Marcos Vinicius de Azevedo Braga[2]
Paulo, o apóstolo dos gentios,
foi um dos personagens mais marcantes na história do Cristianismo. Deixou-nos
de herança, além de belos exemplos de vida, de conversão e de luta incessante
na divulgação da mensagem do Cristo, escritos profundos, nas suas famosas
cartas, cujos trechos inspiraram músicas e mensagens mediúnicas.
Uma delas, em especial, a
primeira carta aos Coríntios (habitantes de Corinto, na Grécia), no capítulo 6,
versículo 12, apresenta uma de suas insignes sentenças:
Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém.
Nessa singela frase, Paulo
apresenta a liberdade de proceder do ser humano, Espírito encarnado e
cocriador. Contudo, aponta também as limitações da Lei divina, do convívio com
o próximo, onde essa liberdade é cerceada pela questão da conveniência e da
oportunidade. Apresenta aí a justificativa perene que nós temos em nossas
reflexões, cotidianamente, diante de uma decisão a ser tomada.
Em relação à juventude, essa
máxima se reveste de um significado especial. Afinal, no processo de
desenvolvimento do Espírito encarnado, é na juventude que ampliamos a nossa
autonomia, a nossa possibilidade de exercer a vontade. Entretanto, ao mesmo
tempo, nesse período nos vemos no processo de construção do nosso juízo,
representado folcloricamente pelo nascimento dos dentes denominados “cisos”,
mas que se trata sim da questão de nos sabermos capazes de algo, mas que ainda
assim ele não deve ser feito. Um passo marcante da conquista da maturidade.
Podemos exemplificar essa
assertiva de Paulo de Tarso em três dimensões interligadas, aplicadas à
vivência da juventude. A do QUERER, a do PODER e a do DEVER. Uma divisão didática
de três fases da vida do jovem, no exercício de sua liberdade e na construção
de sua responsabilidade, a capacidade de responder por.
O querer é o indicativo da opção. É dentre os diversos caminhos,
escolher algo por si só, longe do direcionamento aplicado costumeiramente à
criança. Obviamente, nenhuma escolha é totalmente livre nesse contexto e o
querer do jovem, diferente da criança, na maioria dos casos não sofre grande
influência da família e sim do seu grupo de referência, que pode ser da escola,
do esporte ou da prática religiosa, ainda que o jovem acredite decidir apartado
de influências.
A dimensão do poder é onde o jovem possui não só a
vontade, mas a possibilidade de fazer algo. É o momento onde ele adquire a
capacidade de tornar realidade o que ele escolheu, residindo aí os maiores
riscos, das escolhas e caminhos errados, onde a inconsequência na busca por
loucuras desenfreadas pode afetar seriamente a sua encarnação.
Por fim, a questão do dever é onde o jovem busca a sua
consciência e avalia se aquilo que ele quer e pode fazer é realmente
pertinente. É o desenvolvimento da capacidade de avaliar situações a si
apresentadas e que postura deve adotar. A rebeldia natural da juventude, o
desejo de transgressão na busca de afirmação de personalidade interfere nessa
questão, inibindo essa capacidade de julgar o certo e o errado, pelo desejo de
se fazer o que não se deve, pautado por outras motivações.
Essa sequência de
QUERO-DEVO-POSSO é fundamental para a reflexão do Espírito encarnado, para o
seu processo evolutivo, em especial no período da juventude, onde aumenta o
leque de escolhas e a capacidade de escolher e fazer, ainda que tenha
incipiente a noção de julgar o que deve ser feito, ou não. É uma época de
diversões, de sensações, de cantos de sereia e bifurcações no caminho, em lutas
necessárias, mas que devem nos trazer como dividendos as lições aprendidas.
Errar sem aprender é extremamente danoso... Melhor aprender sem errar.
Por isso, cabe aos pais e
educadores trabalhar com os jovens esse processo de construção de sua autonomia
de saber o que quer-deve-pode e não aprisioná-los em uma redoma, longe do
mundo, privando-o do exercício dessa tríade tão necessária, ainda que às vezes
se faça por processos dolorosos.
A
lição de Paulo de Tarso de que devemos sopesar a conveniência diante das
possibilidades é um farol na nossa caminhada no mundo, e aos jovens, saindo da
proteção do núcleo familiar para enfrentar as agruras e alegrias da vida
adulta, se apresenta a sentença como basilar, para que saibam estes o que
querem, até onde alcançam e se aquela atitude é a que o Cristo espera de nós,
relembrando outra importante frase de Paulo, na sua conversão à porta de
Damasco, quando pergunta ao Cristo: “Senhor,
o que queres que eu faça”?
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