Carla Silvério
A questão dos sonhos é, desde a
antiguidade, de interesse universal e intensamente estudado por filósofos,
psicanalistas, psicólogos, e grandes pensadores da humanidade[2].
Sonho lúcido é o termo que se
refere à percepção consciente que temos de um determinado estado enquanto
sonhamos uma experiência da qual temos uma recordação muito clara
("lúcida") e nítida, com controle sobre as ações praticadas nos
sonhos e todo o desenvolver da narrativa vivenciada no conteúdo do sonho.
Sob o ponto de vista médico, a
neurociência já atestou a veracidade dos sonhos lúcidos, enquanto fenômenos
psicofísicos no campo da neurofisiologia dos sonhos, sendo resultantes da
atividade cerebral humana quando em estado do chamado sono REM ou estado mais
profundo do sono, classificando os sonhos lúcidos como fenômenos da
“proctociência[3]”.
Stephen LaBerge, renomado
pesquisador do assunto, definiu o sonho lúcido como "sonhando enquanto
sabemos que estamos sonhando".
O mesmo entendimento é
encontrado já nas obras de Aristóteles, posteriormente em Santo Agostinho e
mais adiante em Tomás de Aquino.
A consciência sabe que tudo ali
é um sonho. Mantém a capacidade de reflexão e senso crítico e, a partir dessa
percepção, pode literalmente dirigir o seu próprio sonho criando e ampliando ou
mesmo mudando totalmente a realidade projetada no mesmo.
No sonho lúcido, você deixa de
ser um personagem inconsciente da narrativa experimentada e subitamente acorda
nela com capacidade de raciocínio, memória e percepção da estrutura do sonho,
pois sabe que está sonhando.
Nesses momentos, pode-se
descobrir mais de si mesmo, de sua personalidade, medos e sentimentos
profundos, que em situação diversa não seriam encaradas. Pode-se também
encontrar soluções ou respostas para muitas das questões que quando consciente
e desperto não encontraria, pois, guardados nos porões da alma.
Sob o ponto de vista da Doutrina
Espírita, os sonhos de um modo geral (e aqui incluem-se os sonhos lúcidos), são
resultado da atividade do Espírito no período em que se encontra desprendido do
corpo material, quando se conecta com mais intensidade ao plano espiritual.
A Questão 401 de O Livro dos Espíritos (LE)[4]
esclarece que o espírito jamais está inativo. Assim, durante o repouso do corpo
material, a alma se emancipa e tem a possibilidade de atuar no plano
espiritual, em contato direto com outros espíritos.
E não é só. Da Questão 400 a
418, ainda do LE, os Espíritos Codificadores esclarecem que todos sonham,
contudo nem todo aquele que sonha se recorda da experiência vivida durante o
repouso do corpo material.
Os sonhos lúcidos são vistos sob
essa perspectiva como sendo o presente dado aos homens pela Espiritualidade
Elevada, de se recordarem das experiências vividas durante o sono, por serem
úteis e/ou necessárias tais recordações.
Ensinam os Espíritos, ainda, em O Evangelho Segundo o Espiritismo[5]
que “o sono é o repouso do corpo, mas o Espírito não tem necessidade de repouso.
Enquanto os sentidos estão entorpecidos, a alma se liberta em parte da matéria
e goza de suas faculdades de Espírito”.
Ainda em O Evangelho Segundo o Espiritismo consta “o sono foi dado ao homem
para a reparação das forças orgânicas e para reparação das forças morais.
Enquanto o corpo recupera os elementos que perdeu pela atividade de vigília, o
Espírito vai retemperar entre outros Espíritos”.
Carlos Bernardo, em sua obra “A
Visão Espírita do Sono e dos Sonhos”[6],
coloca que os sonhos lúcidos são por vezes pressentimentos do futuro ou
entendimentos do passado, permitidos por Deus, ou ainda, a visão de algo que se
passa em local diverso de onde o Espírito emancipado pelo sono do corpo físico
se encontra e para onde este se transporta.
Durante o sono, ficamos com
todas as potencialidades do Espírito de forma amplificada e latente, o que
resulta por vezes, quando há autorização do plano espiritual superior, de se
recordar toda a trajetória percorrida no sono, consciente de todos os momentos,
de forma lúcida.
Sob o ponto de vista da Doutrina
Espírita, os sonhos lúcidos muito se assemelham aos desdobramentos recordados.
Os sonhos lúcidos são, portanto,
oportunidades de utilização das ferramentas psico-espirituais para o
desenvolvimento de uma maior consciência astral, uma vez que conhece-se a si
mesmo, nos seus mais profundos e íntimos rincões da alma, conectando-se com o
Eu interior e com o plano espiritual, encontrando as respostas para as questões
de maior relevância para a própria consciência, bem como captando as lições
necessárias à reforma íntima e aprimoramento moral.
“...ele aure no que vê, no que
ouve e nos conselhos que lhe são dados, ideias que reencontra, ao despertar...”
– O Evangelho Segundo o Espiritismo,
Cap. XXVIII.
Fonte: Blog Letra Espírita
[2] MEDREIS, Renata. Sonhos Lúcidos (artigo publicado para
o blog www.vinhadeluz.wordpress.com ). Acesso em 04/03/2020.
[3] Protociência - ciência em estágio primário de
evolução, que tem como conteúdo especulações ou hipóteses ainda não testadas
adequadamente, mas que busca o reconhecimento da comunidade científica.
(Dicionário Caldas Aulete)
[4] KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. 1ª edição Comemorativa do Sesquicentenário (bolso).
FEB. Brasília-DF. 2007.
[5] KARDEC. Allan. O
Evangelho Segundo o Espiritismo. 358ª edição. Editora Instituto de Difusão
Espírita – IDE. Araras-SP.1978.
[6] BERNARDO, Carlos. A Visão Espírita do Sono e dos
Sonhos. Casa Editora O Clarim. 3ª edição. 2018.
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