(Segundo
artigo – Ver o número de fevereiro de 1858)
Todo efeito
que revela a ação de uma vontade livre é, por isso mesmo, inteligente, ou seja,
não é puramente mecânico e nem poderia ser atribuído a um agente exclusivamente
material; mas, daí às comunicações instrutivas de elevado alcance moral e
filosófico há uma distância muito grande, e não é de nosso conhecimento que o
Sr. Home as obtenha de tal natureza. Não sendo médium escrevente, a maior parte
das respostas é dada por pancadas, indicativas das letras do alfabeto, meio
sempre imperfeito e bastante lento, que dificilmente se presta a
desenvolvimentos de uma certa extensão. Entretanto, ele também obtém a escrita,
mas por outro processo de que falaremos dentro em pouco.
Digamos, primeiro, como princíp
io geral, que as manifestações ostensivas, as que
impressionam os sentidos, podem ser espontâneas ou provocadas. As primeiras são
independentes da vontade; por vezes, ocorrem mesmo contra a vontade daquele que
lhes é objeto e ao qual nem sempre são agradáveis. São frequentes os fatos
desse gênero e, sem remontar aos relatos mais ou menos autênticos dos tempos
recuados, deles a história contemporânea oferece numerosos exemplos, cuja
causa, ignorada em seu princípio, é hoje perfeitamente conhecida: tais são, por
exemplo, os ruídos insólitos, o movimento desordenado dos objetos, as cortinas
puxadas, as cobertas arrancadas, certas aparições etc. Algumas pessoas são
dotadas de uma faculdade especial que lhes dá o poder de provocar esses
fenômenos, pelo menos em parte, por assim dizer, à vontade. Essa faculdade não
é muito rara e, de cem pessoas, cinquenta pelo menos a possuem em maior ou
menor grau.
O que
distingue o Sr. Home é que nele a faculdade está desenvolvida, como entre os
médiuns de sua espécie, de uma maneira a bem dizer excepcional. Alguns não
obterão senão golpes leves, ou o deslocamento insignificante de uma mesa, enquanto,
sob a influência do Sr. Home os ruídos mais retumbantes fazem-se ouvir e todo o
mobiliário de um quarto pode ser revirado, os móveis amontoando-se uns sobre os
outros. Por mais estranhos sejam esses fenômenos, o entusiasmo de alguns
admiradores muito zelosos ainda encontrou jeito de os amplificar por meio de
pura invenção. Por outro lado, os detratores não ficaram inativos; a seu
respeito, contaram todo tipo de anedotas, que só existiram em sua imaginação.
Eis um exemplo,
o Sr. Marquês de..., uma das personagens que mais interesse demonstraram pelo
Sr. Home, e em cuja residência o médium era recebido na intimidade, achava-se
um dia na ópera com este último. Na plateia superior estava o Sr. de P..., um
de nossos assinantes, e que conhece a ambos pessoalmente. Seu vizinho entabula
conversação com ele; o assunto é o Sr. Home.
− Acreditais – disse ele – que
aquele pretenso feiticeiro, aquele charlatão, encontrou meio de introduzir-se
na casa do Sr. Marquês de... ? Seus artifícios, porém, foram descobertos e ele
foi posto no olho da rua a pontapés, como um vil intrigante.
– Estais bem certo disso?
pergunta o Sr. de P... Conheceis o Sr. Marquês de...?
– Certamente, responde o
interlocutor
– Nesse caso, diz o Sr. de P..., olhai
naquele camarote; podereis vê-lo em companhia do próprio Sr. Home, ao qual não
parece que queira dar pontapés.
Diante disso,
nosso melancólico falador, não julgando conveniente continuar a conversa, pegou
seu chapéu e não apareceu mais. Por aí se pode julgar do valor de certas
afirmações. Seguramente, se certos fatos divulgados pela maledicência fossem
verdadeiros, ter-lhe-iam fechado mais de uma porta; mas como as casas mais
respeitáveis sempre lhe estiveram abertas, deve-se concluir que sempre e por
toda parte ele se conduziu como um cavalheiro. Basta, aliás, haver conversado
algumas vezes com o Sr. Home para ver que, com a sua timidez e a sua
simplicidade de caráter, seria o mais desajeitado de todos os intrigantes;
insistimos nesse ponto pela moralidade da causa. Voltemos às suas
manifestações. Sendo o nosso objetivo fazer conhecer a verdade, no interesse da
Ciência, tudo quanto relatamos é colhido em fontes de tal maneira autênticas
que podemos garantir-lhes a mais escrupulosa exatidão; temos testemunhas
oculares muito sérias, muito esclarecidas e altamente colocadas para que sua
sinceridade possa ser posta em dúvida. Se dissessem que essas pessoas puderam,
de boa-fé, ser vítimas de uma ilusão, responderíamos que há circunstâncias que
escapam a toda suposição desse gênero; aliás, tais pessoas estavam muito
interessadas em conhecer a verdade para não se precaverem contra toda falsa
aparência.
