Marisa Fonte
Então, aproximando-se dele, disse-lhe Pedro:
Senhor, quantas
vezes perdoarei a meu irmão, quando houver pecado contra mim? Até sete vezes?
Respondeu-lhe Jesus:
Não vos digo que
perdoeis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes.
(S. MATEUS, 18:15, 21 e 22.) - O Evangelho segundo o
Espiritismo, capítulo 10
Perdoemos sempre. E como disse o
nosso Mestre, Jesus, não sete vezes, mas até setenta vezes sete. Essa é uma
atitude realmente nobre, pois muitas vezes o outro erra conosco simplesmente
por desconhecer uma forma diferente de fazer as coisas. Mas, será que aplicamos
esse mesmo ensinamento de Jesus a nós mesmos? Será que perdoamos as nossas
faltas ao menos sete vezes a fim de não vivermos nos acusando por havermos
feito coisas das quais nos arrependemos e por causa das quais muitas vezes
amargamos uma existência inteira de infortúnio? Será que perdoarmos a nós
mesmos é difícil? Tudo indica que sim, pois a multidão de seres que se arrastam
pela vida carregando culpas por vezes inexistentes e sempre inúteis é bem
numerosa.
Por um lado, é o desconhecimento
de como se fazer de modo diferente ou de como fazer melhor que nega a nós
mesmos o perdão. Outras vezes é a falta de olhar para si usando da mesma
compaixão que se aplica ao nosso próximo que nos impede de oferecermos a nós
mesmos o tão necessário perdão das nossas faltas. E lá vamos nós carregando um
fardo muito maior do que aguentamos levar, colocado em nossas costas por nós
mesmos, que sem analisarmos os fatos simplesmente nos julgamos e condenamos, ou
– ainda pior – muitas vezes apenas nos condenamos e sem qualquer julgamento ou
análise, a carregar miseravelmente uma culpa que nunca deveria estar nas nossas
costas.
A culpa é, na verdade, algo que
nasce por entendermos que alguém errou, e, normalmente, não se para a fim de
entender que cada um oferece apenas aquilo que possui. Ora, se eu errei foi por
não saber fazer de modo diferente, ou por pensar que estava fazendo o mais
acertado, uma vez que segundo o meu entender aquele era o melhor a fazer
naquele momento.
Todos nós temos um lado chamado
de sombra, que fica oculto no nosso inconsciente. Essa ideia da sombra foi
desenvolvida pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), e podemos
definir a sombra como o lado da nossa personalidade que engloba tudo o que
julgamos negativo, seja por pensarmos assim, seja por aprendermos assim. Dessa
forma, raiva, ciúme, inveja, entre outros sentimentos, ficam ocultos em nós, e
a culpa por sentirmos coisas consideradas erradas ou menos nobres começa a
pesar na nossa vida, assim como coisas que sabemos que poderíamos ter feito
melhor, mas não sabíamos como, ou coisas que outros julgam que deveríamos ter
feito de outro modo, mas que também não fizemos por não sabermos na ocasião,
agir de modo diferente. O fato é que não podemos contentar a todos, e se
indagarmos a várias pessoas sobre como teriam agido em nosso lugar, muitas
teriam feito exatamente como fizemos e outras teriam agido de forma totalmente
distinta.
Para muitos, esse lado sombrio é
sinônimo de algo ruim de que não queremos nos lembrar, ou que evitamos
reconhecer que temos. Porém, é preciso reconhecer esse lado da nossa
personalidade, a fim de que possamos olhar tudo de frente e controlar e também
equilibrar essas “qualidades negativas” que escondemos às vezes até de nós
mesmos, e que se rejeitamos pode eclodir em algum momento da nossa vida.
E o sentimento de culpa? Ele
também faz parte desse nosso lado sombra. E como lidar com esse sentimento
nocivo? Antes de qualquer coisa, pare de se deixar sentir culpado, pois a culpa
é o idealismo, o “eu deveria”. Nós erramos por ignorância, pois ignoramos como
fazer de modo diferente. Concorda que se soubesse teria feito diferente? Pois
é, fez como soube, como acreditou que seria melhor na ocasião. E, vamos parar
de usar aquela ideia que sempre nos vem à mente quando sentimos que gostaríamos
de ter feito diferente: “se eu soubesse teria feito diferente”. Aí está. Não
sabia, não fez, fez o que soube, e é impossível voltar ao passado para mudar
qualquer coisa. O importante é aprender com as lições e fazer melhor daqui em
diante usando a experiência e o conhecimento que adquiriu. E aceite que haverá
de errar ainda muitas vezes no decorrer da vida. E aqui cabe dizer que não
falamos de erros absurdamente grandes, mas até de simples “foras” que damos a
todo o momento. Então, aprenda a se perdoar e tenha a humildade de aceitar que
não sabe tudo.
Segundo os preceitos espíritas,
há duas causas psicológicas da culpa: a que procede da sombra escura do passado
devido a males praticados contra outras pessoas e a que tem a sua origem na
infância.
O espírito Nise da Silveira, diz
que precisamos utilizar a culpa para o nosso crescimento. Segundo ela, é
preciso reconhecer a culpa, arrepender-se e de, pois se transformar. Portanto,
é preciso refletir e agir.
Concluindo, o primeiro passo
para se livrar do peso da culpa é aceitar você sem se deixar sentir errado/a.
Se insistir em sentir culpa a energia gira contra você. Então, seja melhor para
você e dê força para você! Aceite os seus pontos fracos, assuma o seu poder e
procure melhorar os seus pontos fortes e fortalecer os pontos fracos. Siga a
sua intuição, o seu eu interior e a sua essência espiritual. Seja verdadeiro/a
com você e assim se torne imune ao mal. Essa é a sua melhor proteção e a sua
melhor defesa.
Fique do seu lado sempre, pois
se ficar contra você, qual a reação que espera que os outros tenham em relação
a você?
Fonte:Blog Letra Espírita
Referências:
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Tradução e redação final de Matheus Rodrigues de Camargo. 43ª Reimpressão.
Capivari-SP. Editora EME. 2019.
XAVIER, Francisco Cândido.
Pensamento e vida. Pelo espírito Emmanuel, psicografia, edição FEB
NORONHA, Iraci Campos.
Reconstruindo Emoções. Pelo espírito Nise da Silveira, psicografia, Consciência/Intelítera
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