sexta-feira, 10 de junho de 2022

“RECEITA” PARA LIDAR COM A OBSESSÃO[1]

 

Rogério Miguez - abril 6, 2022

 

Práticas realizadas por quem afirma ter ligação com forças superiores, ou divinas, visando a nossa melhoria espiritual, ou mesmo material, são tão antigas quanto a nossa História.

Curandeiros, gurus, bruxos, benzedeiras, e tantos outros, sempre se colocaram a nosso alcance para libertar-nos de fluidos e entidades que estariam nos prejudicando, lançando mão de rezas particulares, mandingas e simpatias. Alguns o fazem gratuitamente, outros nem tanto.

Particularmente em nosso país esta conduta é bem popular, haja vista a quantidade imensa de cartazes fixados em postes ao longo das ruas e avenidas prometendo afastar os chamados encostos, entidades “responsáveis” por todo o nosso infortúnio nos dias presentes – como se não tivéssemos nenhuma responsabilidade sobre o andamento de nossas particulares vidas.

Sabe-se que estes alegados “sensitivos’ prometem mais do que isto, pois afirmam categóricos, ser capazes de trazer a pessoa amada de volta; curar doenças de variada ordem; alguns chegam mesmo a prometer riquezas, prêmios de loterias, ou seja, tudo aquilo que interessa de perto aos sofridos integrantes de nossa sociedade predominantemente materialista.

Este mecanismo se fortalece na medida da existência de intensa procura de numerosos desavisados, aceitando magos e feiticeiros que se apresentam como salvadores e possível solução de nossas variadas mazelas.

Considerando apenas a questão do encosto, ou melhor, obsessor – visto basicamente segundo a Doutrina dos Imortais como um processo de assédio por parte de Espíritos desencarnados e ainda desorientados –, o Espiritismo possui um leque de opções de fácil implementação com o poder de atenuar ou mesmo desfazer estes processos, grassando indiscriminadamente não apenas em nossa sociedade, bem como em toda a humanidade.

Lembrando uma vez mais, pois estas definições sobre o que seria a obsessão estão amplamente disseminadas na literatura espírita, basta procurar para ler e entender. Entretanto, para facilitar, retiramos duas oportunas definições formuladas por Allan Kardec sobre esta verdadeira epidemia invisível:

§  Domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas pessoas. Nunca é praticado senão por Espíritos inferiores que procuram dominar o obsediado[2].

§  Ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais[3].

E quem seriam estes Espíritos buscando importunar-nos? Nada mais do que Espíritos que já “morreram”, mas continuam inquestionavelmente vivos. E por qual razão procedem desta forma? Há diversas causas, as mais comuns são: vingança, manutenção de vícios diversos (drogas, fumo, álcool, sexo), o simples prazer de fazer o mau, todas evidentemente causas passageiras e lastreadas na ignorância das leis de Deus por quem não soube viver sob princípios morais e éticos, não se preparando desta forma para “morrer”.

O capítulo da obsessão é oceânico, não cabendo nesta brevíssima análise explicitar todas as suas nuances, entretanto, o que mais nos importa no momento seria sugerir algumas orientações básicas para preveni-la, e, quando já instalada, como proceder:

§  Ocupar a mente é de fundamental importância, porquanto, já foi dito: “em cabeça vazia o diabo faz tricô”. Há uma variante afirmando também: “cabeça vazia oficina do diabo”, ambas se equivalem. E é a mais pura verdade, pois, sem objetivos nobres, pensando continuamente em viver fora dos padrões saudáveis pautados pelos princípios divinos, atraímos as entidades desorientadas que enxameiam a atmosfera próxima da Terra. E como podemos ocupar a mente com utilidade? Lendo e estudando, óbvio, textos edificantes que nos tragam conceitos nobres. Outra ótima sugestão seria abandonar definitivamente as opções televisivas de baixo nível moral e ético que dominam o cotidiano de nossas emissoras, particularmente no chamado horário “nobre”.

§  Práticas salutares tais como: ioga, meditação, exercícios físicos moderados (caminhadas), aprendizado de uma arte (carpintaria, pintura, música…), representam também boas opções ao alcance da maioria.

§  Cultivo de virtudes, ou seja, ser mais: paciente, cordato, misericordioso, brando. Todas as superiores qualidades devem ser buscadas continuamente, de forma a modificar a nossa personalidade propiciando um viver mais harmônico com todos os que nos cercam  e procurando fechar, desta forma, as muitas portas que se abrem quando assim não procedemos, e que permitem o ingresso de possíveis assédios de entidades obsessoras.

§  Frequência às casas espíritas, ou correlatas de outras religiões, situa-se também como boa escolha e, de preferência, não apenas frequentar, mas trabalhar, envolver-se, participar de grupos de estudo, ou seja, se integrar produtivamente às agremiações religiosas, em vez de procurá-las apenas para obter passes, hóstias, bênçãos, e ao sair continuar agindo e pensando como sempre o fez.

§  Orar, e muito, com fé e sinceridade no coração, lembrando-se de jamais maldizer os possíveis obsessores a assediar-nos, visto que, se o fazem, é porque encontram falhas morais em nosso modo de vida. Por outro lado, viabilizam também a vivência de nossas expiações e resgates, afinal, reencarnar em mundo de provas e expiações tem as suas justificativas.

Como se denota, esta “receita” não solicita nenhum ingrediente absurdo. São despretensiosos temperos, condimentos de fácil acesso, que podemos usar em nossas vidas. Solicitam-nos, contudo, empenho, força de vontade para bem preparar esta alimentação que nos dará forças e condições de suportar as muitas tentativas de obsessão, possibilitando-nos não ceder aos apelos dos Espíritos temporariamente desequilibrados.

Adquirindo o hábito desta dieta saudável, para a nossa mente e corpo, nos tornamos resistentes às propostas destoantes que a espiritualidade perturbada nos apresenta regularmente.



[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 80ª ed. 4ª reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. cap. 23 item 237.

[3] KARDEC, Allan, O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130ª ed. 2ª reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. cap. 25, item 81.

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