sábado, 22 de abril de 2023

A ETERNIDADE DE CADA MINUTO[1]

 


Marcelo Anátocles Ferreira - abril/2023


 Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á[2].

Mateus (16:25)

 

No livro O idiota[3], Dostoiévski apresenta uma interessante história narrada pelo personagem principal, o príncipe Míchkin. Em uma conversa informal, ele fala de um homem que, por crime político, tinha sido condenado à pena de morte e estava na fila para a execução. Tinha a firme convicção de que morreria em minutos. Aos vinte e sete anos de vida, organizou aqueles últimos minutos enquanto caminhava para a forca. Era o oitavo da fila e outros caminhavam na sua frente.

Aqueles minutos finais lhe pareciam uma eternidade e um tesouro infinito. Reservara-os para pensar em si mesmo, quando lhe veio à mente a possibilidade de não morrer. Foi quando afirmou para si mesmo: Se me for devolvida a vida, transformarei cada minuto em outras tantas eternidades…

Na hora H, ele teve a pena de morte substituída pela pena de degredo. Não se sabe como ele viveu a partir dali, mas deixou para todos uma importante reflexão.

Essa história nos faz recordar a frase de Jesus, contida em Mateus, sobre salvar ou perder a vida.

O Espírito Camilo a respeito ensina[4]:

Quando queremos penetrar o sentido do ensinamento do Cristo a respeito do ganhar e do perder a vida, faz-se importante tomar outro ângulo para percebermos que serão felizes os que estejam ganhando espiritualmente as próprias existências, convertendo-as em vida, pelas realizações fecundas, pelo crescimento que imprimam às próprias ações, pela fidelidade com que sirvam a Deus, em cada gesto que os caracterize pelo mundo. Esses serão bem-aventurados, recolhendo das Fontes Celestiais, em forma de bênçãos de saúde íntima, de equilíbrio geral e de paz, a vida abundante que souberam buscar ao longo de seus dias na escola terrena.

É necessário transformar cada minuto em eternidade, valorizar o tempo em que estamos no corpo e entender que a Terra é uma grande escola repleta de oportunidades de aprendizado.

Com essa visão, poderemos transformar os momentos em família, por mais dura que seja a situação familiar, em momentos de aprendizado feliz. Aprender com o familiar difícil e as lições que ele nos dá, as renúncias que ele nos exige, os serviços que ele nos impõe. Aprender com o familiar dócil, que nos acaricia e nos faz crescer; e com o familiar forte que nos apoia e nos torna melhores.

Podemos ainda eternizar os momentos de experiência profissional aprendendo com os esforços diários, transformando a rotina em experiência de bênção desde a hora em que acordamos, e agradecemos a Deus pelo trabalho bendito, até a hora em que retornamos, muitas vezes, em uma condução desconfortável, enfrentando um trânsito pesado, mas enriquecendo-nos com a oportunidade de crescimento em grupo.

Devemos eternizar os minutos na Casa Espírita que frequentamos, sendo inteiros em cada dia em que estivermos ali, ainda que não possamos estar em todos os dias que gostaríamos, fazendo da experiência religiosa uma experiência intensa e feliz.

Nas oportunidades em que o corpo apresentar suas limitações, através de enfermidades, precisamos aproveitar as lições de vida que a dor nos traz para que possamos crescer e melhorar interiormente.

Hoje, com os espaços virtuais que a tecnologia nos oferta, é necessário também aproveitar esses avanços para espalhar bênçãos da sabedoria espírita, multiplicando aquilo que recebemos e que nos faz tão bem.

Nos encontros diários, nos contatos sociais com vizinhos, comerciantes, servidores, pedintes e sofredores, devemos doar o que tivermos de melhor, ainda que o dia não esteja sendo dos mais especiais.

Ganhar ou perder a vida.

Se eu tiver minha vida devolvida, viverei cada minuto como uma eternidade.

Estamos vivos, renascidos no corpo com uma infinidade de minutos para aproveitarmos. Que, então, ganhemos a vida…



[2] BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1966. cap. 16, vers. 25.

[3] DOSTOIÉVSK, Fiódor. “O idiota”. São Paulo: Martin Claret, 2018.

[4] TEIXEIRA, José Raul. “Justiça e amor”. Pelo Espírito Camilo. Niterói: Fráter, 2013. cap. 25.


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