quinta-feira, 6 de maio de 2021

DORES INCONSOLÁVEIS[1]

 



Miramez

 

Como as dores inconsoláveis dos que ficaram na Terra afetam os Espíritos que partiram?

‒ O Espírito é sensível à lembrança e às lamentações daqueles que amou, mas uma dor incessante e desarrazoada o afeta penosamente, porque ele vê nesse excesso uma falta de fé no futuro e de confiança em Deus, e, por conseguinte, um obstáculo ao progresso e talvez ao próprio reencontro com os que deixou.

Estando o Espírito mais feliz do que na Terra, lamentar que tenha deixado esta vida é lamentar que ele seja feliz. Dois amigos estão presos na mesma cadeia; ambos devem ter um dia a liberdade, mas um deles a obtém primeiro. Seria caridoso que aquele que continua preso se entristecesse por ter o seu amigo se libertado antes? Não haveria de sua parte mais egoísmo do que afeição, ao querer que o outro partilhasse por mais tempo do seu cativeiro e dos seus sofrimentos? O mesmo acontece entre dois seres que se amam na Terra. O que parte primeiro foi o primeiro a se libertar e devemos felicitá-lo por isso, esperando com paciência o momento em que também nos libertaremos.

Faremos outra comparação. Tendes um amigo que, ao vosso lado, se encontra em situação penosa. Sua saúde ou seu interesse exige que vá para outro país, onde estará melhor sob todos os aspectos. Dessa maneira, ele não estará mais ao vosso lado, durante algum tempo, mas estareis sempre em correspondência com ele. A separação não será mais do que material. Ficareis aborrecido com o seu afastamento, que é para o seu bem?

A doutrina espírita, pelas provas patentes que nos dá quanto à vida futura, à presença ao nosso redor dos seres aos quais amamos, à continuidade da sua afeição e da sua solicitude, pelas relações que nos permite entreter com eles, nos oferece uma suprema consolação, numa das causas mais legítimas de dor. Com o Espiritismo não há mais solidão, não há mais abandono. O mais isolado dos homens tem sempre amigos ao seu redor, com os quais pode comunicar-se.

Suportamos impacientemente as atribulações da vida. Elas nos parecem tão intoleráveis que supomos não as poder aguentar. Não obstante, se as suportamos com coragem, se soubermos impor silêncio às nossas lamentações, haveremos de nos felicitar quando estivermos fora desta prisão terrena, como o paciente que sofria se felicita ao se ver curado, por haver suportado com resignação um tratamento doloroso. (Allan Kardec)

Questão 936/O Livro dos Espíritos

 

As dores inconsoláveis da separação pela desencarnação, vêm pela falta da devida compreensão. Para o espírita, isso não pode acontecer, pois ele é consciente de que a vida continua depois do túmulo e que os chamados mortos podem se comunicar com os vivos.

Desta forma, já se estabelece entre os dois planos de vida a consolação.

Foi neste sentido que Jesus, para ajudar a humanidade, disse e o apóstolo João anotou, no capítulo catorze, versículo dezesseis, que enviaria outro Consolador, para ficar conosco eternamente. Essa consolação, essa volta, foi pela Doutrina dos Espíritos, que faculta igualmente a instrução para a humanidade.

Quando o Espírito se encontra no mundo espiritual, ele tem saudades igualmente dos que ficaram na Terra, mas espera-os no mundo da verdade para se juntarem, com outros ideais e, possivelmente, retornarem juntos ao mundo. Não há necessidade dos que ficam sentirem dores inconsoláveis; os que sofrem com a separação, é por ignorarem todos os acontecimentos espirituais. Se tu, que sobrevives àqueles que te são queridos, te inquietares pela separação, cuida de ouvir que essa separação é temporária, e o amor verdadeiro os reunirá novamente no mundo espiritual, se a revolta não empanar teu coração.

A desencarnação é processo movimentado pela lei de renovação dos sentimentos, e Deus deseja que assim aconteça, para que as criaturas possam libertar-se da escravidão, principalmente dos bens materiais e do apego às pessoas. Ninguém é de ninguém; todos somos iguais e devemos amar acima de tudo somente Àquele que nos criou, porque amando a Deus estaremos, por força da lei, amando aos nossos semelhantes.

Se desejas ficar mais perto dos que partiram, tem confiança em Deus e ora por eles. Se lamentares sua partida, desprenderás do teu coração forças negativas que podem prendê-los e fazê-los sofrer. Sendo Espírito superior, ele é o que é, mas, mesmo assim, sente a inferioridade daqueles seus que não compreenderam a lei de renovação da vida, da lei das trocas das vestes físicas. A tua revolta pode te fazer ficar distante dos teus entes queridos. Passa a alimentar a ti, Espírito, daquele alimento divino, onde o amor é a base e a caridade o suprimento.

Disse-lhes Jesus:

A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra.

João, 4:34

Deves esquecer-te dos lamentos ante uma desencarnação, processo esse para o próprio bem dos que partem e treinamento para os que ficam. Desde quando existem encarnados na Terra, existem partidas. Por que não nos acostumarmos com a realidade?

O alimento do Espírito é mais sutil do que o alimento do corpo, e Jesus nos ensinou como alimentar a alma: o melhor alimento para ela é o amor. Quem ama verdadeiramente, não blasfema, nem ignora as transformações necessárias, das quais a natureza é o agente.

Não deves apegar-te à lembrança dos que já se foram. Certamente que não podes esquecer a gratidão pelo que recebeste dos corações que amas, com os quais viveste muito tempo, mas não tanto a ponto de chegar a certos distúrbios emocionais.

Oremos por todos, que todos oram por nós. Diante da Doutrina Espírita, não há dores inconsoláveis, porque ela é o remédio para todas as dificuldades e todas as dores; basta recorrer a ela nas horas mais difíceis, que se encontrará consolo.



[1] Filosofia Espírita – Volume 19 – João Nunes Maia

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