Alessandro Viana Vieira de Paula[2]
O instinto sexual é um dos mais
vigorosos na criatura humana porque associado à preservação da espécie,
vinculado que está à lei de reprodução (vide O Livro dos Espíritos, 3ª
parte, capítulo IV), razão pela qual o sexo também é fonte de prazer, a fim de
que o indivíduo se sinta estimulado a buscá-lo, promovendo a perpetuação da
espécie humana.
Além do seu caráter biológico e
reprodutivo, os bons Espíritos nos revelam que no ato sexual permeado pelo
respeito, responsabilidade e amor, também há permuta de energias de qualidade
superior, com o escopo de reposição dos desgastes energéticos do períspirito.
O sexo ainda é um tema marcado
por muitos tabus, castrações, condenações, desvios etc., de forma que deve ser
abordado nas Casas Espíritas por pessoas devidamente preparadas e com
conhecimento doutrinário, evitando-se abordagens pautadas por falas e ideias
meramente pessoais, pois há vasta literatura espírita nessa área.
Os tempos atuais trazem desafios
adicionais, haja vista que saímos da castração de outrora, quando o sexo era
visto como algo imundo, pecaminoso, e migramos para a excessiva liberalidade,
movida apenas pelo desejo sexual em descontrole, onde tudo é válido na busca do
prazer, ainda que de forma irresponsável e lesando emoções alheias.
Ademais, vivemos a era da
tecnologia e das redes sociais, que fomentam e facilitam o exercício inadequado
da função sexual, havendo, inclusive, aplicativos que promovem encontros com a
finalidade do conúbio sexual pautado apenas pela busca do prazer, sem a adição
do sentimento, o que torna o ato repreensível do ponto de vista dos valores
nobres.
As estatísticas revelam que a
pornografia é uma das principais buscas pelos usuários na internet, inclusive
por jovens e crianças, estas talvez movidas pela mera curiosidade ou pela
precocidade como esses assuntos chegam ao seu cotidiano.
Os benfeitores espirituais ainda
informam que são raros os Espíritos, na Terra, que não trazem algumas
complicações, conflitos ou desarmonias na área do sexo, o que torna a abordagem
desse tema realmente necessária.
Todas essas questões apontadas
tornam a tarefa dos pais, educadores e trabalhadores espíritas mais
desafiadora, exigindo equilíbrio, conhecimento e amorosidade.
Há urgente necessidade de
mostrarmos a importância da disciplina mental e comportamental nessa área,
realçando os valores do Evangelho, que preconizam o amor e o respeito.
Jesus, o sublime Mestre, orienta
que aquele que cobiçasse a mulher do próximo já estaria cometendo adultério em
seu coração (Mateus 5:27-28).
Sabemos que as tormentas do sexo
se iniciam na mente e, mesmo que não convertidas em atitudes, atraem vínculos
obsessivos de difícil trato, e revelam que os portadores desses pensamentos
necessitam de orientação e elevação mental para que não permaneçam em tormentos
e conflitos, piorando, paulatinamente, a sua saúde mental e espiritual.
Não se trata de castração ou
repressão, mas do uso adequado do sexo, atendendo sua finalidade superior,
divina, pois dele dimanam forças criativas, e, como elucida o Espírito Emmanuel:
“Não proibição, mas educação. Não abstinência imposta,
mas emprego digno, com o devido respeito aos outros e a si mesmo. Não
indisciplina, mas controle. Não impulso livre, mas responsabilidade[...]” .
“Vida e Sexo” – Introdução
Diante da apologia ao prazer da
atualidade, que dá ênfase ao sexo, os pais e os educadores necessitam estar
atentos e dispostos ao diálogo fraternal, até porque, vivemos um momento em que
os jovens e as crianças estão lidando com excessos de informações por conta da
era digital, nem todas de boa procedência.
É bom frisar que as tarefas do
diálogo e da educação cabem aos pais ou responsáveis legais, norteando
moralmente os filhos e esclarecendo suas dúvidas acerca do sexo e da
sexualidade, cabendo aos educadores da escola a função de uma orientação mais
técnica, conceitual e biológica acerca da função reprodutiva do ser humano e da
anatomia dos órgãos sexuais.
Claro que é de bom alvitre que
os pais, os responsáveis legais e os educadores, inclusive os Coordenadores da
evangelização e da mocidade na Casa Espírita, ofertem um bom exemplo nessa área,
com condutas equilibradas, porque as crianças e os jovens se espelham muito
neles, mas não podemos desconsiderar que
a responsabilidade maior é dos pais e responsáveis legais (vide a questão 208
de O Livro dos Espíritos).
