Miramez
Pode o homem, por sua vontade e pelos seus atos, evitar
acontecimentos que deviam realizar-se e vice-versa?
− Pode, desde que esse desvio aparente possa caber na
ordem geral da vida que ele escolheu. Além disso, para fazer o bem, como é do
seu dever e único objetivo da vida, ele pode impedir o mal, sobretudo aquele
que possa contribuir para um mal ainda maior.
Questão 860 / O Livro dos Espíritos
Acresce notar-se que a vontade
na alma constitui uma força poderosa na sequência da sua vida. O poder da
vontade realiza prodígios, principalmente dentro de nós, no entanto, é bom que
se note que, para termos uma vontade poderosa, necessário se faz o alcance da
maturidade espiritual.
As leis que regem a vida não
podem ser interpretadas com uma palavra somente; elas têm uma área imensa a ser
descortinada. Eis aí como muitos se enganam, querendo mostrar a lei de Deus em
um simples livro que apenas copia a natureza, sem que a verdade esteja nele
totalmente. Um livro, o melhor que seja, nos mostra uma simples claridade da
lei vigente e vibrante em todos os reinos. Não devemos esmorecer. Estamos
caminhando para a espiritualidade maior, e essa caminhada se faz passo a passo.
Deus não tem pressa, mas nunca para, e os nossos olhos, tanto de encarnados
quanto dos fora da carne, vão se abrindo frente à verdade, pelos processos do
tempo-espaço, que é a ação de Deus nos acordando para os cumprimentos dos
nossos deveres.
A própria Doutrina dos Espíritos
não tem a pretensão, e nunca teve, de revelar todas as leis, de fazer o homem
conhecer a verdade total. Não é a sua finalidade; o que ela pode fazer e se
encontra fazendo, é gradativamente ir nos mostrando o que podemos suportar,
pelos meios de que dispõe e pela vontade de Deus.
O ser humano, pela sua vontade,
pode mudar muita coisa nas linhas do destino, e a vida que levamos, mesmo no
mundo espiritual, é cheia de mudanças que a vontade pode fazer.
Entretanto, essa vontade somente
encontra apoio para o que ela realiza, nas experiências acumuladas, o que quer
dizer na maturidade espiritual.
Uma alma primitiva nada pode
fazer com a sua vontade apenas seguindo o bem, aquele caminho que o Espírito
iluminado trilha, por já ter colhido em suas várias vidas sucessivas um celeiro
de advertências e milhares de anos lutando entre os infortúnios e as dores,
como duras lições, porque somente assim pode o Espírito iluminar a consciência
e expandir o coração. A vontade naquele que não tem experiências colhidas em
muitas vidas, nada vale, por não saber usá-la, nem escolher seus próprios
caminhos.
Podes conhecer melhor o que é a
vontade, notando, como experiência, o que fazem os cientistas quando enviam uma
nave ao espaço; depois que ela voa ganhando milhares e milhares de quilômetros,
aí é que se faz a correção da sua rota. Assim é a alma; a correção da sua rota
é feita depois de muitas reencarnações, somente depois que a nave humana sai
para os caminhos do bem. No Espírito que não tem bases para a reforma dos seus
costumes as mudanças são aparentes. Elas se processam apenas externamente, sem
nenhum motivo interno. É necessária a teoria, para com o tempo aparecer a
prática.
A vontade cresce com o tempo.
Não existem outros meios e ninguém foi criado diferente do outro. Todos somos
iguais, na igualdade que as leis nos mostram, porque Deus, sendo Pai de
Filosofia Espírita todas as criaturas, pelo Seu amor não iria criar Espíritos
diferentes entre si. Os caminhos para o despertamento das criaturas são
variáveis, porém, o peso e as experiências são os mesmos, têm as mesmas forças
educativas. A vontade tem um poder muito grande em nossas mudanças, mas quando
essa vontade se alicerça na educação e na disciplina, sendo que essa educação e
essa disciplina somente ganham terreno quando começa a aflorar na alma a
maturidade espiritual. Assim são todas as virtudes: só nascem no clima do
despertar para a vida.
O Livro dos Espíritos é o
livro basilar da Doutrina dos Espíritos, entretanto, é preciso que o leiamos
com muita atenção, porque muitas respostas se completam, estando umas distantes
das outras, na disposição do livro. Vamos transcrever o que Paulo fala a Tito,
no capítulo um, versículo quatorze:
E não se ocupem com fábulas judaicas, nem com
mandamentos de homens desviados da verdade.
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