Joanna de Ângelis[2]
- Janeiro/2021
Na turbulência dos dias que se
vive na Terra, fenômenos perturbadores multiplicam-se a cada instante,
desafiando os valores éticos das pessoas.
Notícias destituídas de
significado repletam as redes sociais, e a variedade de distrações compete com
os deveres que se encontram aguardando, sem oportunidade de ser atendidos.
O tempo parece escoar com
rapidez em razão da multiplicidade de mecanismos de fuga das responsabilidades,
facultando a bisbilhotice e a curiosidade em torno de futilidades que assumem
significados que não merecem, ao mesmo tempo que produzem vazio existencial,
ante o exibicionismo de pessoas atormentadas, que se fazem notícia através dos
artifícios virtuais.
Nunca houve tanta solidão entre
as criaturas humanas como atualmente, ao mesmo tempo que a população do planeta
atinge índice elevado e lota os espaços disponíveis.
Ambições desordenadas e
inquietações injustificáveis campeiam, atormentando as mentes ávidas de
projeção, como se o objetivo existencial fosse apenas o mentiroso prato do
prazer social, que provoca inveja nuns e antipatia noutros.
A ilusão atinge exagerado
panorama, arrancando o indivíduo da sua realidade para as paisagens
tresvairadas da fantasia.
Tem-se a impressão de que
somente o sonho do ter e do poder proporciona bem–estar, mesmo que dispare o
gatilho interno da insatisfação e do medo de não poder gozar indefinidamente.
As exigências da moderna tecnologia
impuseram o comportamento da velocidade, a fim de serem apreciadas todas as
contribuições da comunicação virtual, impedindo-se, de certo modo, o
aprofundamento das questões normais da existência.
Impuseram-se novos padrões de
conduta, e, de alguma forma, a robotização do ser humano tem-se feito
automaticamente.
Com essa automação, os
sentimentos de amor, de solidariedade, de ternura e de caridade, assim como
outros, têm ficado à margem, a prejuízo do desenvolvimento emocional
enriquecido de compreensão da finalidade da vida tanto quanto das suas reais
necessidades.
A valorização do corpo, da sua
aparência num culto extravagante e muitas vezes patológico, vem substituindo os
impositivos profundos do ser cada vez mais exigente do ego.
Aqueles indivíduos que, no
entanto, não podem desfrutar dessas comodidades exageradas parecem fantasmas
perdidos no ar, sem objetivos nem significados.
Como consequência desses
fenômenos, aumentam os tormentos emocionais e as suas estruturas muito frágeis
cedem lugar ao transtorno depressivo em alguns, enquanto noutros açulam os
mecanismos de violência.
A estabilidade psicológica é
muito necessária para a realização do ser humano, desde que saiba administrar
os diferentes acontecimentos que lhe sucedem a cada momento.
Esse controle, que nem sempre é
conseguido, resulta do hábito saudável de conduzir-se socialmente, graças ao
exercício de natureza interior.
A criatura humana é o conjunto
dos seus comportamentos que se transformam em mecanismos de sustentação da sua
existência.
Por esta razão, nestes dias de
desafios contínuos, a conquista da paz se transforma na mais valiosa meta a ser
conseguida.
Pensa-se, normalmente, que a paz
é a ausência de preocupação ou de ação contínua, não passando esse
comportamento de modorra, ausência de dinamismo, paralisia.
Muitas vezes, um semblante
sereno oculta uma existência assinalada por preocupações, angústias e
desesperos vencidos com denodo e persistência.
A luta, sob qualquer aspecto, é
mensageira da ordem por cuja execução se permite a conquista da harmonia
interior.
A questão diz respeito à maneira
como se faz administrada a atividade que exige esforço, abnegação e
persistência.
O amadurecimento psicológico do
indivíduo é fator decisivo para o comportamento edificante em quaisquer circunstâncias,
que culmina nesse estado de equilíbrio, prenunciador de paz e de plenitude.
Trata-se de experiências
adquiridas no dia a dia, que acumulam decisões enobrecedoras.
