Orson Peter Carrara
Resgatei das páginas da RIE-Revista
Internacional de Espiritismo, edição de dezembro de 2001, excelente
abordagem da querida amiga Yeda Hungria. Pela excelência da pesquisa, trazemos
aos amigos esse trabalho para novamente ser divulgado, pois muita gente não
conhece esse caso da história mediúnica mundial. Apesar de longo, o texto
merece ser lido.
Ressalte-se também que a citada
publicação, fundada por Cairbar
Schutel, completa seu centenário de fundação no próximo mês de fevereiro de
2025.
Intitulado EDGAR CAYCE - UM
MÉDIUM ALÉM DE SEU TEMPO, reproduzo nas linhas seguintes o texto assinado
por Yeda Hungria:
“Edgar
Cayce foi o mais notável e o mais documentado médium dos Estados
Unidos. Era capaz, em transe inconsciente, de diagnosticar doenças, indicar
tratamentos e responder a qualquer pergunta. Podia também identificar a aura
humana e descrever as condições psicofísicas das pessoas.
Cayce nasceu em 18 de março de 1877, numa fazenda em
Hopkinsville, Kentucky. Único varão de uma família com cinco filhos, desde
criança exibia sensibilidade além dos cinco sentidos. Aos seis anos, contou aos
pais que via e conversava com parentes falecidos; aos treze, teve uma visão que
o influenciaria para sempre: apareceu-lhe o espírito de uma mulher que lhe
indagou qual o seu maior desejo. Era o de ajudar a todos, sobretudo as
crianças.
A partir de então, desenvolveu rara percepção. Bastava
dormir sobre um livro escolar ou documento que adquiria memória fotográfica do
conteúdo, podendo repetir palavra por palavra ou qualquer parte do texto.
Adolescente, deixou a escola na oitava série para
ajudar no sustento da família. Com a idade de vinte anos empregou-se na
livraria da cidade, quando conheceu e ficou noivo de Gertrude Evans.
No ano de 1900, foi acometido de paralisia nas cordas
vocais e nos músculos da garganta, ficando completamente sem voz. A despeito
dos esforços médicos este estado se prolongava por um ano. Conformara-se até em
não mais poder falar, indo, por isso, trabalhar como ajudante de fotógrafo.
Àquela época, os espetáculos de hipnotismo em palcos
estavam em moda e um artista de nome Hart apresentava-se na cidade. Havia
testemunhado curas sob hipnose e ofereceu-se para ajudar Cayce. Na primeira
sessão o paciente conseguiu falar, mas somente hipnotizado. As sessões,
entretanto, foram suspensas por lhe causarem insônia.
Em 1901, um médico de Nova Iorque encorajou-o a
prosseguir com as práticas de hipnose para recuperar a voz, desde que essas
práticas fornecessem também o diagnóstico e o tratamento para o seu mal.
Convidou então o amigo Al Layne, hipnotista e
osteopata, para colocá-lo em transe. Durante o sono revelou que a doença
decorria de “uma situação psicológica produzindo um efeito físico”. Esse efeito
poderia ser removido no estado de inconsciência, bastando um comando para
normalizar a circulação sanguínea nas áreas afetadas. Quando Cayce despertou,
achava-se completamente curado.
Foi a primeira das milhares de leituras – assim
chamadas as respostas - produzidas ao longo de sua produtiva existência.
Cayce descreveu o mecanismo de recepção da leitura.
Ao iniciar, afrouxava as roupas e deitava-se no sofá em seu escritório. Mãos
sobre a testa, “na região do terceiro olho” (plexo frontal), punha-se em
meditação. Aguardava poucos minutos, até identificar uma luz branca, algumas
vezes tendendo para dourado (quando não a via, não conseguia fornecer a leitura).
As mãos iam ao plexo solar, a respiração tornava-se profunda e rítmica por
breves instantes. Os olhos fechados começavam a piscar e se abriam lentamente.
O acompanhante sabia, então, que ele estava pronto para iniciar a leitura.
