Hugo Lapa
Um homem procurou um grande
mestre para lhe fazer uma pergunta, visando melhorar a si mesmo. Ele disse:
– Mestre, gostaria de me tornar uma pessoa equilibrada, que não se
abala com coisa alguma. O que posso fazer para atingir esse estado em que nada
me abala?
O mestre respondeu:
– Antes de te responder, quero te pedir uma coisa. Vá até a minha casa,
que fica no alto dessa montanha, pegue tudo o que estiver dentro dela, e traga
para cá.
O homem não entendeu o pedido do
mestre, mas fez o que ele pediu. Subiu no alto da montanha e entrou na casa do
mestre.
Assim que cruzou a porta de
entrada, viu que a residência do mestre estava totalmente vazia. Não haviam
móveis, roupas, artigos de limpeza, de higiene, livros, nem coisa alguma. Havia
apenas o espaço vazio.
O homem então desceu a montanha
e foi falar com o mestre, dizendo:
– Senhor, fui até a sua casa, mas não havia nada lá dentro. Por isso
não pude retirar nada de sua casa, como me pediu. Mas não entendo…
O mestre disse:
– Preste atenção: Assim é o homem equilibrado, que não se abala com
nada. Ele não deve possuir coisa alguma que possa lhe ser retirado, suprimido,
roubado ou destruído pelos homens ou pelo tempo. O homem equilibrado não deve
se identificar com coisa alguma, pois no momento em que se identifica, ele
passa a pertencer àquilo, e isso pode lhe ser tirado. Se ele se identifica como
um homem de negócios, ele pode deixar de ser; se ele se identifica com sua
riqueza, pode perder sua fortuna; se ele se identifica com sua
intelectualidade, pode ficar velho e esquecer tudo o que aprendeu; se ele se
enxerga como um homem bom, pode sofrer quando cometer um erro e descobrir que
não era tão bom como se julgava. Mas o homem que não se identifica com coisa
alguma, apenas com Deus, ele é vazio de identidades, tal como a casa vazia onde
nada pode ser tirado ou destruído. Da mesma forma que não se pode roubar uma
casa que nada contém, ninguém pode desequilibrar ou abalar um homem que com
nada se identifica.
Ninguém pode tirar a paz de
alguém cuja paz em coisa alguma se sustenta.
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