Maria Ribeiro
Ninguém pode negar que danosas
influências, desde o nascedouro do Espiritismo, quiseram se impor, sendo muitas
delas, infelizmente, assimiladas e defendidas, até mesmo por pessoas
respeitáveis, dada a invigilância em que muitos se deixam envolver. Aliás, as
atuais circunstâncias do globo facilitam as interferências, nada desejáveis, e
só a muito custo consegue-se enxergar que a luz maravilhosa da Verdade aponta
para novas e convidativas perspectivas.
Pergunta-se como que de uma
ciência perfeitamente positiva pôde surgir crenças tão tacanhas que insultam a
razão mais superficial, que a mínima sensatez é capaz de dissuadir.
Em contrapartida, a excessiva
precaução gerou o extremo oposto, e palavras e expressões da Codificação são
utilizadas para contradizerem-se a si mesmas, com o torpe propósito de
embasarem vaidosas suposições particulares.
Em se falando de Espiritismo não
se pode desprezar a contribuição de outras ciências, tomando por base o item 17
do primeiro capítulo de A Gênese que
dispara:
Todas as ciências se
encadeiam e se sucedem numa ordem racional; elas nascem umas das outras à
medida que encontram um ponto de apoio nas ideias e conhecimentos anteriores.
O conhecimento da Química
auxilia no entendimento de alguns pontos que acabaram por se tornar polêmicos
no meio espírita. Um deles diz respeito às incompreendidas ações do magnetismo.
Embora seja fato que a ingenuidade leve ao precipício da superstição, dos
ritualismos e dos dogmatismos, não se pode por isso criar uma barreira que
negue definitivamente qualquer ideia, sem antes ter buscado a contraprova.
Aliás, esta é uma recomendação essencialmente doutrinária, esquecida pelos
extremistas teimosos na postura anticientífica.
O desconhecimento das coisas
torna o homem escravo da superstição, e embora o Espiritismo de tudo fale sem
rodeios, há sempre quem queira permanecer ainda no degrau da fantasia. Quando se
trata do assunto em questão – o magnetismo – não é diferente, sendo
perfeitamente observáveis fatos inconvenientes para não dizer ridículos.
No movimento espírita dois
procedimentos que envolvem o magnetismo se tornaram muito comuns: o passe e a
fluidificação da água. Há os que desconhecem ser o passe um método terapêutico,
analisado por Kardec[2] e
há os que acreditam ser algo miraculoso, e por isso mesmo, o rodeiam de formas
ritualísticas, com dizeres extravagantes em número determinado de vezes etc. O
mesmo se dá com a água fluidificada ou magnetizada. Há os adeptos que unem
ambos, ritualizando o procedimento: um copinho de água fluidificada após o
passe.
O assunto em pauta, porém, diz
respeito exclusivo à água. Então, recorde-se de uma observação da Química que
esclarece que a molécula de água é dos corpos o mais suscetível de absorver
energia dependendo da frequência ambiente. Ora, se a molécula de água tem esta
propriedade, infere-se que a fluidificação, ou ainda, a energização da mesma
possa de fato ocorrer, nada tendo de antidoutrinário, é um fato químico. A
menos que se admita a inexistência da energia, ou dos fluidos. E também assim,
derrubar-se-ia uma premissa de uma ciência tão positiva quanto a própria
Doutrina Espírita. Deste modo, está-se diante de um fato puramente natural.
Se a água tem esta propriedade
no mais alto grau, deduz-se que outros corpos a tenham em graus menores,
variando ao infinito. Mas aqui é necessário observar as circunstâncias que
poderiam ocorrer estas absorções, pois ninguém é tolo o bastante para não crer
nas peculiaridades individuais de cada um dos corpos da natureza, inclusive em
se tratando dos seres vivos, como o homem.