Se ela se referisse à saúde, lhe bastavam apenas o nome e o endereço do
consulente. Ele repetia-os vagarosamente até o paciente ser localizado, quando
iniciava a descrição dos sintomas. Em seguida, expunha o diagnóstico e o
tratamento. Cayce mantinha-se em total estado de inconsciência durante o
processo.
Um médico homeopata, o dr. Wesley Ketchum,
recém-chegado à cidade, quis testar-lhe os talentos e procurou-o para confirmar
sua apendicite. A leitura, no entanto, revelou resultado completamente
diferente. Cético, o dr. Ketchum recorreu a um colega, mas para sua surpresa, a
informação do sensitivo estava correta. O homeopata passou a solicitar-lhe
diagnósticos para seus casos difíceis...
No mês de junho de 1903 Cayce casou-se com Gertrude
Evans, e quatro anos depois nasceu-lhes Hugh Lynn.
A este, seguiu-se Milton Porter, em 1911, apresentando
graves problemas de saúde. A revelação da leitura que a doença era fatal
transtornou-lhes a vida.
Após a desencarnação do filho, Gertrude foi acometida
de tuberculose, sem possibilidade terapêutica, segundo os médicos. Cayce,
orientado pelas leituras, preparou-lhe uma mistura de ervas e
alopáticos. Decorridos dois dias, ela sentia-se melhor. Ao cabo de cinco meses
curara-se completamente.
Em 1912, o dr. Hugo Münsterberg, da Universidade de
Harvard, pesquisou o trabalho de Cayce com o intuito de descobrir fraude.
Concluída a investigação, o clínico estava convencido da autenticidade e da
eficácia das recomendações das leituras.
Cayce obteve emprego como fotógrafo no Alabama e no ano
seguinte comprou o estúdio onde trabalhava.
A quietude da vida lhe durou pouco. O filho Hugh Lynn,
atingido no rosto pela explosão de um ‘flash’ no estúdio, teve os olhos
gravemente queimados. Devido à extensão da lesão, os médicos recomendaram a
retirada do olho direito. A leitura, entretanto, informou que a cirurgia
era desnecessária, porquanto a visão estava preservada. Foi indicada uma
medicação associada à prescrita pelos clínicos, repouso total no escuro, olhos
vendados durante duas semanas. Retirada a oclusão, Hugh Lynn voltou a enxergar
normalmente. Os jornais divulgaram mais essa cura. A fama de Cayce aumentava e dezenas de
pessoas começavam a procurá-lo.
Devido ao crescente volume de leituras, foi
admitida, em 1923, a secretária Gladys Davis para estenografá-las.
De 1901 a 1923 as comunicações limitaram-se a
diagnósticos e tratamentos de doenças. Desde então passaram a abordar temas
diversos, como reencarnação, embora isso parecesse estranho à fé religiosa de
Cayce. Após minucioso estudo e interpretação da Bíblia – seu livro de cabeceira
– convenceu-se de que a ideia das vidas sucessivas não era incompatível com o
Cristianismo.
Tais comunicações, chamadas de leituras da Vida,
abordavam existências passadas, espiritualidade, meditação, virtudes, leis
naturais, civilizações antigas, filosofia, psicologia, história, profecias,
relações humanas, os anos desconhecidos da vida de Jesus, e outros.
A reencarnação é apresentada como necessária ao
aprimoramento do espírito, e a causa das enfermidades encontra-se nas agressões
às leis divinas em nosso passado milenar.
O crescimento espiritual era tema constante nas leituras.
Enfatizava que somos seres espirituais, ligados a um corpo físico a fim de
aprender, evolver e compreender nossa verdadeira relação com Deus. Para atingir
esse crescimento devemos exercer a bondade, a tolerância, a paciência, o amor
enfim. A meditação e a prece eram descritas como práticas para aquietar a mente
e relaxar o corpo, focando a atenção para o nosso íntimo em busca da
autoanálise e da correção de rumo.
Esses registros proporcionaram fascinante visão de
algumas antigas civilizações. As duas mais notáveis eram as da Atlântida e do
Egito. Segundo Cayce, muitas das tecnologias contemporâneas a ele eram, na
verdade, a redescoberta de conhecimentos e informações dos atlantes. Alguns
deles, prevendo a destruição do continente, emigraram para o Egito, que se
tornou líder em programas sociais e de transformação pessoal.
