Manoel Vianna de Carvalho nasceu
na cidade de Icó, Ceará, a 10 de dezembro de 1874. Era filho de Thomaz Antônio
de Carvalho, professor de Música e Língua Portuguesa da Escola Normal de
Fortaleza e de Josefa Vianna, mulher de raras virtudes, desencarnada em 1879.
Na capital da então província, estudou no
Liceu do Ceará. Em 1891, matriculou-se na Escola Militar do Ceará, onde se
destacaria pelo brilho de sua inteligência. Nesse mesmo ano, aos 17 anos,
juntamente com outros cadetes, conheceu o Espiritismo, organizando na própria
escola um grupo de estudos doutrinários.
Em 1894, avultou como poeta
participando da fundação do Centro Literário, agremiação dissidente da célebre
Padaria Espiritual. Nesse tempo já era também admirado por ser um exímio
violinista. No ano de 1895, transferiu-se
para o Rio de Janeiro, matriculando-se no Curso Superior da antiga Escola
Militar da Praia Vermelha. Passou a frequentar a União Espírita de Propaganda
do Brasil.
Ali, Vianna de Carvalho, o mais
jovem e entusiasmado dos trabalhadores do grupo, ocupava a tribuna, quase todas
as noites, perante compacto auditório. A sua aparência juvenil não fazia
diferença, porquanto sua palavra embevecia os ouvintes, aumentando diariamente
o número de curiosos que demandavam à instituição a fim de conhecer o eloquente
tribuno nordestino.
Em 1896, foi transferido para a
Escola Militar de Porto Alegre. Procurou, então, alguns confrades e numa casa
abandonada, desprovida de mesas e cadeiras, dentro de um terreno baldio no
Bairro do Parthenon, começou a divulgar o Espiritismo. Em seguida, fundou um
núcleo de estudos no andar térreo de uma casa comercial, na Rua dos Andradas.
Convocou diversas pessoas, entre as quais Dna. Mercedes Ferrari, senhora de
grande cultura e muita coragem, que, animada pelo cadete Vianna e com o apoio
de outros confrades, deu grande impulso ao Movimento Espírita local.
Ainda em 1896, regressou ao Rio
de Janeiro, retomando os trabalhos na União Espírita de Propaganda do Brasil,
passando a ser requisitado para todo o Distrito Federal, na época, Estado do
Rio.
No ano de 1898, de novo em Porto
Alegre, publicou a sua primeira obra literária, intitulada “Facetas”, livro que
seria reeditado, em 1910, com o prefácio da poetisa Carmem Dolores, pseudônimo
da escritora Emília Bandeira de Melo. Em 1923, publicou Coloridos e Modulações,
também muito bem recebido pela Imprensa e pelos homens de letras.
Em 1905, foi transferido para o
8º Batalhão de Infantaria, em Cuiabá. Naquela cidade, fundou e presidiu o
Centro Espírita Cuiabano, em 1906, dotando-o do necessário ao seu bom
funcionamento. Em 1907, retornou ao Rio de Janeiro a fim de se matricular no Curso
de Engenharia da Escola Militar do Realengo. Dessa vez, realizou uma série de
conferências na Federação Espírita Brasileira − FEB e no auditório da antiga
Associação dos Empregados do Comércio, com plateias cada vez maiores. A partir
de 1907, como orador oficial da FEB, proferiu conferências em São Paulo, Minas
Gerais, Espírito Santo e em todo o Estado do Rio de Janeiro, sendo, em muitas
dessas excursões, acompanhado de Ignácio Bittencourt, diretor do jornal Aurora,
em cujas páginas Vianna emprestou a sua colaboração, como em tantos outros
periódicos, espíritas e laicos, em todo o País.
Em 1910, concluiu o Curso de
Engenharia Militar, embarcando para Fortaleza, em abril desse mesmo ano. Sua
estada em Fortaleza, de maio daquele ano até novembro de 1911, foi pródiga de
realizações. Seu acendrado amor à Causa Espírita o impulsionou a um ritmo de
ação incansável. No torrão natal, promoveu o estudo sistemático de O Livro
dos Espíritos, efetuando semanalmente conferências nos salões das lojas
maçônicas Amor e Caridade, Igualdade e Liberdade, que lhe franqueavam os salões
para proferir palestras espíritas. Essas preleções passaram a ser publicadas,
sinteticamente, nos jornais Unitário e A República. Ações como essas, Vianna
passaria a fazer em quase todos os Estados por onde passaria, sobretudo a
partir de 1911. O corolário do profícuo labor desse filho de Icó, em Fortaleza,
foi a fundação, em junho de 1910, do Centro Espírita Cearense, a primeira
entidade federativa local, que funcionaria na Rua Santa Isabel, nº 105 (hoje
Princesa Isabel, nº 255), bem no coração da cidade.
