Ivan Franzolim
Supervalorização da doutrina
Ataques dos inimigos do espiritismo
Ao estudar a doutrina podemos
facilmente identificar esses dois pontos presentes desde a codificação até as
obras atuais. Como foram mencionados pelos Espíritos e pelo próprio Kardec
temos a impressão de que se trata de uma verdade inquestionável, será? Não é o
espiritismo uma doutrina de investigação? Poderão essas afirmações ter outra
interpretação? Esta é uma oportunidade para reflexão.
Supervalorização da
doutrina
Decorre de alguns entendimentos
que podem estar equivocados:
· De que o próprio Jesus trouxe a revelação
dos espíritos e conduz diretamente o desenvolvimento e disseminação do
espiritismo.
Sendo ele um espírito puro que teria a responsabilidade
pelo planeta Terra desde sua criação há 4,5 bilhões de anos, certamente
cuidaria com igual atenção e zelo todos os grupos religiosos e agnósticos, não
em especial aos cristãos que somam cerca de ¼ da população mundial e, menos
ainda aos espíritas que constituem 0,01% da população mundial.
· Que se trata da terceira revelação e que
ela é derradeira e destinada a mudar o mundo!
Embora tenham ocorrido milhares de revelações ao longo da
história, em todos os campos do conhecimento, em todos os países e continuarão
a acontecer indefinidamente. Dificilmente a Doutrina Espírita afetaria para
melhor o mundo inteiro por várias razões. A primeira é que o planeta comporta
pessoas em diferentes estágios de evolução moral e interesses, formando
culturas muito diferentes e antagônicas entre si. A segunda é que o espiritismo
é completamente desconhecido no mundo e aqueles poucos que o conhecem,
confundem com mistificação e superstição.
· Que se trata do Consolador prometido, do
Espírito de Verdade, na tentativa de se apropriar de uma profecia evangélica
que elevaria sua credibilidade em uma análise superficial.
Como as revelações continuam a acontecer, no futuro outras
religiões e filosofias poderão ter mais elementos para também justificar a
posse desse título. Realmente o espiritismo tem explicações que consolam, mas
outras religiões e filosofias também possuem e agregam muito mais pessoas.
Em muitos momentos da história,
o homem procurou se acomodar na imagem de escolhido ou especial, com
privilégios sobre os outros e isso teve sempre resultados ruins. Talvez o
principal seja de suscitar o orgulho e a vaidade e acabar tratando os
diferentes como inferiores ou ruins.
Gostamos das explicações
espíritas, entendemos que elas reúnem um conjunto de conhecimentos bem
estruturados que respondem às nossas dúvidas e anseios. Segundo a moral
espírita baseada na autonomia, o processo de aprendizado deve ocorrer por
vontade própria individualmente e, não por imposição externa.
Como disseram os espíritos, a
verdade está distribuída por todas as ciências, filosofias e religiões. E a
parcela de verdade presente em cada uma é suficiente para conduzir os
seguidores à prática do bem. O Espiritismo é apenas mais um caminho que pode
servir a alguns e não se adequar a muitos mais.
Esse tipo de argumentação
constitui a falácia de autoridade, que apela para a palavra ou reputação de
alguma autoridade a fim de validar uma proposição. É um raciocínio errado que
se baseia exclusivamente na credibilidade do autor e não nas razões que teria
para sustentar a proposição.
Em toda a obra espírita, Kardec
se mostrou lógico e ponderado usando sempre argumentos fundamentados,
repudiando os dogmas, sofismas e falácias. Teria ele sucumbido ao peso da
tradição cristã ou da pressão social?
Um ensinamento deve ser
relevante por sua argumentação lógica, e não pela credibilidade de quem o
emitiu.
O espiritismo tem um
conhecimento fundamentado com método, consistente, abrangendo o campo
espiritual com mais propriedade do que outras correntes de pensamento. Isso é
mais que suficiente para legitimar suas ideias. Qualquer menção que denote
superioridade trará mais prejuízo do que benefícios.
Ataques dos inimigos
do espiritismo
Segundo a etimologia, a palavra
"adversário" vem do latim (adversarius),
significando "que está contra". Ela se confunde com a palavra
"inimigo" que também provém do latim (inimicus) e significa "amigo ruim".
As religiões tradicionais foram
as primeiras a criarem a figura dos adversários, oponentes ou mesmo inimigos,
que não só estariam completamente errados, mas imbuídos da mais pura maldade
lutando contra os seus verdadeiros e sublimes objetivos.
Na psicologia e na sociologia, a
criação de um inimigo coletivo, valoriza o grupo e aumenta sua coesão. A
política usa e abusa do recurso escuso da criação de inimigos para manipular
seus eleitores.
O pano de fundo é a presunção de
estar com a única verdade existente, o que leva a uma falsa percepção de
superioridade, despertando orgulho e vaidade.
Incita ao enfrentamento, à luta
ou ao distanciamento, e não ao simples e necessário debate das ideias. Essa
postura leva ao despertamento de sentimentos negativos, como o medo e a
hostilidade.
Segundo a medicina, a
identificação de indivíduos não pertencentes ao grupo como inimigos é
irracional e pode constituir um transtorno mental requerendo urgente tratamento
para sua cura.
Os espíritos encarnados possuem
livre arbítrio e motivações que geram suas próprias conclusões ou preferências,
endossando ou rejeitando outras linhas de pensamento por meio de embates mais
ou menos agressivos, segundo seus temperamentos. A maior parte não age por
perversidade, mas por acreditar que está com a razão. É dessa discussão que as
ideias evoluem.
Após a morte, os espíritos
continuam os mesmos e as controvérsias persistem. Não parece correto tratar
todos que defendem um entendimento diverso como inimigos hostis, embora existam
aqueles ainda dominados por sentimentos negativos, mais interessados em
perturbar e causar discórdias.
Esses últimos precisam ser
conduzidos à verdade não pelo caminho da hostilidade, da discriminação, mas
pelo trabalho incessante no bem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário