domingo, 17 de maio de 2015

Vidência pelos olhos[1]



Vista medianímica pelos olhos

          Quando um médium vê um Espírito, pode-se, a priori, estabelecer a seguinte questão: é o médium que experimenta uma modificação ou o Espírito? Com efeito, no estado ordinário, não vemos os Espíritos, porque nossos órgãos são muito grosseiros para nos fazer perceber certas vibrações que lhes escapam. Mas quando se realiza a visão, ou nossos órgãos adquiriram maior sensibilidade ou o Espírito fez com que seu invólucro experimentasse certas modificações que, diminuindo a rapidez das vibrações moleculares perispirituais, pudesse torná-lo visível.
          Se este último modo de encarar o fenômeno fosse exato, o Espírito seria visto por todas as pessoas presentes: é o que se dá, no caso das materializações, que já estudamos com Crookes; mas, quando numa assembleia, só uma pessoa vê os Espíritos, é que esta experimenta uma variação orgânica do sentido da vista, que é interessante estudar.
          O olho, como se sabe, é uma verdadeira câmara escura, no fundo da qual se desenham as impressões luminosas. A retina, formada pela expansão do nervo ótico, transporta ao cérebro as vibrações luminosas; aí elas se transformam em sensações. Os fisiologistas não se limitaram a estudar a participação da retina na função visual, remontando dos efeitos às causas, mas procuraram a explicação desses fatos.
          Para explicar a sensação da cor, a do claro, a do escuro, eles admitiram velocidades diferentes nas ondas de um fluido (éter), que estivesse espalhado em todo o Universo. Essas ondas impressionariam a retina, de maneira diferente, e a natureza da percepção, de que a alma tem consciência, seria subordinada a essas impressões variáveis. Por esta teoria, admite-se que os fenômenos de visão sejam, simplesmente, o resultado da percepção, pelo sensorium, de um estado determinado da retina, e a sensação da obscuridade é explicada pela ausência de qualquer sensação, e pelo estado da própria retina.
          O que prova, aliás, a existência de uma modificação superveniente na retina, durante a percepção dos objetos luminosos, é a possibilidade de se reproduzir as mesmas sensações por outro excitante, que não a luz. Toda causa capaz de determinar uma alteração no estado da membrana nervosa do olho determina sensações íntimas, ou por outra, subjetivas de luz. Comprimindo-se o olho com o dedo, percebem-se figuras de formas diversas: ora anulares, ora radiadas.
          Acontece, por vezes, que estas sensações subjetivas se produzem espontaneamente. Diz Muller ter verificado, em certos casos, a aparição de uma pequena mancha branca, que se produzia ao mesmo tempo em que os movimentos respiratórios; virando-se bruscamente os olhos para o lado, veem-se aparecer, de repente, círculos luminosos, no campo visual mergulhado na obscuridade.
          Admitidas as sensações de luz como o resultado de uma alteração sobrevinda na retina, indagaram alguns fisiologistas onde esse estado era percebido pela alma. É evidentemente no encéfalo e não na retina. O que põe fora de dúvida a participação da retina no ato da visão é que os animais de vista mais penetrante são os que têm a retina mais desenvolvida. Sendo esta membrana a extremidade expandida do nervo ótico, e não apresentando uma sensibilidade igual em toda a sua superfície, as fibras que compõem o nervo ótico não vibram todas em uníssono. As mais sensíveis poderão ser impressionadas por ondas luminosas, que deixarão as outras em repouso. Tal fato é a consequência da especificação dos órgãos, ou seja, da tendência que possuem as fibras para se acomodarem a um estado vibratório determinado.
          A sensibilidade de um órgão depende do maior ou menor número de fibras que ele contém, sendo cada uma capaz de tomar um movimento vibratório particular, em relação com as causas externas que podem influenciar esse órgão.
          Não esqueçamos que uma condição é indispensável ao bom funcionamento dos aparelhos sensoriais, a de que cada órgão tenha uma quantidade determinada de fluido nervoso à sua disposição; as sensações serão agudas ou nulas, conforme aquela quantidade aumenta ou diminui. Temos numerosos exemplos. Em certos estados patológicos o ouvido atinge uma agudeza notável; esse desenvolvimento é devido à acumulação momentânea do fluido nervoso no nervo acústico; o mesmo acontece com os outros sentidos.
          Isto posto, vejamos, pelo estudo da luz, entre que limites de vibrações se pode exercer, no estado normal, o sentido da vista.
          Suponhamos que fazemos passar, através de um prisma, um raio de sol; se recolhermos sobre um écran esse raio refratado, notaremos que ele forma uma faixa luminosa, composta de sete cores, que se chamou de espectro solar. Os coloridos extremos são o vermelho e o violeta; além dessas duas cores o olho não percebe mais sensações luminosas. Entretanto, colocando-se sais de prata nessa parte obscura, eles são decompostos, o que prova que, além do violeta, existem radiações particulares que o olho não é capaz de apanhar, às quais o termômetro é insensível, mas cuja atividade química é poderosa. Além do vermelho, existem ondulações caloríficas invisíveis.