Geralmente o
Sr. Home começa suas sessões pelos fatos conhecidos: pancadas em uma mesa ou em
qualquer outra parte do apartamento, procedendo como já dissemos alhures.
Segue-se o movimento da mesa, que se opera, primeiro, pela imposição das mãos,
dele somente ou de várias das pessoas reunidas, depois, a distância e sem
contato; é uma espécie de ensaio. Muito frequentemente ele nada mais obtém
além: vai depender da disposição em que se encontra e algumas vezes também da
dos assistentes; há pessoas perante as quais jamais produziu coisa alguma,
mesmo sendo seus amigos. Não nos alongaremos sobre esses fenômenos, hoje tão
conhecidos, e que só se distinguem por sua rapidez e energia. Muitas vezes,
após várias oscilações e balanços, a mesa se destaca do solo, eleva-se
gradualmente, lentamente, por pequenas sacudidelas, não mais alguns centímetros
somente, mas até o teto e fora do alcance das mãos. Após permanecer suspensa no
espaço por alguns segundos, desce como havia subido, lenta e gradualmente.
Sendo um fato
conhecido a suspensão de um corpo inerte e de peso específico incomparavelmente
maior que o do ar, concebe-se que o mesmo se possa dar com um corpo animado.
Não nos consta que o Sr. Home tivesse agido sobre alguma pessoa além dele mesmo
e, ainda assim, o fato não se produziu em Paris, mas verificou-se diversas
vezes, tanto em Florença como na França, especialmente em Bordeaux, na presença
das mais respeitáveis testemunhas, que poderíamos citar, se necessário. Como a
mesa, ele se elevou até o teto, descendo do mesmo modo. O que há de bizarro
nesse fenômeno é que não se produz por um ato de sua vontade, e ele mesmo nos disse
que dele não se apercebe, acreditando estar sempre no solo, a menos que olhe
para baixo; apenas as testemunhas o veem elevar-se; quanto a ele, experimenta
nesse momento a sensação produzida pelo sacolejo de um navio sobre as ondas. De
resto, o fato que relatamos não é de forma alguma peculiar ao Sr. Home. A
História cita vários exemplos autênticos que relataremos posteriormente.
De todas as
manifestações produzidas pelo Sr. Home, a mais extraordinária, sem dúvida, é a
das aparições, razão por que nelas insistiremos mais, tendo em vista as graves consequências
daí decorrentes e a luz que elas lançam sobre uma multidão de outros fatos. O
mesmo acontece com os sons produzidos no ar, instrumentos de música que tocam sozinhos
etc. No próximo número examinaremos detalhadamente esses fenômenos.
Retornando de
uma viagem à Holanda, onde produziu forte sensação na corte e na alta
sociedade, o Sr. Home acaba de partir para a Itália. Sua saúde, gravemente
alterada, exigia um clima mais ameno.
Confirmamos,
com prazer, o que certos jornais relataram, de um legado de 6.000 francos de
renda que lhe foi feito por uma dama inglesa, convertida por ele à Doutrina
Espírita e em reconhecimento da satisfação que ela experimentou. Sob todos os aspectos,
merecia o Sr. Home esse honroso testemunho. Esse ato, de parte da doadora, é um
precedente que terá o aplauso de todos quantos partilham de nossas convicções;
esperamos tenha a Doutrina, um dia, o seu Mecenas: a posteridade inscreverá seu
nome entre os benfeitores da Humanidade. A religião nos ensina a existência da
alma e sua imortalidade; o Espiritismo dá-nos a sua prova viva e palpável, não
mais pelo raciocínio, mas pelos fatos. O materialismo é um dos vícios da
sociedade atual, porque engendra o egoísmo. O que há, com efeito, fora do eu,
para quem tudo liga à matéria e à vida presente? Intimamente vinculada às ideias
religiosas, esclarecendo-nos sobre nossa natureza, a Doutrina Espírita mostra-nos
a felicidade na prática das virtudes evangélicas; lembra ao homem os seus
deveres para com Deus, a sociedade, e para consigo mesmo. Colaborar na sua
propagação é desferir um golpe mortal na chaga do cepticismo que nos invade
como um mal contagioso; honra, pois, aos que empregam nessa obra os bens com
que Deus os favoreceu na Terra!
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