sexta-feira, 3 de junho de 2022

SEXUALIDADE, RELAÇÃO PAIS E FILHOS[1]

 



Alessandro Viana Vieira de Paula[2]

 

O instinto sexual é um dos mais vigorosos na criatura humana porque associado à preservação da espécie, vinculado que está à lei de reprodução (vide O Livro dos Espíritos, 3ª parte, capítulo IV), razão pela qual o sexo também é fonte de prazer, a fim de que o indivíduo se sinta estimulado a buscá-lo, promovendo a perpetuação da espécie humana.

Além do seu caráter biológico e reprodutivo, os bons Espíritos nos revelam que no ato sexual permeado pelo respeito, responsabilidade e amor, também há permuta de energias de qualidade superior, com o escopo de reposição dos desgastes energéticos do períspirito.

O sexo ainda é um tema marcado por muitos tabus, castrações, condenações, desvios etc., de forma que deve ser abordado nas Casas Espíritas por pessoas devidamente preparadas e com conhecimento doutrinário, evitando-se abordagens pautadas por falas e ideias meramente pessoais, pois há vasta literatura espírita nessa área.

Os tempos atuais trazem desafios adicionais, haja vista que saímos da castração de outrora, quando o sexo era visto como algo imundo, pecaminoso, e migramos para a excessiva liberalidade, movida apenas pelo desejo sexual em descontrole, onde tudo é válido na busca do prazer, ainda que de forma irresponsável e lesando emoções alheias.

Ademais, vivemos a era da tecnologia e das redes sociais, que fomentam e facilitam o exercício inadequado da função sexual, havendo, inclusive, aplicativos que promovem encontros com a finalidade do conúbio sexual pautado apenas pela busca do prazer, sem a adição do sentimento, o que torna o ato repreensível do ponto de vista dos valores nobres.

As estatísticas revelam que a pornografia é uma das principais buscas pelos usuários na internet, inclusive por jovens e crianças, estas talvez movidas pela mera curiosidade ou pela precocidade como esses assuntos chegam ao seu cotidiano.

Os benfeitores espirituais ainda informam que são raros os Espíritos, na Terra, que não trazem algumas complicações, conflitos ou desarmonias na área do sexo, o que torna a abordagem desse tema realmente necessária.

Todas essas questões apontadas tornam a tarefa dos pais, educadores e trabalhadores espíritas mais desafiadora, exigindo equilíbrio, conhecimento e amorosidade.

Há urgente necessidade de mostrarmos a importância da disciplina mental e comportamental nessa área, realçando os valores do Evangelho, que preconizam o amor e o respeito.

Jesus, o sublime Mestre, orienta que aquele que cobiçasse a mulher do próximo já estaria cometendo adultério em seu coração (Mateus 5:27-28).

Sabemos que as tormentas do sexo se iniciam na mente e, mesmo que não convertidas em atitudes, atraem vínculos obsessivos de difícil trato, e revelam que os portadores desses pensamentos necessitam de orientação e elevação mental para que não permaneçam em tormentos e conflitos, piorando, paulatinamente, a sua saúde mental e espiritual.

Não se trata de castração ou repressão, mas do uso adequado do sexo, atendendo sua finalidade superior, divina, pois dele dimanam forças criativas, e, como elucida o Espírito Emmanuel:

“Não proibição, mas educação. Não abstinência imposta, mas emprego digno, com o devido respeito aos outros e a si mesmo. Não indisciplina, mas controle. Não impulso livre, mas responsabilidade[...]” .

“Vida e Sexo” – Introdução

 

Diante da apologia ao prazer da atualidade, que dá ênfase ao sexo, os pais e os educadores necessitam estar atentos e dispostos ao diálogo fraternal, até porque, vivemos um momento em que os jovens e as crianças estão lidando com excessos de informações por conta da era digital, nem todas de boa procedência.

É bom frisar que as tarefas do diálogo e da educação cabem aos pais ou responsáveis legais, norteando moralmente os filhos e esclarecendo suas dúvidas acerca do sexo e da sexualidade, cabendo aos educadores da escola a função de uma orientação mais técnica, conceitual e biológica acerca da função reprodutiva do ser humano e da anatomia dos órgãos sexuais.

Claro que é de bom alvitre que os pais, os responsáveis legais e os educadores, inclusive os Coordenadores da evangelização e da mocidade na Casa Espírita, ofertem um bom exemplo nessa área, com condutas equilibradas, porque as crianças e os jovens se espelham muito neles, mas  não podemos desconsiderar que a responsabilidade maior é dos pais e responsáveis legais (vide a questão 208 de O Livro dos Espíritos).

