Marcelo Anátocles Ferreira - abril/2023
Mateus (16:25)
No livro O idiota[3],
Dostoiévski apresenta uma interessante história narrada pelo personagem
principal, o príncipe Míchkin. Em uma conversa informal, ele fala de um homem
que, por crime político, tinha sido condenado à pena de morte e estava na fila
para a execução. Tinha a firme convicção de que morreria em minutos. Aos vinte
e sete anos de vida, organizou aqueles últimos minutos enquanto caminhava para
a forca. Era o oitavo da fila e outros caminhavam na sua frente.
Aqueles minutos finais lhe
pareciam uma eternidade e um tesouro infinito. Reservara-os para pensar em si
mesmo, quando lhe veio à mente a possibilidade de não morrer. Foi quando
afirmou para si mesmo: Se me for devolvida a vida, transformarei cada minuto
em outras tantas eternidades…
Na hora H, ele teve a
pena de morte substituída pela pena de degredo. Não se sabe como ele viveu a
partir dali, mas deixou para todos uma importante reflexão.
Essa história nos faz recordar a
frase de Jesus, contida em Mateus, sobre salvar ou perder a vida.
O Espírito Camilo a respeito
ensina[4]:
Quando queremos penetrar o sentido do ensinamento do
Cristo a respeito do ganhar e do perder a vida, faz-se importante tomar outro
ângulo para percebermos que serão felizes os que estejam ganhando
espiritualmente as próprias existências, convertendo-as em vida, pelas realizações
fecundas, pelo crescimento que imprimam às próprias ações, pela fidelidade com
que sirvam a Deus, em cada gesto que os caracterize pelo mundo. Esses serão
bem-aventurados, recolhendo das Fontes Celestiais, em forma de bênçãos de saúde
íntima, de equilíbrio geral e de paz, a vida abundante que souberam buscar ao
longo de seus dias na escola terrena.
É necessário transformar cada
minuto em eternidade, valorizar o tempo em que estamos no corpo e entender que
a Terra é uma grande escola repleta de oportunidades de aprendizado.
Com essa visão, poderemos
transformar os momentos em família, por mais dura que seja a situação familiar,
em momentos de aprendizado feliz. Aprender com o familiar difícil e as lições
que ele nos dá, as renúncias que ele nos exige, os serviços que ele nos impõe.
Aprender com o familiar dócil, que nos acaricia e nos faz crescer; e com o
familiar forte que nos apoia e nos torna melhores.
Podemos ainda eternizar os
momentos de experiência profissional aprendendo com os esforços diários,
transformando a rotina em experiência de bênção desde a hora em que acordamos,
e agradecemos a Deus pelo trabalho bendito, até a hora em que retornamos,
muitas vezes, em uma condução desconfortável, enfrentando um trânsito pesado,
mas enriquecendo-nos com a oportunidade de crescimento em grupo.
Devemos eternizar os minutos na Casa Espírita que
frequentamos, sendo inteiros em cada dia em que estivermos ali, ainda que não
possamos estar em todos os dias que gostaríamos, fazendo da experiência religiosa
uma experiência intensa e feliz.
Nas oportunidades em que o corpo
apresentar suas limitações, através de enfermidades, precisamos aproveitar as
lições de vida que a dor nos traz para que possamos crescer e melhorar
interiormente.
Hoje, com os espaços virtuais
que a tecnologia nos oferta, é necessário também aproveitar esses avanços para
espalhar bênçãos da sabedoria espírita, multiplicando aquilo que recebemos e
que nos faz tão bem.
Nos encontros diários, nos
contatos sociais com vizinhos, comerciantes, servidores, pedintes e sofredores,
devemos doar o que tivermos de melhor, ainda que o dia não esteja sendo dos
mais especiais.
Ganhar ou perder a vida.
Se eu tiver minha vida
devolvida, viverei cada minuto como uma eternidade.
Estamos vivos, renascidos no
corpo com uma infinidade de minutos para aproveitarmos. Que, então, ganhemos a
vida…
[1] MUNDO ESPÍRITA - http://www.mundoespirita.com.br/?materia=a-eternidade-de-cada-minuto
[2] BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. O novo testamento.
Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica
Brasileira, 1966. cap. 16, vers. 25.
[3] DOSTOIÉVSK, Fiódor. “O idiota”. São Paulo: Martin
Claret, 2018.
[4] TEIXEIRA, José Raul. “Justiça e amor”. Pelo Espírito
Camilo. Niterói: Fráter, 2013. cap. 25.
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