          Chegamos, assim, a esta conclusão necessária, a de que o espectro completo formado pelas radiações solares se prolonga além do violeta e do vermelho, e que é só a parte média do espectro total que nossos olhos podem distinguir.
          Existe, pois, luz que não vemos, há vibrações luminosas inapreciáveis à vista, porque a retina, que é o aparelho receptor, não pode registrar as vibrações luminosas muito rápidas para ela. Cálculos recentes mostraram que as ondulações etéreas, de menos de 400 trilhões por segundo, ou mais de 790, são impotentes para impressioná-la. O mesmo para com o ouvido e com os outros sentidos, de sorte que o homem é uma máquina animal dotada de aparelhos receptores, que funcionam entre fraquíssimos limites, comparados à infinidade da natureza.
          Esta ideia é capital para a compreensão dos fenômenos espíritas. Só percebemos a matéria pela vista quando suas vibrações não ultrapassam 790 trilhões por segundo, mas, como vimos, há ondulações mais rápidas, que nos escapam. Ora, os fluidos perispirituais são matéria em estado de rarefação extrema; possuem um movimento vibratório muito rápido, de sorte que, em estado normal, nosso olho não pode ver os Espíritos. Mas, se pudéssemos diminuir o número das vibrações perispirituais, se conseguíssemos trazê-las aos limites compreendidos na visão, veríamos os Espíritos. Esse resultado pode ser atingido de duas maneiras:
1º- diminuindo o número das ondulações luminosas;
2º- aumentando o poder visual dos olhos.
          É possível diminuir o movimento vibratório de um raio de luz? Não hesitamos em afirmá-lo, porque notáveis experiências feitas ultimamente vieram tornar essa verdade indubitável.
          Os raios luminosos ultravioleta, do espectro, invisíveis até então, tornam-se visíveis quando são projetados em uma espécie particular de vidro, contendo um silicato de um metal denominado urânio. Esse vidro tem a propriedade de tornar visíveis os raios que, sem ele, não nos impressionariam os olhos. Se tomarmos um pedaço desse vidro e o iluminarmos, sucessivamente, à luz elétrica, à de uma vela, à de uma lâmpada de gás, e se o colocarmos no campo de um espectro prismático de luz branca, vê-lo-emos brilhar conforme a cor da luz que lhe cair em cima. Se o iluminarmos com raios ultravioleta, notá-lo-emos com uma cor misteriosa, que revela a presença de raios até agora invisíveis aos olhos mortais.
          Examinemos o caso em que a potência do olho pode ser aumentada; essa operação terá ainda, por fim, fazer ver os Espíritos. A alma, dissemo-lo muitas vezes, é uma essência indivisível, imaterial e intangível, que constitui a personalidade de cada indivíduo; ela é cercada de matéria quintessenciada, que lhe forma o invólucro e pela qual entra em relação com a natureza exterior. Esse corpo fluídico, em virtude de sua rarefação, possui um movimento molecular mais rápido que o dos gases e dos vapores, que já são invisíveis para nós. Logo, também ele não será visível, porque os olhos não têm, no estado normal, fibra que possa vibrar harmonicamente com ele.
          Se um Espírito, porém, quer manifestar sua presença, entra em relação fluídica com o encarnado, assim como vimos precedentemente, e, estabelecida a comunicação, acumula pelo magnetismo espiritual, no nervo ótico, uma quantidade de fluido nervoso maior que de ordinário; certas fibras se sensibilizam e podem, desde logo, entrar em vibração correspondente à do invólucro do Espírito. Desde que se produz esse fenômeno, o ser, assim modificado, vê o Espírito e o verá enquanto a ação continuar.
          Pouco a pouco, esta operação se vai renovando, grande número de vezes; as fibras adquirem maior aptidão vibratória, as ondas luminosas se propagam no organismo, seguindo a linha a que Hérbert Spencer deu o nome de linha de menor resistência, de sorte que a onda caminha, cada vez com mais facilidade, ao longo dessa linha e, por fim, ela mesma acaba por tomar naturalmente esse movimento vibratório, desde que a primeira molécula é agitada. O médium, na realidade, tem um sentido novo, devido à extensão do aparelho visual.
          Nós o sabemos, quando o Espírito se quer tornar visível a muitas pessoas, é sempre obrigado a tomar ao médium fluido nervoso, mas a modificação se opera nele e não mais nos olhos dos assistentes. Vimos que a simples alteração no movimento molecular de um corpo pode fazê-lo passar do estado transparente à opacidade. Da mesma forma, um vapor que se condensa, isto é, cujo movimento vibratório diminui, torna-se muito rapidamente visível, sob a forma de nevoeiro; enfim, que o vidro de urânio permite ver os raios do espectro, os quais, sem ele, seriam invisíveis.
          O Espírito pode, portanto, agir de maneira análoga. Esse fenômeno pinta-nos fielmente o que se passa no caso da fotografia dos Espíritos. Estudemos esse novo gênero de manifestação. a



[1] O Espiritismo perante a Ciência - Gabriel Delanne

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