A partir de Fortaleza, Vianna de
Carvalho sofreria intensa perseguição de influentes membros da Igreja, que
passaram a pleitear, junto às autoridades militares, sua transferência. Assim,
em novembro de 1911, depois de um ano e seis meses de grandes serviços
prestados à Causa, partiu para a Capital Federal, no Rio de Janeiro. Naquele e
no decênio seguinte, Vianna propagou a Mensagem dos Imortais nos Estados de
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais
(capital e interior), Espírito Santo, Rio de Janeiro (capital e interior), São
Paulo (capital e interior), Rio Grande do Sul (em Porto Alegre e Santa Maria) e
no Paraná .
No Rio de Janeiro, juntamente
com Ignácio Bittencourt, fundou a União Espírita Suburbana; com Arthur Machado,
a Tenda Espírita de Caridade. Realizou inúmeras conferências públicas no
Cineteatro Odeon e na Escola Nacional de Música. Foi ele quem, em 1914, encetou
a campanha nacional para evangelização das crianças nos centros espíritas,
sugerindo a criação das Aulas de Moral Cristã.
Vianna de Carvalho foi
considerado pelos seus contemporâneos como a glória dos oradores espíritas do
Brasil. A revista Verdade e Luz, de São Paulo, na edição de 18 de julho
de 1922, sobre ele comentou: (...) Dentro de sua humildade cristã, arrebata
auditórios, que, em delírio, o ouvem e aplaudem (...).
Para Divaldo
Pereira Franco, “Vianna de Carvalho foi o mais perfeito orador espírita já
aparecido no Brasil, pois reunia todos os atributos necessários ao exercício da
eloquência. Possuidor de memória fotográfica, era capaz de mnemonizar e
reproduzir, ipsis litteris, várias páginas com seus escritos. Detentor de uma
cultura invulgar, enfocava, à luz do Espiritismo, conhecimentos de Astronomia,
Física, Química, Sociologia, História, Literatura e Psicologia, tendo, porém, o
cuidado de abordar a Doutrina Espírita no seu tríplice aspecto. Ademais, vivia
o que pregava, pregava o que vivia”.
Zêus
Wantuil , compilando informes de antigos periódicos, anota: Seu verbo
inspirado, através de uma dicção impecável, de timbre sonoro e harmonioso,
assumia, às vezes, tonalidades impressionantes, assomando-lhe aos lábios em
tropos de empolgante beleza. Foi, na verdade, um mágico da palavra, esteta do
sentimento e criador de sensibilidades, arrebanhando prosélitos e simpatizantes
em sua peregrinação triunfante pelo Brasil afora”.
Ramiro
Gama, que na juventude teve ensejo de ouvi-lo, sintetiza as características
do Tribuno cearense : “Foi o orador mais completo que tivemos nestes últimos
quarenta anos”.
Timbre de voz maravilhoso.
Palavra sábia e fácil. Cultura geral e, especialmente, evangélico-espiritista.
Além de tudo isso, físico
simpático à moda de um romano, expressiva força moral advinda de um passado
limpo, cuidadoso, exemplar e espetacular inspiração, permanentemente mantida
por uma colmeia brilhante de Espíritos, que nele punha sua confiança e sua certeza
de estar ele, efetiva, humilde e sinceramente, a Serviço de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Por isso de um tema vulgar,
pequenino, supostamente banal, tirava ele lições magistrais à luz dos ensinos
imortalistas da Boa Nova.
Podia pregar em praça pública,
nos ambientes mais diversos, porque sabia, de pronto, catequizar, emocionar,
esclarecer e agradar os auditórios mais heterogêneos.
Em nosso livro “Lindos Casos de
Bezerra de Menezes”, veladamente, fizemos alusão ao seu nome, à sua oratória,
que nos surpreendera, pois jamais havíamos ouvido alguém falar assim, de forma
inspirada, equilibrada, espalhando cultura que ignorávamos, defendendo um
assunto – o Espiritismo – com o qual ainda não nos simpatizáramos (...).
Há oradores que cansam pelas
idas e venidas de suas argumentações; pela cultura socada e disseminada sem
interpolações de algo que a faça entendida; outros existem que não pauseiam
suas dissertações, desejando, com isso, mostrar erudição e cansam os auditórios,
que acabam nada compreendendo e nada retendo do que ouvem (...).
Vianna de Carvalho, não. Foi, é
e continua sendo um modelo vivo para todos nós, que nos colocamos a serviço dos
interesses da Doutrina e não de nossos interesses (...).
Em 1926, quando servia em
Aracaju, adoeceu, vitimado por um tipo grave de beribéri. Era o Comandante
interino do 28º Batalhão de Caçadores no posto de Major. Diante da gravidade do
seu estado de saúde, os médicos resolveram encaminhá-lo para o Hospital de São
Sebastião, em Salvador. Foi conduzido de maca até o navio Íris. Nas
proximidades da praia de Amaralina, às 6h30 da manhã, do dia 13 de outubro de
1926, desencarnou a bordo, sendo seu corpo sepultado na capital baiana. Estava
com apenas 51 anos.
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