quinta-feira, 25 de julho de 2024

A VONTADE[1]

 


Miramez

 

Pode o homem, por sua vontade e pelos seus atos, evitar acontecimentos que deviam realizar-se e vice-versa?

− Pode, desde que esse desvio aparente possa caber na ordem geral da vida que ele escolheu. Além disso, para fazer o bem, como é do seu dever e único objetivo da vida, ele pode impedir o mal, sobretudo aquele que possa contribuir para um mal ainda maior.

Questão 860 / O Livro dos Espíritos

 

Acresce notar-se que a vontade na alma constitui uma força poderosa na sequência da sua vida. O poder da vontade realiza prodígios, principalmente dentro de nós, no entanto, é bom que se note que, para termos uma vontade poderosa, necessário se faz o alcance da maturidade espiritual.

As leis que regem a vida não podem ser interpretadas com uma palavra somente; elas têm uma área imensa a ser descortinada. Eis aí como muitos se enganam, querendo mostrar a lei de Deus em um simples livro que apenas copia a natureza, sem que a verdade esteja nele totalmente. Um livro, o melhor que seja, nos mostra uma simples claridade da lei vigente e vibrante em todos os reinos. Não devemos esmorecer. Estamos caminhando para a espiritualidade maior, e essa caminhada se faz passo a passo. Deus não tem pressa, mas nunca para, e os nossos olhos, tanto de encarnados quanto dos fora da carne, vão se abrindo frente à verdade, pelos processos do tempo-espaço, que é a ação de Deus nos acordando para os cumprimentos dos nossos deveres.

A própria Doutrina dos Espíritos não tem a pretensão, e nunca teve, de revelar todas as leis, de fazer o homem conhecer a verdade total. Não é a sua finalidade; o que ela pode fazer e se encontra fazendo, é gradativamente ir nos mostrando o que podemos suportar, pelos meios de que dispõe e pela vontade de Deus.

O ser humano, pela sua vontade, pode mudar muita coisa nas linhas do destino, e a vida que levamos, mesmo no mundo espiritual, é cheia de mudanças que a vontade pode fazer.

Entretanto, essa vontade somente encontra apoio para o que ela realiza, nas experiências acumuladas, o que quer dizer na maturidade espiritual.

Uma alma primitiva nada pode fazer com a sua vontade apenas seguindo o bem, aquele caminho que o Espírito iluminado trilha, por já ter colhido em suas várias vidas sucessivas um celeiro de advertências e milhares de anos lutando entre os infortúnios e as dores, como duras lições, porque somente assim pode o Espírito iluminar a consciência e expandir o coração. A vontade naquele que não tem experiências colhidas em muitas vidas, nada vale, por não saber usá-la, nem escolher seus próprios caminhos.

Podes conhecer melhor o que é a vontade, notando, como experiência, o que fazem os cientistas quando enviam uma nave ao espaço; depois que ela voa ganhando milhares e milhares de quilômetros, aí é que se faz a correção da sua rota. Assim é a alma; a correção da sua rota é feita depois de muitas reencarnações, somente depois que a nave humana sai para os caminhos do bem. No Espírito que não tem bases para a reforma dos seus costumes as mudanças são aparentes. Elas se processam apenas externamente, sem nenhum motivo interno. É necessária a teoria, para com o tempo aparecer a prática.

A vontade cresce com o tempo. Não existem outros meios e ninguém foi criado diferente do outro. Todos somos iguais, na igualdade que as leis nos mostram, porque Deus, sendo Pai de Filosofia Espírita todas as criaturas, pelo Seu amor não iria criar Espíritos diferentes entre si. Os caminhos para o despertamento das criaturas são variáveis, porém, o peso e as experiências são os mesmos, têm as mesmas forças educativas. A vontade tem um poder muito grande em nossas mudanças, mas quando essa vontade se alicerça na educação e na disciplina, sendo que essa educação e essa disciplina somente ganham terreno quando começa a aflorar na alma a maturidade espiritual. Assim são todas as virtudes: só nascem no clima do despertar para a vida.

O Livro dos Espíritos é o livro basilar da Doutrina dos Espíritos, entretanto, é preciso que o leiamos com muita atenção, porque muitas respostas se completam, estando umas distantes das outras, na disposição do livro. Vamos transcrever o que Paulo fala a Tito, no capítulo um, versículo quatorze:

E não se ocupem com fábulas judaicas, nem com mandamentos de homens desviados da verdade.



[1] Filosofia Espírita – Volume 17 – João Nunes Maia

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