz branca,
vê-lo-emos brilhar conforme a cor da luz que lhe cair em cima. Se o iluminarmos
com raios ultravioleta, notá-lo-emos com uma cor misteriosa, que revela a
presença de raios até agora invisíveis aos olhos mortais.
Examinemos o caso em que a potência
do olho pode ser aumentada; essa operação terá ainda, por fim, fazer ver os
Espíritos. A alma, dissemo-lo muitas vezes, é uma essência indivisível,
imaterial e intangível, que constitui a personalidade de cada indivíduo; ela é
cercada de matéria quintessenciada, que lhe forma o invólucro e pela qual entra
em relação com a natureza exterior. Esse corpo fluídico, em virtude de sua
rarefação, possui um movimento molecular mais rápido que o dos gases e dos
vapores, que já são invisíveis para nós. Logo, também ele não será visível,
porque os olhos não têm, no estado normal, fibra que possa vibrar harmonicamente
com ele.
Se um Espírito, porém, quer
manifestar sua presença, entra em relação fluídica com o encarnado, assim como
vimos precedentemente, e, estabelecida a comunicação, acumula pelo magnetismo
espiritual, no nervo ótico, uma quantidade de fluido nervoso maior que de
ordinário; certas fibras se sensibilizam e podem, desde logo, entrar em
vibração correspondente à do invólucro do Espírito. Desde que se produz esse
fenômeno, o ser, assim modificado, vê o Espírito e o verá enquanto a ação continuar.
Pouco a pouco, esta operação se vai
renovando, grande número de vezes; as fibras adquirem maior aptidão vibratória,
as ondas luminosas se propagam no organismo, seguindo a linha a que Hérbert
Spencer deu o nome de linha de menor resistência, de sorte que a onda caminha,
cada vez com mais facilidade, ao longo dessa linha e, por fim, ela mesma acaba
por tomar naturalmente esse movimento vibratório, desde que a primeira molécula
é agitada. O médium, na realidade, tem um sentido novo, devido à extensão do
aparelho visual.
Nós o sabemos, quando o Espírito se
quer tornar visível a muitas pessoas, é sempre obrigado a tomar ao médium
fluido nervoso, mas a modificação se opera nele e não mais nos olhos dos
assistentes. Vimos que a simples alteração no movimento molecular de um corpo
pode fazê-lo passar do estado transparente à opacidade. Da mesma forma, um
vapor que se condensa, isto é, cujo movimento vibratório diminui, torna-se
muito rapidamente visível, sob a forma de nevoeiro; enfim, que o vidro de
urânio permite ver os raios do espectro, os quais, sem ele, seriam invisíveis.
O Espírito pode, portanto, agir de
maneira análoga. Esse fenômeno pinta-nos fielmente o que se passa no caso da
fotografia dos Espíritos. Estudemos esse novo gênero de manifestação. a
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