Marco Milani[2]
Texto publicado na Revista da USE - Dirigente
Espírita, ed. 181, jan/fev 2021, p.25, com o título “Quanto menor o
conhecimento, maior a imprudência”.
Em 1999, os pesquisadores americanos da área
de psicologia, David Dunning e Justin Kruger, publicaram um interessante estudo[3]
em que procuraram explicar um padrão de comportamento peculiar. Em síntese,
quanto menos uma pessoa conhece sobre determinando assunto, mais ela acredita
conhecer sobre ele. Em homenagem aos autores, essa relação foi denominada
Efeito Dunning-Kruger (EDK).
Segundo os autores, as pessoas
tendem a ter visões excessivamente favoráveis de suas habilidades em muitos
domínios sociais e intelectuais. Essa superestimação do próprio saber decorre,
em parte, porque as pessoas não qualificadas nesses domínios desconhecem a real
complexidade dos objetos que se propõem a discutir. Nesse sentido, elas chegam
a conclusões errôneas e fazem escolhas infelizes. Inversamente, pessoas mais
versadas e que até possuem um pleno domínio sobre determinados objetos tendem a
reconhecer seus próprios limites e assumem uma postura mais prudente e modesta
sobre o próprio saber.
O EDK explica, por exemplo, a
vasta gama de pseudoespecialistas sobre os mais variados assuntos, inclusive
com relação àqueles de alta complexidade teórica. Basta uma rápida visita nas
redes sociais virtuais para se deparar com comentários, geralmente infundados e
sem respaldo técnico-científico, mas que se propõem a revelar à humanidade a
verdade de como as coisas são e funcionam.
Certamente, é direito de todos
opinar e expressar-se sobre a realidade. É esse impulso questionador e
argumentativo que faz o conhecimento humano progredir. O reconhecimento das
próprias limitações, entretanto, é essencial para se evitar deslizes e
prejuízos conceituais e práticos.
Não é diferente com relação à
temática espírita. Aquele mais familiarizado com as diretrizes claras e seguras
presentes no ensino dos Espíritos, apresentado por Allan Kardec, reconhece as
próprias deficiências e limites cognitivos. Concomitantemente, procura se
aprofundar nos princípios e valores que estruturam o corpo teórico do
Espiritismo e exemplificar as próprias convicções lastreadas na fé raciocinada.
O EDK se manifesta, todavia, em
maior ou menor grau durante discussões doutrinárias. Alguém que construiu o seu
saber sobre o Espiritismo em fontes outras que não seja nas obras de Allan
Kardec assume o risco de defender conceitos e práticas que se afastam do ensino
dos Espíritos e, tragicamente, distorcem ou deturpam esses conceitos.
O intercâmbio fraterno e
embasado de ideias e opiniões sobre a temática espírita é sempre bem-vindo,
pois colabora para se identificar e analisar eventuais divergências
interpretativas e se apontar caminhos para a reflexão sobre os tópicos
discutidos. Deve existir, porém, uma referência doutrinária segura para se
afastar das consequências deletérias do relativismo, o qual supõe que tudo seja
lícito e válido.
Allan Kardec, educador por
excelência, sempre insistiu na clareza e objetividade das ideias para se reduzir
os problemas do relativismo e se chegar ao um denominador comum pela observação
dos fatos e pelo uso da razão.
[1] https://educadorespirita1.blogspot.com/2021/01/o-efeito-dunning-kruger-no-conhecimento.html?fbclid=IwAR17brZ_x2KTdTDwUsHQ7KHmwv3lDlT1zWxBoY7f-hRxkT6UNHKFBq-08aQ
[2] Diretor do Departamento de Doutrina da USE-SP e
Presidente da USE Regional de Campinas
[3] Kruger, J., &
Dunning, D. (1999). Unskilled and unaware of it: How difficulties in recognizing
one's own incompetence lead to inflated self-assessments. Journal of Personality and Social Psychology, 77(6),
1121–1134. https://doi.org/10.1037/0022-3514.77.6.1121
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