Amélia Rodrigues[2]
Quando sentiste a minha presença
no útero foste dominada por uma angústia infinita.
Não esperavas a ocorrência
natural e não tinhas condição de exercer a maternidade.
Informando a situação aflitiva
ao companheiro de afetividade, dominado pela surpresa, ele recusou ajudar-te,
unindo-se a ti pelo matrimônio, ou pelo menos, distendendo um braço protetor.
Sugeriu que me abortasses como
solução imediata, mas, estarrecida, negaste-lhe anuência ao crime hediondo.
Constataste que ele não te amava
e te usava como fizera com outras jovens inadvertidas.
Experimentaste a reação
doméstica violenta dos teus pais que também propuseram o abortamento.
Acusavam-te de haveres manchado
a honra da família e porque me sentias vibrar junto ao teu coração, aceitaste
as humilhações domésticas, a expulsão do lar e as noites estreladas para
servirem de cobertor na escuridão dos becos e sob viadutos ao lado de outros
infelizes.
Eras jovem e bela!
Mesmo grávida tentaram
macular-te na escravidão do sexo.
Recusaste todas as ofertas
degradantes e lutaste na miséria até o meu nascimento.
Depois que me embalaste pela
primeira vez, prometeste que viveríamos juntas e seríamos felizes, não importava
quando.
Não me abandonaste para a adoção
por outros corações e, nos serviços humilhantes, encontraste o pão e a roupa
para nós duas.
Foram anos difíceis de fome,
frio e dor.
Eu era estigmatizada como filha
de mãe solteira, mas não me incomodava, antes sentia orgulho.
Será que o amor materno é diferente quando se nasce
sob a proteção das leis ou fora delas? Nunca senti diferença. Muito ao
contrário.
Demonstraste a grandeza do teu
imenso afeto de mãe solteira e me criaste com dignidade e ternura.
Conseguiste, por fim, trabalho
de melhor qualidade e me educaste abraçando a fé e o respeito a Jesus Cristo e
à Sua Mãe Santíssima.
Voltaste para o Grande Lar e
nunca me abandonaste.
Ante as decisões difíceis e nos
momentos graves da minha existência eu sentia que estavas comigo e murmuravas à
minha mente as melhores decisões a tomar.
Triunfei, mãezinha, sob as tuas
bênçãos e agora, também na Imortalidade, exulto de contentamento, porque tive a
honra de ser tua filha, e de não ter sido assassinada no teu ventre.
Deus te abençoe, mãe solteira,
protegida pela Mãe de Jesus, que também tem sido incompreendida.
[2] Psicografia de Divaldo Pereira Franco, em reunião
mediúnica de 12 de fevereiro de 2021, no Centro Espírita Caminho da Redenção,
em Salvador, Bahia.
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