quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

MUNDOS MAIS ELEVADOS[1]

 

Ordem Amoris - Mundos Superiores

Miramez

 

Nos mundos mais adiantados que o nosso, onde não existem todas as nossas necessidades físicas e as nossas enfermidades, os homens compreendem que são mais felizes do que nós? A felicidade, em geral, é relativa; sentimo-la por comparação com um estado menos feliz. Como, em suma, alguns desses mundos, embora melhores que o nosso, não chegaram ao estado de perfeição, os homens que os habitam devem ter motivos de aborrecimento a seu modo. Entre nós, o rico, ainda que não sofra a angústia das necessidades materiais como o pobre, não está menos sujeito a tribulações que lhe amarguram a vida. Ora, pergunto se, na sua posição, os habitantes desses mundos não se sentem tão infelizes quanto nós e não lastimam a própria sorte, já que não têm a lembrança de uma existência inferior para comparação?

− A isto é preciso dar duas respostas diferentes. Há mundos, entre aqueles de que falas, em que os habitantes, situados, como dizes, em melhores condições que vós, nem por isso estão menos sujeitos a grandes desgostos e mesmo a infelicidades. Estes não apreciam a sua felicidade pelo fato mesmo de não se lembrarem de um estado ainda mais infeliz. Se, entretanto, não a apreciam como homens, o fazem como Espíritos.

 

Não há, no esquecimento dessas existências passadas, sobretudo quando foram penosas, alguma coisa de providencial, onde se revela a sabedoria divina? É nos mundos superiores, quando a lembrança das existências infelizes não passa de um sonho mau, que elas se apresentam à memória. Nos mundos inferiores, as infelicidades presentes não seriam agravadas pela recordação de tudo aquilo que se tivesse suportado? Concluamos, portanto, que tudo quanto Deus faz é bem feito, e que não nos cabe criticar as suas obras e dizer como Ele deveria ter regulado o Universo.

A lembrança de nossas individualidades anteriores teria gravíssimos inconvenientes.

Poderia, em certos casos, humilhar-nos extraordinariamente; em outros, exaltar o nosso orgulho, e por isso mesmo entravar o nosso livre arbítrio. Deus nos deu, para nos melhorarmos, justamente o que nos é necessário e suficiente: a voz da consciência e nossas tendências instintivas, tirando-nos aquilo que nos poderia prejudicar. Acrescentemos ainda que, se tivéssemos a lembrança de nossos atos pessoais anteriores, teríamos a dos atos alheios, e esse conhecimento poderia ter os mais desagradáveis efeitos sobre as relações sociais. Não havendo sempre motivo para nos orgulharmos do nosso passado é quase sempre uma felicidade que um véu seja lançado sobre ele. Isso concorda perfeitamente com a doutrina dos Espíritos sobre os mundos superiores ao nosso. Nesses mundos, onde não reina senão o bem, a lembrança do passado nada tem de penosa; é por isso que neles se recorda com frequência a existência precedente, como nos lembramos do que fizemos na véspera. Quanto à passagem que se possa ter tido por mundos inferiores, a sua lembrança nada mais é, como dissemos, do que um sonho mau. (Allan Kardec)

Questão 394 / O Livro dos Espíritos

 

Certamente que no mundo onde se inicia a perfeição espiritual, onde ninguém faz mais o mal, os Espíritos têm mais capacidade de recordação do passado, de modo a não se perturbarem com tais recordações. As lembranças são de acordo com a elevação da alma, isso é lei de justiça divina, na computação de valores espirituais, na jornada de Espírito imortal.

Nos mundos elevadíssimos, não há mais interesse de recordações, as quais ficarão de lado, a não ser quando elas possam ser ponto de lições para outrem. O Espírito puro nada deixa se perder. Encandeia-se tudo para o todo, na profusão do amor, que não tem limites. Existem mundos nos quais as lembranças do Espírito não são bem claras, mas o Espírito se encontra preparado para resgatá-las com coragem; sabe o que deve passar no carro cármico e aproveita as lições com eficiência; entretanto a alma não está preparada, como no caso das que habitam a Terra, as recordações vêm trazer embaraços ao próprio despertamento espiritual. Deus sabe o que faz na Sua casa grande, e para cada criatura em separado.

A Terra é um mundo de provações duras, onde os resgates são violentos, nos caminhos humanos. Dessa forma, as lembranças vêm como leves intuições do passado distante. São, às vezes, complemento dos sonhos, ou vêm mesmo nas conversas de amigos, desde quando prestemos atenção no que ouvimos. Até mesmo os livros que tratam da História podem nos servir de estímulos de recordações, porque os fatos acontecidos e registrados têm algo a ver conosco.

Em quase todos os casos, se recordássemos das vidas pretéritas, assomar-nos-ia a apatia, atrapalhando o nosso presente. Faltaria em nossos caminhos de reparação o ânimo suficiente para as lutas. Deus sabe o que deve ser feito.

As recordações que os Espíritos inferiores têm do passado trazem nuvens cruvianas no presente, de difícil reparação, e é sob esse ponto de vista que Deus nos abençoa, filtrando as nossas necessidades espirituais de modo que elas cheguem à nossa consciência de acordo com as nossas necessidades espirituais. Ele deixa as recordações mais exatas para mundos mais elevados, de modo que haja mais esforços, sem turvamento da mente, nos campos da limpeza cármica.

Jesus foi o maior de todos os mestres, a nos ensinar as leis e nos prover de forças tais que os caminhos nos mostram meios diversos de nos curarmos. Gravíssimo perigo seria se lembrássemos das nossas existências anteriores, como lembramos do ocorrido de ontem. A confusão assomaria o nosso eu, deixando-nos sem solução, mas a Bondade Divina prevê todos os desastres sem reparo, e nos coloca em lugares mais fáceis de nos conscientizarmos das nossas necessidades espirituais.

Não devemos esmorecer, pois a Terra logo irá passar a outro nível, na escala dos mundos, onde as recordações do passado serão mais claras e os recursos mais eficientes, em todo os rumos. Convém que todos os Espíritos encarnados e desencarnados trabalhem dentro de si mesmos buscando a verdade, que ela sempre liberta os nossos corações ainda presos nas sombras do passado.

Se estamos em mundo inferior, já estivemos pior, e é nessa certeza que entra a esperança de que, em breves tempos, passaremos a pertencer a um mundo melhor.



[1] Filosofia Espírita – Volume 8 – João Nunes Maia

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