A par da sua fama nacional surgiam céticos para tentar
apontar fraudes, mas acabavam por se render à evidência das leituras. Um
deles, Thomas Sugrue, convencido da realidade e da importância daquele
trabalho, culminou por lançar uma das melhores biografias do médium – There
is a River – publicada em 1943, quando ainda vivia o biografado.
A despeito dos
avisos para serem dadas somente duas leituras por dia, a fim de
preservar a saúde, Cayce produzia até oito delas. Sentia-se na obrigação de
atender a todos que lhe pediam ajuda.
No início de 1944 apresentava sinais de cansaço. No mês
de setembro, acometido de exaustão, recebeu o último aviso para que repousasse
até o final de seus dias. Decorrido pouco tempo, um derrame cerebral deixou-o
parcialmente imobilizado.
Retornou ao Mundo da Luz, aos 67 anos, em 3 de janeiro
de 1945, dois dias após o previsto por ele. Três meses depois seguiu-lhe a
devotada esposa.
Cayce produziu 14.256 leituras ao longo de 43
anos de intensa atividade dedicada ao esclarecimento e ao alívio do sofrimento
físico de mais de 10.000 pessoas. Jamais reivindicou qualquer privilégio por
seu trabalho nem se considerava um profeta. Suas leituras não pregavam a
aceitação de uma nova crença religiosa, apenas convidavam a experimentar os
princípios nelas expostos.
Sem o conhecimento espírita, que lhe daria outra visão
do fenômeno, as leituras para ele emanavam do subconsciente do
consulente e dos arquivos acásicos – fonte etérica constituída dos pensamentos,
palavras e ações produzidas na Terra.
Homem profundamente espiritualizado, dizia que buscava
sintonizar com a vontade de Deus recorrendo constantemente à oração e doando-se
ao próximo.
Nunca foi tão atual e profética sua afirmação em 1932: A
Terra passa por um momento em que as pessoas procuram em toda parte saber mais
acerca dos mistérios da mente e da alma.
Interessante é a identidade de princípios entre
aspectos do ideário das leituras e os postulados da Doutrina Espírita,
prova incontestável da universalidade dos ensinos dos Seres de Luz...
Claudeen Cowell, da Associação para a
Pesquisa e o Conhecimento, onde se encontra depositado o acervo de Cayce,
declarou-nos que seus seguidores não o consideram um médium e sim um “canal que
se comunicava com os planos divinos”.
Para nós, espíritas, no entanto, não resta qualquer
dúvida quanto à atuação medianímica de Edgar Cayce nas abençoadas leituras,
as quais entendemos como mensagens dos Benfeitores Espirituais.
ASSOCIAÇÃO PARA A PESQUISA E O CONHECIMENTO
Nasceu da realização de antigo sonho de Edgar Cayce de
construir um hospital capaz de fornecer os tratamentos indicados pelas leituras
e de proporcionar ajuda espiritual aos pacientes.
A cidade balneária de Virginia Beach, no Estado da
Virginia, foi o local recomendado, para onde Cayce mudou-se em setembro de 1925
com a família e a secretária Gladys Davis.
Após mal sucedida tentativa com alguns sócios, alheios
à natureza da sua missão, um empresário de Nova Iorque, Morton Blumenthal,
apresentou-se para financiar a obra.
Localizado em suave elevação, com vista para o Oceano
Atlântico, o Hospital Cayce foi inaugurado em novembro de 1928. Médicos e
técnicos qualificados produziam os medicamentos, conforme as orientações das leituras,
para os pacientes que vinham de todo o país.
A despeito do sucesso inicial, o hospital acabou por
sofrer o impacto das crises causadas pela quebra da Bolsa americana e pela
depressão econômica resultante. Sem suporte financeiro encerrou as atividades
em fevereiro de 1931.
