O especialista em empatia Jamil
Zaki enfatiza que a capacidade de se conectar com outras pessoas é uma
habilidade humana treinável.
Apesar do que é dito atualmente,
os seres humanos são, de longe, os campeões mundiais em gentileza, colaboração
e união. Ainda, segundo Jamil Zaki, psicólogo, diretor do Laboratório de
Neurociência Social de Stanford e especialista internacional em empatia, o que
torna os seres humanos especiais é o que podem fazer e fazem juntos.
— Nossa capacidade de nos
conectarmos com os outros, especialmente com aqueles diferentes de nós, é um
ato de resistência, uma forma de combater o discurso popular que nos divide e
destrói — enfatiza.
Zaki nos lembra que, em um mundo
tão polarizado como o de hoje, cultivar a esperança significa escolher confiar,
e que essa decisão pode transformar relacionamentos, sociedades e culturas.
Empatia: a qualidade que está em perigo
Zaki dedicou os últimos 20 anos
de sua vida a estudar como as conexões sociais podem ser aprimoradas para o
crescimento individual e comunitário. Quando me tornei cientista, comecei a
estudar empatia — diz ele.
Ele aprendeu que se trata de um
superpoder humano que todos carregam consigo, e o descreve como a capacidade de
entrar no mundo de outra pessoa e estar com ela. Também compreendi que a
empatia está em perigo hoje em dia — alerta.
Mas nem tudo são más notícias.
Como ele explica, a empatia não é inata; é uma habilidade treinável. É algo que
pode ser desenvolvido por meio de práticas que vão da meditação à observação
compassiva dos outros.
A empatia apresenta uma
composição de três pilares. Primeiro, ela é composta pela capacidade de sentir
o que os outros sentem; a segunda parte é tentar entender o que a outra pessoa
sente e por quê — chamada de empatia cognitiva. E, terceiro, há o desejo de
fazer com que os outros se sintam melhor, de ajudá-los se pudermos. É isso que
chamamos de compaixão.
Zaki relembra o caso de McAleer.
Vinte anos atrás, McAleer era um dos supremacistas brancos mais famosos e
declarados em seu país natal, o Canadá. Ele costumava expressar abertamente o
quanto odiava pessoas que eram diferentes dele em termos de raça ou etnia,
explica o especialista.
Em suas entrevistas e muitas
conversas, descobri que ele odiava todo tipo de pessoa, mas a que mais odiava
era ele mesmo. Ele era uma pessoa profundamente destruída — conta.
Mas isso mudou graças a duas
coisas: ter filhos e fazer terapia. Zaki explica que cuidar de outra geração de
seres humanos, preocupar-se com eles e amá-los permitiu que ele percebesse o
quão ridículo era odiar outras pessoas, o quão doloroso era, e que seu ódio
poderia prejudicar o futuro de seus filhos se eles estivessem associados a ele.
Esse foi o primeiro passo:
perceber que queria mudar. O próximo passo foi adquirir as ferramentas
necessárias para lidar com essa mudança. Foi assim que ele acabou em um
consultório de terapia. Ele fez terapia com uma profissional maravilhosa e eles
desenvolveram uma conexão profunda. Chegou um momento em que Tony se sentiu tão
seguro que achou que poderia compartilhar seu maior problema: seu ódio —
relembra Zaki.
Ele se abriu e admitiu que havia
sido, e em parte ainda era, um supremacista branco. Seu terapeuta reagiu ao
ódio com compaixão, até mesmo amor — e isso libertou Tony. Ele passou o resto
da sessão chorando e o resto da semana se reconstruindo do zero. Ele não apenas
deixou grupos de ódio, como também criou um novo chamado Vida Após o Ódio.
Hoje, McAleer se dedica a remover pessoas de grupos de ódio para ajudá-las a se
curar, pedir desculpas e reparar as coisas horríveis que fizeram — afirma.
Zaki ressalta que a divisão
entre as pessoas é crescente. Ele aponta que nas décadas de 1950 e 1960, as
pessoas discordavam umas das outras, mas ainda podiam sentar-se à mesma mesa e
conversar sobre suas opiniões. Agora, evitamos uns aos outros — diz ele.
Quando duas pessoas com visões
opostas se comunicam, elas frequentemente gritam uma com a outra, muitas vezes
por celulares ou online. Nesse ambiente psicológico tóxico, nossa relação com a
empatia começa a mudar. Podemos começar a sentir não apenas que ser empático é
uma fraqueza, mas que pode ser perigoso, de acordo com o especialista.
Para confrontar esse paradigma,
o especialista sugere ser cético e pensar como cientistas. Em um de seus
livros, ele fala sobre ceticismo esperançoso, que envolve pensar como um
cientista e estar aberto a evidências, mas também compreender que, como a maioria
das pessoas está tão focada no negativo, quando se abrem mais e veem como as
pessoas realmente são, ficam positivamente surpresos.
Zaki aponta décadas de
evidências mostrando que a maioria das pessoas é mais confiável, generosa e
amigável do que se imagina.
Jamil Zaki é professor
assistente de psicologia na Universidade Stanford. Sua pesquisa examina a
cognição e o comportamento social, especialmente como as pessoas entendem e
respondem às emoções umas das outras.
Veja alguns de seus livros: https://www.amazon.com.br/stores/author/B07N96Q187

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