quinta-feira, 24 de julho de 2025

UM SÓ REBANHO[1]

 


Miramez

 

 O progresso fará que todos os povos da Terra se achem um dia reunidos, formando uma só nação?

Uma nação única, não; seria impossível, visto que da diversidade dos climas se originam costumes e necessidades diferentes, que constituem as nacionalidades, tornando indispensáveis sempre leis apropriadas a esses costumes e necessidades. A caridade, porém, desconhece latitudes e não distingue a cor dos homens. Quando, por toda parte, a lei de Deus servir de base à lei humana, os povos praticarão entre si a caridade, como os indivíduos. Então, viverão felizes e em paz, porque nenhum cuidará de causar dano ao seu vizinho, nem de viver a expensas dele.

A.K.: A Humanidade progride, por meio dos indivíduos que pouco a pouco se melhoram e instruem. Quando estes preponderam pelo número, tomam a dianteira e arrastam os outros. De tempos a tempos, surgem no seio dela homens de gênio que lhe dão um impulso; vêm depois, como instrumentos de Deus, os que têm autoridade e, nalguns anos fazem-na adiantar-se de muitos séculos.

O progresso dos povos também realça a justiça da reencarnação. Louváveis esforços empregam os homens de bem para conseguir que uma nação se adiante, moral e intelectualmente. Transformada, a nação será mais ditosa neste mundo e no outro, concebesse.

Mas, durante a sua marcha lenta através dos séculos, milhares de indivíduos morrem todos os dias. Qual a sorte de todos os que sucumbem ao longo do trajeto? Privá-los-á, a sua relativa inferioridade da felicidade reservada aos que chegam por último? Ou também relativa será a felicidade que lhes cabe?

Não é possível que a justiça divina haja consagrado semelhante injustiça. Com a pluralidade das existências, é igual para todos o direito à felicidade, porque ninguém fica privado do progresso. Podendo, os que viveram ao tempo da barbaria, voltar, na época da civilização, a viver no seio do mesmo povo, ou de outro, é claro que todos tiram proveito da marcha ascensional.

Outra dificuldade, no entanto, apresenta aqui o sistema da unicidade das existências. Segundo este sistema, a alma é criada no momento em que nasce o ser humano. Então, se um homem é mais adiantado do que outro, é que Deus criou para ele uma alma mais adiantada. Por que esse favor? Que merecimento tem esse homem, que não viveu mais do que outro, que talvez haja vivido menos, para ser dotado de uma alma superior? Esta, porém, não é a dificuldade principal. Se os homens vivessem um milênio, conceber-se-ia que, nesse período milenar, tivessem tempo de progredir. Mas, diariamente morrem criaturas em todas as idades; incessantemente se renovam na face do planeta, de tal sorte que todos os dias aparece uma multidão delas e outra desaparece. Ao cabo de mil anos, já não há naquela nação vestígio de seus antigos habitantes. Contudo, de bárbara, que era, ela se tornou policiada. Que foi o que progrediu? Foram os indivíduos outrora bárbaros? Mas, esses morreram há muito tempo.

Teriam sido os recém-chegados? Mas, se suas almas foram criadas no momento em que eles nasceram, essas almas não existiam na época da barbaria e forçoso será então admitir-se que os esforços que se despendem para civilizar um povo têm o poder, não de melhorar almas imperfeitas, porém de fazer que Deus crie almas mais perfeitas. Comparemos esta teoria do progresso com a que os Espíritos apresentaram. As almas vindas no tempo da civilização tiveram sua infância, como todas as outras, mas já tinham vivido antes e vêm adiantadas por efeito do progresso realizado anteriormente. Vêm atraídas por meio que lhes é simpático e que se acha em relação com o estado em que atualmente se encontram. De sorte que, os cuidados dispensados à civilização de um povo não têm como consequência fazer que, de futuro, se criem almas mais perfeitas; têm sim, o de atrair as que já progrediram, quer tenham vivido no seio do povo que se figura, ao tempo da sua barbaria, quer venham de outra parte. Aqui se nos depara igualmente a chave do progresso da Humanidade inteira.

