Orson Peter Carrara
As palavras são fortes, mas
necessárias. Muitos abusos são efetivados por falta dessa rejeição que a
suspeição propõe. E quando continuamente aceitos, os desdobramentos são
lamentáveis.
Tais orientações estão no texto
conclusivo de Erasto sobre a Influência moral do médium nas comunicações
mediúnicas. A advertência, na íntegra, consta do item 230 de O Livro dos
Médiuns, em sua segunda parte, exatamente no capítulo XX – “Influência
Moral do Médium”.
É neste item que se encontra a
conhecida e sempre citada frase: “(...) vale mais repelir dez verdades do que
admitir uma só mentira (...)”, quase no final do capítulo. O capítulo é todo um
roteiro para médiuns ou não, face ao claro conteúdo sobre como a moral do
médium influi no conteúdo de uma comunicação mediúnica. São vários itens, do
226 (este desdobrado em outras 12 subquestões) a 230 (neste último está o
estudo conclusivo sobre o tema).
É conteúdo para constante
consulta e estudo. Palestrantes, dirigentes, coordenadores de estudo ou de
reuniões mediúnicas e mesmo médiuns, deveríamos todos sempre revisar o capítulo
– até para uma autoavaliação de nós mesmos –, utilizando-o também para debates
e intercâmbios doutrinários em estudos, palestras, entrevistas e encontros para
ampliar o conhecimento na questão.
Mas, para despertar ainda mais a
atenção do leitor, transcrevemos parcialmente alguns trechos que muito chamam a
atenção, constituindo verdadeiras advertências que previnem as distorções e as
decepções na prática mediúnica, todos extraídos exclusivamente do citado item
230, como indicado:
a.
(...) é que um exame severo e escrupuloso
se faz necessário, porquanto, de envolta com essas coisas aproveitáveis,
Espíritos hipócritas insinuam, com habilidade e preconcebida perfídia, fatos de
pura invencionice, asserções mentirosas, a fim de iludir a boa-fé dos que lhes
dispensam atenção.
b.
Devem riscar-se, então, sem piedade, toda
palavra, toda frase equívoca e só conservar do ditado o que a lógica possa
aceitar, ou o que a doutrina já ensinou. (...)
c.
(...) Onde, porém, a influência moral do
médium se faz realmente sentir, é quando ele substitui, pelas que lhe são
pessoais, as ideias que os Espíritos se esforçam por lhe sugerir e também
quando tira da sua imaginação teorias fantásticas que, de boa-fé, julga
resultarem de uma comunicação intuitiva. É de apostar-se então mil contra um
que isso não passa de reflexo do próprio Espírito do médium. (...)
d.
(...) Contra este escolho terrível vêm
igualmente chocar-se as personalidades ambiciosas que, em falta das
comunicações que os bons Espíritos lhes recusam, apresentam suas próprias obras
como sendo desses Espíritos. Daí a necessidade de serem, os diretores dos
grupos espíritas, dotados de fino tato, de rara sagacidade, para discernir as
comunicações autênticas das que não o são e para não ferir os que se iludem a
si mesmos. (...)
e.
(...) Desde que uma opinião nova venha a
ser expedida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da
razão e da lógica e rejeitai destrambelhadamente o que a razão e o bom senso
reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade,
uma só teoria errônea. (...)
Claro que, como dissemos, as
transcrições são parciais e nosso objetivo é estimular o estudo integral do
referido item, com as principais citações, mas a íntegra textual é muito
oportuna, atual e de uma lógica inquebrantável.
Todavia, a inspiração para essa
abordagem com tal seleção surgiu do final do texto, que também transcrevo
parcialmente, oferecendo ao leitor mais uma pérola de Erasto, sempre atento a
nos prevenir de decepções e a nos proteger do que a ambição é capaz de
produzir:
(...) Se, pois, agora, um médium, qualquer que ele
seja, se tornar objeto de legítima suspeição, pelo seu proceder, pelos seus
costumes, pelo seu orgulho, pela sua falta de amor e de caridade, repeli,
repeli suas comunicações, porquanto aí estará uma serpente oculta entre as
ervas. (...)
Daí tirei o título do artigo. A
severidade de Erasto é necessária, face às ingenuidades que ainda nos
permitimos no contato com os espíritos, levando-se em conta a imaturidade que
ainda nos caracteriza e mesmo a ignorância – de não saber, claro – sobre os
princípios doutrinários do Espiritismo e seus intensos e infinitos
desdobramentos.
Muitos de nós nos deixamos levar
por seduções variadas, aceitando tudo com muita facilidade e, pior, sem análise
do bom senso e do discernimento. Ele recomenda: em legítima suspeição,
repeli suas comunicações. Essa rejeição, esse podar e sem piedade
– como ele também destaca – não é agressivo, é protetivo, para evitar
desdobramentos ainda mais prejudiciais. Tanto para o médium, como para o grupo.
Cabe ao grupo discernir sobre a
suspeição, quando e como ocorre, analisando, avaliando, inclusive com a
caridade da fraternidade que não pode ser esquecida. Mas é preciso muita
firmeza, senão caminhamos com aceitação fácil para a fascinação, no capítulo a
obsessão.
Para a ação da rejeição, como
acima citado, a caridade não pode estar ausente. Mas é preciso que a firmeza
doutrinária se faça presente, evitando os desastres bem próprios que a
leviandade e a ignorância são capazes de produzir. O bom senso e a caridade indicarão
o caminho de ação.
Vamos lá consultar o item 230 e O
Livro dos Médiuns? Que tal? Não é uma boa dica?
[1] O CONSOLADOR - Ano 18 - N° 917 - 6 de Abril de
2025 - https://www.oconsolador.com.br/ano18/917/ca7.html
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