Thuy-vy Nguyen[2]
Passar tempo sozinho pode causar
medo em muita gente, o que é compreensível. Ao mesmo tempo, a diferença entre
momentos de solitude e solidão é muitas vezes incompreendida.
Como psicóloga, estudo a
solitude — o tempo que passamos sozinhos, sem interagir com outras pessoas.
Comecei esta pesquisa há mais de dez anos e, até aquele momento, as descobertas
relacionadas ao tempo que os jovens passavam sozinhos sugeriam que eles frequentemente
se sentiam para baixo.
Nas redes sociais, na televisão
ou nas músicas que ouvimos, normalmente imaginamos a felicidade como euforia,
entusiasmo e animação. A partir dessa perspectiva, a solitude é muitas vezes
confundida com a solidão.
Na psicologia, os pesquisadores
definem a solidão como um sentimento de angústia que sentimos quando não temos,
ou não somos capazes de obter, os tipos de conexões ou relacionamentos sociais
que desejamos. A solitude é diferente.
Embora as definições de solitude
das pessoas possam variar, o que é interessante é que, para muitos, ser
solitário não significa necessariamente que não há mais ninguém por perto.
Em vez disso, muita gente pode
sentir — e de fato sente — solidão em espaços públicos, seja sentada em um café
movimentado tomando uma xícara de chá ou lendo um livro em um parque.
E minha pesquisa sugere que
reservar um tempo para si mesmo pode ter um impacto positivo no seu humor
diário.
Todos nós já tivemos dias em que
há problemas no trabalho, quando as coisas não saem como o esperado ou quando
assumimos muita responsabilidade e nos sentimos sobrecarregados.
O que eu descobri é que aprender
a reservar um tempo para si mesmo, um momento de solitude, pode te ajudar a
lidar com esses sentimentos.
O que podemos ganhar com a solitude?
Em uma série de experimentos,
levei alunos de graduação para uma sala para se sentarem em silêncio consigo
mesmos. Em alguns estudos, tirei as mochilas e dispositivos dos estudantes e
pedi que ficassem sentados apenas com seus pensamentos; em outras ocasiões, os
alunos ficaram na sala com livros ou celulares.
Depois de apenas 15 minutos
sozinhos, descobri que quaisquer emoções fortes que os participantes pudessem
estar sentindo, como ansiedade ou euforia, diminuíram. Concluí que a solitude
tem a capacidade de reduzir os níveis de excitação das pessoas, o que significa
que pode ser útil em situações em que nos sentimos frustrados, agitados ou com
raiva.
Muita gente poderia presumir que
apenas os introvertidos apreciariam a solitude. Mas embora seja verdade que os
introvertidos podem preferir ficar sozinhos, eles não são as únicas pessoas que
podem colher os benefícios da solitude.
Em uma pesquisa realizada com
mais de 18 mil adultos em todo o mundo, mais da metade votou na solitude como
uma das principais atividades que pratica para descansar. Portanto, se você é
extrovertido, não deixe que isso te impeça de reservar um tempo para a solitude
para desacelerar.
Ficar sozinho com seus pensamentos pode ser difícil
A parte desafiadora de passar um
tempo sozinho é que, às vezes, pode ser chato e solitário.
Muita gente acha que ficar a sós
com seus pensamentos pode ser difícil e prefere ter algo para fazer. De fato,
se forçar a sentar e não fazer nada pode fazer com que você ache o tempo
sozinho menos agradável. Então você pode preferir fazer algum tipo de atividade
durante seu momento de solitude.
No meu estudo, dei aos
participantes a opção de não fazer nada ou passar o tempo separando centenas de
lápis em caixas.
Após serem solicitados a ficar
sozinhos por dez minutos, a maioria dos participantes optou por separar os
lápis. Esse é o tipo de atividade que eu pensei que a maioria das pessoas
acharia chata.
No entanto, a escolha de fazer a
tarefa chata decorre do desejo de se manter ocupado quando outras pessoas não
estão por perto para ocupar nosso espaço mental.
Portanto, se você se pegar
checando o celular toda vez que tiver alguns momentos de solitude, isso é
bastante comum. Não seja duro consigo mesmo. Muita gente navega no celular para
lidar com o estresse e o tédio.
Algumas pessoas também preferem
passar o tempo sozinhas fazendo tarefas diárias, como ir ao supermercado ou
lavar roupa. É um tempo solitário válido.
Praticar atividades de lazer sozinho
É interessante, no entanto, que
muita gente evite praticar atividades de lazer sem companhias, como ir ao
cinema ou jantar fora.
Isso pode acontecer porque
tendemos a pensar nelas como atividades que fazemos com familiares e amigos,
então estar desacompanhado pode nos fazer sentir julgados e constrangidos.
Viajar sozinho é outra atividade que pode ser intimidadora, sobretudo para as
mulheres.
Mas um dos principais benefícios
de ir sozinho é a oportunidade de encontrar a tranquilidade e ter a liberdade
de escolher o que fazer e como fazer.
Enquanto estudava a solitude, me
desafiei a realizar algumas dessas atividades de lazer em meus momentos de
solitude e achei a experiência bastante libertadora. Outras mulheres têm
experiências semelhantes, especialmente quando viajam, se sentindo empoderadas
e livres.
Para superar nosso medo da
solitude, precisamos reconhecer seus benefícios e vê-la como uma escolha
positiva — e não como algo que acontece com a gente. Se fazer uma viagem
sozinho é um pouco demais para você agora, reservar um tempo na sua agenda
lotada para pequenas doses de solitude pode ser exatamente o que você precisa.
[2] * Thuy-vy Nguyen é professora assistente do
departamento de psicologia da Universidade de Durham, no Reino Unido.

Nenhum comentário:
Postar um comentário