Kardec no capítulo XIV de A Gênese descreve os fluidos como
substância desprovida de qualidades próprias, capazes de adquiri-las conforme o
meio ambiente, ou por outra, conforme aquelas formadas pelo teor dos
pensamentos e sentimentos que dominem. Seguindo esta linha de raciocínio, não
parece muito irreal que a água, obedecendo a uma lei natural, absorva os
fluidos que possam proporcionar um alívio orgânico ou um conforto moral para
aqueles que anseiam por este resultado. Uma questão é suscitada: Se a água
absorve energia, porque não poderia ser esta energia algo salutar?
Daí, segue-se que:
primeiro – comprovadamente a
água tem propriedade de absorver energia;
segundo - esta energia pode ser
algo benéfico.
Ao ser bebida, este líquido
entrará em contato com outros líquidos corpóreos, indaga-se: nesta interação, é
ou não é possível que estes líquidos corpóreos também absorvam as energias do
líquido que foi ingerido? Se isto é possível, também não seria se, uma vez
entrando para a circulação, se concentrassem num órgão doente, assim como o
fazem os remédios? Esta é uma questão, como tantas outras, que precisa de
resposta. Não uma resposta baseada numa opinião particular, mas baseada na
positividade científica. Afinal, com base ainda no magnetismo, não será crível
que, até certo ponto, um órgão doente “crie” em torno de si um campo de
atração, obviamente, para tudo o que for contrário ao seu estado de debilidade?
Na verdade, não o órgão, mas a Mente é que faria que se “criasse” um campo
magnético em torno do órgão ou da estrutura que precisasse de reajuste, pois o
organismo busca a todo o tempo o seu equilíbrio, sempre criando mecanismos de
defesa, de luta e de reparo.
Analisando as curas do Mestre
Jesus, no capítulo XV da obra supracitada, Kardec didaticamente enquadra alguns
casos, segundo o que julgou por fenômenos parecidos. Citar-se-á dois casos para
ilustrar.
A respeito do paralítico da
piscina, Kardec admite que possivelmente as águas daquele poço tivessem
propriedades curativas. Assim o Mestre francês se expõe:
Segundo a crença
vulgar, esse movimento era o mais favorável às curas; talvez, na realidade, no
momento de sua emissão, a água tivesse uma propriedade mais ativa, ou que a
agitação produzida pela água fizesse vir à tona a vasa salutar para algumas
moléstias. Tais efeitos são muito naturais e perfeitamente conhecidos na
atualidade...
A respeito da cura do cego de
nascença, estudada nos itens 24 e 25, Kardec explica:
Quanto ao meio
empregado para o curar, é evidente que a espécie de lama feita com a saliva e a
terra não podia ter virtude senão pela ação do fluido curador do qual ela
estava impregnada; é assim que as substâncias as mais insignificantes, a água,
por exemplo, podem adquirir qualidades poderosas e eficientes sob a ação do
fluido espiritual ou magnético ao qual elas servem de veículo, ou se quiserem,
de reservatório.
Kardec também trata neste mesmo
capítulo, pela mesma via magnética, sobre a cura das obsessões, as
ressurreições e outros fatos que passaram por milagres.
É também pelo bem
que pratica, que o Espiritismo prova sua missão providencial. Ele cura os males
físicos, mas cura sobretudo as moléstias morais e aí estão os maiores prodígios
mediante os quais ele se afirma...
Com esta fala, Kardec atualmente
adverte os adeptos para que ponham freios em seus intuitos de tudo quererem
explicar à própria maneira. O estudo do Espiritismo faz o homem conhecedor dos
seus poderes psíquicos, e espera que estes sejam postos a serviço da causa
cristã, sem os preconceitos que a mente humana é capaz de engendrar .
[1] https://criticaespirita.blogspot.com/2014/01/magnetizacao-nos-tempos-modernos-agua.html?view=flipcard
[2] O Livro dos
Espíritos – comentário da questão 70; A
Gênese – capítulos XIV e XV; O
Evangelho segundo o Espiritismo – cap. XIX item 5, cap. XXVII itens 9,10 e
11.
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