Allan Kardec
Tendo perdido um filho de sete
anos, e tendo-se tornado médium, uma mãe teve por guia o próprio filho. Um dia
ela lhe fez a seguinte pergunta:
Caro e bem-amado
filho, um espírita, amigo meu, não compreende e nem admite que tu possas ser o
guia espiritual de tua mãe, já que ela existia antes de ti e, indubitavelmente,
deve ter tido um guia, nem que fosse durante o tempo em que tivemos a
felicidade de ter-te ao nosso lado. Podes dar-nos algumas explicações?
Resposta do Espírito da criança – Como quereis aprofundar tudo quanto vos
parece incompreensível? Mesmo aquele que vos parece mais adiantado no
Espiritismo está apenas nos primeiros elementos desta doutrina e não sabe mais
que este ou aquele, que vos parece a par de tudo e capaz de vos dar
explicações.
– Eu existi muito
tempo antes de minha mãe e, em outra existência, ocupei uma posição eminente
por meus conhecimentos intelectuais.
Mas um imenso
orgulho se havia apoderado de meu Espírito, e durante várias existências
consecutivas fui submetido à mesma provação, sem dela poder triunfar, até
chegar à existência em que estava junto de vós. Mas como já era adiantado e
minha partida devia servir ao vosso progresso, a vós tão atrasados na vida
espírita, Deus me chamou antes do fim de minha carreira, considerando minha
missão junto a vós mais proveitosa como Espírito do que como encarnado.
Durante minha última
estada na Terra, minha mãe teve o seu anjo-da-guarda junto a ela, mas
temporariamente, porque Deus sabia que era eu que devia ser o seu guia
espiritual e que eu a traria mais eficazmente na via de que ela estava tão
afastada. Esse guia, que ela tinha então, foi chamado a uma outra missão, quando
vim tomar seu lugar junto a ela.
Perguntai aos que
sabeis mais adiantados do que vós, se esta explicação é lógica e boa, pois é
possível que me engane ao expressar a minha opinião pessoal. Enfim, isto vos
será explicado, se perguntardes. Muitas coisas que ainda vos são ocultas vos
parecerão claras mais tarde. Não queirais aprofundar muito, porque dessa
aparente preocupação nasce a confusão de vossas ideias.
Tende paciência;
assim como um espelho embaciado por um sopro ligeiro pouco a pouco se clarifica,
vosso espírito tranquilo e calmo atingirá esse grau de compreensão necessário
ao vosso adiantamento.
Coragem, pois, bons
pais; marchai com confiança, e um dia bendireis a hora da provação terrível que
vos trouxe à via da felicidade eterna, e sem a qual ainda teríeis muitas
existências infelizes a percorrer.
Observação – Essa criança era de uma precocidade intelectual rara
para sua idade. Mesmo gozando saúde, parecia pressentir seu fim próximo;
gostava dos cemitérios, e sem jamais ter ouvido falar do Espiritismo, em que
seus pais não acreditavam, muitas vezes perguntava se, quando se está morto,
não se podia voltar para os que se tinha amado; aspirava a morte como uma
felicidade e dizia que quando morresse sua mãe não devia afligir-se, porque
voltaria para junto dela. Com efeito, foi a morte de três filhos em alguns dias
que levou os pais a buscar uma consolação no Espiritismo. Essa consolação eles
a encontraram largamente e sua fé foi recompensada pela possibilidade de
conversar a cada instante com os filhos, pois em muito pouco tempo a mãe
tornou-se excelente médium, tendo até o próprio filho como guia, Espírito que
se revela por grande superioridade.
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