Em junho do mesmo ano, Cayce e um grupo de amigos
fundaram a Associação para a Pesquisa e o Conhecimento nas terras do antigo
hospital. Foi criada como uma organização sem fins lucrativos para preservar,
pesquisar e oferecer ao público os ensinos contidos nas leituras, entre
eles, saúde holística, percepção extra-sensorial, vida após a morte,
espiritualização do homem, desenvolvimento do potencial psíquico, e outros. Até
hoje esses ideais são perseguidos.
A Associação está localizada na rua 67, número 215.
Ocupa um amplo e moderno edifício com três pavimentos e confortáveis
instalações. Ao nível da rua, o estacionamento de veículos; à esquerda,
repousante e acolhedor bosque – o Jardim da Meditação - oferece momentos de
silêncio e reflexão. Mais além, o prédio do histórico hospital abriga o setor
administrativo, a Escola Cayce/Reilly de Massoterapia com diversos cursos e os
serviços de saúde baseados nas leituras.
O Centro de Visitantes, no primeiro andar da
Associação, dispõe de recepção, salão de conferências e livraria com títulos
sobre metafísica, saúde holística e os relacionados com as respostas de Cayce.
Oferece também artigos para presentes, calendários, fitas de vídeo e
medicamentos produzidos segundo as leituras. Ainda no saguão, elevador e
escada conduzem aos pavimentos superiores.
No segundo andar funcionam diversos cursos e uma grande
biblioteca onde se encontram as leituras. A preservação delas se deve à
dedicação e à competência da secretária Gladys Davis que as classificou e
catalogou, após a morte do médium, durante 26 anos, tornando-as acessíveis à
consulta.
A biblioteca abriga ainda coleções de obras sobre
metafísica, incluindo saúde holística, psicologia, parapsicologia, religião
comparada, reencarnação etc.
Para nossa surpresa, encontramos exemplares de O
Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, em
espanhol, e O Homem dos Milagres (biografia de Cayce), A Voz do
Antigo Egito, de F.V. Lorenz e Projeciologia, de Waldo Vieira, todos
em português.
No terceiro andar, um salão exclusivo para meditação,
transmite indescritível sensação de paz e elevação, resultantes da psicosfera
moldada pelos frequentadores. Na parede frontal, amplo terraço descortina
exuberante panorama do Atlântico. À esquerda, artístico vitral filtra em belas
nuanças a luz do poente. Na parede
oposta, expressivo óleo de George Inness Jr. – “Viagem para o Egito” -
adotado por Cayce como símbolo para meditação e, ao lado, em suaves tintas, a
excelsa figura do Divino Mestre. Outras telas favorecem a reflexão e a harmonia
interior.
O ingresso nesse ambiente nos foi permitido pela
administração que, desde o início de nossa visitação, ao declararmos nosso
interesse e objetivo, mostrou-se extremamente cooperativa, destacando
funcionárias para nos assessorar.
Também em Virginia Beach funcionam a Universidade
Atlântica, com mestrado em estudos transpessoais; Instituto Edgar Cayce para
Estudos Intuitivos, dirigido ao desenvolvimento do potencial psíquico;
Programas para Jovens e Famílias, voltados para a dinâmica educacional;
Programa para Procura de Deus e Crescimento Espiritual, fórum onde se discute o
conteúdo das leituras e sua aplicação; Serviços de Preces, constituído de
grupos dedicados à oração e o Programa Além da Prisão, de apoio espiritual aos
internos, ajudando-os a entender suas realidades. Fornece também livros
edificantes para bibliotecas de estabelecimentos prisionais.
Após a desencarnação de Edgar Cayce, o primogênito Hugh
Lynn conduziu com sucesso os destinos da Associação, dinamizando e expandindo
mundialmente suas atividades.
Dirigida por Charles Thomas Cayce, neto do fundador, é
uma organização atuante e dinâmica, empenhada integralmente na construção do
homem espiritual, voltado para a exteriorização dos mais puros e nobres
sentimentos.
Edgar Cayce, por sua vida e obra, foi realmente um
médium muito além do seu tempo”.
[1] O CONSOLADOR - Ano 18 - N° 880 - 14 de Julho de
2024 - https://www.oconsolador.com.br/ano18/880/especial.html
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