A educação a ser ministrada
pelos pais deve ser aquela que habilita os seus filhos a viverem no mundo, até
porque, nesta era digital não conseguimos monitorá-los a todo momento, cabendo a
estes, a partir da boa ou má educação que receberam, e das bagagens,
equilibradas ou desequilibradas, que ostentam do seu passado espiritual, fazerem
as escolhas, dizendo “sim” ou “não” para as situações que lhes são
apresentadas, exercitando seu livre-arbítrio, que faz parte do seu amadurecimento
espiritual.
Para se ter mais sucesso nessas
questões educacionais, cabe frisar que se deve cultivar o hábito do diálogo, de
saber ouvir, de expressar nossos sentimentos de amor e cuidado pelos filhos, criando
“tempos” e “oportunidades” para que a amizade e a convivência se estabeleçam na
relação pais/filhos.
Na atualidade, temos que tomar
cuidado com os modismos e modernidades que ganham status de normalidade, que
acabam invadindo os lares e contam, infelizmente, com o consentimento dos pais ou
responsáveis.
Sabemos que o exemplo é o meio
mais eficaz de educar os filhos, portanto, cabe aos pais e responsáveis
adotarem condutas equilibradas na área da sexualidade, não que isso deva ser integralmente
do conhecimento dos filhos, mas o equilíbrio nessa área fortalece a fibra moral
que ajuda na relação pais/filhos.
Em sentido inverso, se os pais
ou responsáveis adotam comportamentos esdrúxulos e irresponsáveis na área da
sexualidade, com hábitos nada recomendáveis do ponto de vista espiritual e moral,
tais como, assistir a filmes pornográficos, ostentar relações extraconjugais, frequência
a motéis, fatos estes que podem chegar ao conhecimento dos filhos adolescentes,
certamente poderá haver desajustes, atritos e desarmonias nos diálogos
atinentes a esse assunto que se estabeleçam na família.
Ademais, toda conduta
equilibrada, pautada pelos valores do Evangelho, cria uma sintonia elevada,
permitindo aos pais estabelecerem vínculos psíquicos com a Espiritualidade
superior, onde poderão receber inspiração e energias de boa qualidade que os
fortalecerão para os desafios da
educação.
Quando os pais perceberem, na
própria conduta, desvios, viciações, desequilíbrios na área da sexualidade, é
importante buscar ajuda espiritual e médica, a fim de se fortalecerem para o
“bom combate”, superando as más inclinações e edificando na intimidade o “homem
novo”.
Outro assunto crucial para o
tema é a incidência da influência espiritual, a obsessão, pois havendo
desajustes da sexualidade na área da vivência e dos padrões mentais, dos
desejos íntimos, naturalmente que haverá sintonia com Espíritos que também
trazem as mesmas problemáticas, os quais tentarão, a todo custo, desequilibrar
o indivíduo, levando-o às quedas morais nessa área, infelicitando-o e criando
novos débitos em razão da lei de causa e efeito.
Para se libertar desses vínculos
obsessivos, deve-se buscar as ajudas já citadas, e ainda temos as reuniões de
desobsessão nas Casas Espíritas que prestarão ajuda valiosa, cujo efeito
positivo também dependerá da mudança de conduta do obsediado.
Diante das diversas questões que
surgem sobre a relação pais/filhos envolvendo o tema em foco, mostra-se
prudente que as venerandas lições do Espiritismo possam iluminar as mentes e os
corações dos pais e dos filhos, cabendo àqueles frequentarem os grupos de
estudo e a estes a evangelização infantil e a mocidade espírita, o que lhes
ajudarão vigorosamente.
Assim sendo, vemos a grandeza do
Espiritismo que nos apresenta soluções e caminhos serenos para os desafios que
a vida nos apresenta, inclusive para os dilemas do sexo e da sexualidade.
Por derradeiro, além das obras
básicas e a Revista Espírita, todas de Allan Kardec, indico, a título de
sugestão e complementação doutrinária, os seguintes livros: “Vida e Sexo” e “Sexo
e destino”, de Chico Xavier; “Vereda Familiar”, “Desafios da Educação”, “Minha
família”, “O mundo e eu”, “Desafios da Vida Familiar” e “Cânticos da Juventude”,
de Jose Raul Teixeira; “Encontro com a paz e a saúde”, “S.O.S. Família”, “Sexo
e obsessão” e “Adolescência e Vida”, de Divaldo Pereira Franco.
[1] DIRIGENTE ESPÍRITA - janeiro/fevereiro – 2021 – edição
181 - https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2021/01/DE181.pdf
[2] Alessandro Viana Vieira de Paula é juiz de direito,
escritor e palestrante espírita. Articulista da revista Reformador, da FEB, e
de Mundo Espírita, da FEP – Federação Espírita do Paraná.
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