A educação a ser ministrada pelos pais deve ser aquela que habilita os seus filhos a viverem no mundo, até porque, nesta era digital não conseguimos monitorá-los a todo momento, cabendo a estes, a partir da boa ou má educação que receberam, e das bagagens, equilibradas ou desequilibradas, que ostentam do seu passado espiritual, fazerem as escolhas, dizendo “sim” ou “não” para as situações que lhes são apresentadas, exercitando seu livre-arbítrio, que faz parte do seu amadurecimento espiritual.

Para se ter mais sucesso nessas questões educacionais, cabe frisar que se deve cultivar o hábito do diálogo, de saber ouvir, de expressar nossos sentimentos de amor e cuidado pelos filhos, criando “tempos” e “oportunidades” para que a amizade e a convivência se estabeleçam na relação pais/filhos.

Na atualidade, temos que tomar cuidado com os modismos e modernidades que ganham status de normalidade, que acabam invadindo os lares e contam, infelizmente, com o consentimento dos pais ou responsáveis.

Sabemos que o exemplo é o meio mais eficaz de educar os filhos, portanto, cabe aos pais e responsáveis adotarem condutas equilibradas na área da sexualidade, não que isso deva ser integralmente do conhecimento dos filhos, mas o equilíbrio nessa área fortalece a fibra moral que ajuda na relação pais/filhos.

Em sentido inverso, se os pais ou responsáveis adotam comportamentos esdrúxulos e irresponsáveis na área da sexualidade, com hábitos nada recomendáveis do ponto de vista espiritual e moral, tais como, assistir a filmes pornográficos, ostentar relações extraconjugais, frequência a motéis, fatos estes que podem chegar ao conhecimento dos filhos adolescentes, certamente poderá haver desajustes, atritos e desarmonias nos diálogos atinentes a esse assunto que se estabeleçam na família.

Ademais, toda conduta equilibrada, pautada pelos valores do Evangelho, cria uma sintonia elevada, permitindo aos pais estabelecerem vínculos psíquicos com a Espiritualidade superior, onde poderão receber inspiração e energias de boa qualidade que os fortalecerão para os desafios da

educação.

Quando os pais perceberem, na própria conduta, desvios, viciações, desequilíbrios na área da sexualidade, é importante buscar ajuda espiritual e médica, a fim de se fortalecerem para o “bom combate”, superando as más inclinações e edificando na intimidade o “homem novo”.

Outro assunto crucial para o tema é a incidência da influência espiritual, a obsessão, pois havendo desajustes da sexualidade na área da vivência e dos padrões mentais, dos desejos íntimos, naturalmente que haverá sintonia com Espíritos que também trazem as mesmas problemáticas, os quais tentarão, a todo custo, desequilibrar o indivíduo, levando-o às quedas morais nessa área, infelicitando-o e criando novos débitos em razão da lei de causa e efeito.

Para se libertar desses vínculos obsessivos, deve-se buscar as ajudas já citadas, e ainda temos as reuniões de desobsessão nas Casas Espíritas que prestarão ajuda valiosa, cujo efeito positivo também dependerá da mudança de conduta do obsediado.

Diante das diversas questões que surgem sobre a relação pais/filhos envolvendo o tema em foco, mostra-se prudente que as venerandas lições do Espiritismo possam iluminar as mentes e os corações dos pais e dos filhos, cabendo àqueles frequentarem os grupos de estudo e a estes a evangelização infantil e a mocidade espírita, o que lhes ajudarão vigorosamente.

Assim sendo, vemos a grandeza do Espiritismo que nos apresenta soluções e caminhos serenos para os desafios que a vida nos apresenta, inclusive para os dilemas do sexo e da sexualidade.

Por derradeiro, além das obras básicas e a Revista Espírita, todas de Allan Kardec, indico, a título de sugestão e complementação doutrinária, os seguintes livros: “Vida e Sexo” e “Sexo e destino”, de Chico Xavier; “Vereda Familiar”, “Desafios da Educação”, “Minha família”, “O mundo e eu”, “Desafios da Vida Familiar” e “Cânticos da Juventude”, de Jose Raul Teixeira; “Encontro com a paz e a saúde”, “S.O.S. Família”, “Sexo e obsessão” e “Adolescência e Vida”, de Divaldo Pereira Franco.



[1] DIRIGENTE ESPÍRITA - janeiro/fevereiro – 2021 – edição 181 - https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2021/01/DE181.pdf

[2] Alessandro Viana Vieira de Paula é juiz de direito, escritor e palestrante espírita. Articulista da revista Reformador, da FEB, e de Mundo Espírita, da FEP – Federação Espírita do Paraná.

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