Quando todos os povos estiverem no mesmo nível, no tocante ao sentimento do bem, a Terra será ponto de reunião exclusivamente de bons Espíritos, que viverão fraternalmente unidos. Os maus, sentindo-se aí repelidos e deslocados, irão procurar, em mundos inferiores, o meio que lhes convém, até que sejam dignos de volver ao nosso, então transformado. Da teoria vulgar ainda resulta que os trabalhos de melhoria social só às gerações presentes e futuras aproveitam, sendo de resultados nulos para as gerações passadas, que cometeram o erro de vir muito cedo e que ficam sendo o que podem ser sobrecarregadas com o peso de seus atos de barbaria. Segundo a doutrina dos Espíritos, os progressos ulteriores aproveitam igualmente às gerações pretéritas, que voltam a viver em melhores condições e podem assim aperfeiçoar-se no foco da civilização.

Questão 789 / O Livro dos Espíritos

 

Não podemos pensar que a Terra, no futuro, se transformará em uma nação única. Ela, mesmo com a evolução moral acompanhando o progresso da ciência, pode se dividir ainda mais, para que haja mais paz no tocante aos costumes e aos climas das regiões. Podemos acreditar que haverá um só rebanho, pela fraternidade entre os povos. Eles deverão unir-se em todos os sentidos do bem comum, trabalhando pelo mesmo objetivo de vida.

Entretanto, não podemos nos esquecer do que fala o Evangelho, anotado por João no capitulo dez, versículo dezesseis:

Haverá um só rebanho e um só Pastor.

Isso é no que refere ao comando espiritual. O rebanho é, pois, a humanidade, e o Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo. No que tange à Terra, na área física, as divisões são necessárias para melhor andamento da harmonia, prevalecendo sobre todas as coisas, e todos os Espíritos, o comando de Jesus. As leis podem ser diferentes, baseando-se, entretanto, no mesmo amor e na mesma caridade. Não convém centralizar o poder nas mãos de uma só pessoa. As divisões são necessárias, mas que todos os comandos sejam unificados nos ensinamentos de Jesus.

Conforme a evolução das criaturas, descem das esferas superiores grandes almas para renovar, periodicamente, as ideias dos homens em crescimento para Deus.

O que devemos esperar com entusiasmo é a universalização do idioma, de maneira que facilite aos homens, ganhando tempo, com a dispensa do aprendizado de muitos deles. Uma linguagem universal, como o é a do pensamento e a dos animais. A simplificação é norma divina, de modo que o Espírito não desperdice os valores nobres a que se chama tempo. Por que tantos idiomas? Além dos motivos óbvios, como épocas, diferenças de lugares, há também a intervenção do orgulho e do egoísmo: a cada nação o seu falar, resultando daí dificuldades quando surgiram as necessidades do intercâmbio de raças com raças.

     A unidade deve ser em toda a base; como criar nova modalidade de amor, de caridade, de perdão e mesmo de paz? Somente a evolução das criaturas, e não os homens estimulando habilidades que eles desconhecem as suas finalidades é que aperfeiçoam ou despertam com mais claridade os dons naturais.

Existe um só amor, uma só caridade e um só perdão, no entanto, em cada escala espiritual apresentamos estas virtudes em diferentes níveis, de acordo com a nossa evolução.

A humanidade nunca deixou de progredir; a princípio, lentamente, depois, com o despertamento de certos valores, avança com mais rapidez. São normas criadas por Deus, que não podemos mudar. As gerações respondem pelos seus atos, como cada indivíduo particularmente. Essa é a lei divina que as leis humanas devem obedecer. A lei da reencarnação é pura justiça.

Não devemos duvidar: mesmo uma geração voltando como outra, em outras vestes, mais evoluída, responde pelo que fez na retaguarda, e é sofrendo as consequências do que fez que se aprimora, aprendendo a respeitar as leis de Deus.

Dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.

Lucas, 6:38

A nossa dádiva pode ser feita por diversas formas, começando pelos pensamentos. Devemos passar por muitos e muitos anos até aprendermos o mais sagrado sentimento, o amor divino, pois em sua ação estão Deus e Cristo, operando a verdadeira sabedoria universal.



[1] FILOSOFIA ESPÍRITA – Volume 16 – João Nunes Maia

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