Se desejas realmente manter a
postura saudável, aquela que faculta a conquista da felicidade real, mune-te de
paciência e perseverança em todas as situações em que te encontres, avançando
sem cessar, passo a passo, na conquista do que te constitui meta prioritária.
Não te desanimem os obstáculos,
nem receies os insucessos iniciais, que fomentarão os meios hábeis para a tua
conquista definitiva.
Tem em mente que toda conquista
autoiluminativa é realizada com tenacidade e amor, confiança e dedicação.
A paz política muitas vezes
falha, porque não há como fazer o indivíduo harmonizar-se com qualquer tipo de
imposição exterior. Pelo contrário: quando se alcança o equilíbrio interior de
imediato, apresentam-se os efeitos pacificadores à volta.
Pode-se, em consequência,
afirmar que num lar onde alguém logra a paz, toda a família faz-se beneficiária
do equilíbrio. Quando em uma rua existe uma família pacífica, o reflexo
estende-se pelos vizinhos. Uma rua onde existe valorização da vida amplia-se
pelo bairro, pela cidade, pela região, pelo mundo…
A paz é portadora de bênçãos que
facultam a capacidade do amor e da caridade, tornando-se fundamental para a
construção da vida exuberante.
A sua ausência transtorna o
indivíduo, porque, sem a serenidade que acalma as ansiedades dos desejos e
auxilia no discernimento daquilo que é melhor para o desenvolvimento
ético-moral, deixa vazios existenciais que se tenta preencher com atitudes de
arrogância e de perturbação.
Nesse sentido, o Espiritismo,
explicando as razões fundamentais do existir, os objetivos a conquistar, possui
os mais excelentes elementos elucidativos para a aquisição da harmonia
interior.
A paz, portanto, deve e pode ser
trabalhada com serenidade, mediante ações de amor e de misericórdia que diluem
as sombras da ignorância e da perversidade.
Com essa visão interna de como
proceder na jornada evolutiva, os sentimentos ampliam-se e abarcam a mente que
se esclarece numa perfeita identificação de significados.
Desse modo, nunca cesses de amar
e de servir, assinalando os teus atos pela bondade e pela compaixão.
Não se trata de anuência com os
comportamentos insanos, nem indiferença ante as agressões do mal, mas decisão
de permanecer em estado de vigilância ativa, sem os altibaixos das emoções em
desgoverno.
Quando não se está impregnado
pela compreensão do progresso de todos, o ego produz situações muito especiais
em benefício próprio, liberando arquivos do inconsciente que dão lugar a
conflitos que ressurgem, porque não foram realmente superados.
Cuida para que os teus atos
sejam resultado de reflexão profunda, que te propicie a escolha certa do
caminho a seguir.
Toma o Evangelho de Jesus como
roteiro para o comportamento e em qualquer situação desafiadora pergunta-te
como faria o Mestre caso fosse Ele que tomaria a decisão. Essa indagação abre o
matagal dos tormentos habituais e, como luz meridiana, clareia o pensamento e
faculta o encontro seguro da trilha a percorrer.
*
Quando Jesus nos prometeu a Sua
Paz, afirmou-nos que somente Ele a poderia dar. Isto porque, esta é
consequência do comportamento individual na vivência dos postulados por Ele
ensinados e vividos.
A Sua serenidade em todas as
situações demonstrou-nos a grandeza dos valores éticos de que era portador.
Sabendo que seria traído por um
amigo e por outro negado, não demonstrou contrariedade nem decepção, antes lhes
revelou com delicadeza os perigos em que tropeçariam e, após consumada a
tragédia, buscou o primeiro, que se suicidara, nas regiões tormentosas para
onde se atirou e o outro novamente convidou a que pastoreasse o Seu rebanho.
Se desejas essa paz, segue o
Mestre e imita-O sempre que possas, e, sem que te apercebas, estarás
entesourando a paz que te fará verdadeiro Filho de Deus.
[2] Psicografia de Divaldo Pereira Franco, em 24 de
outubro de 2018, na Mansão do Caminho, em Salvador, Bahia.
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