Marco Tulio Michalik
A expressão déjà vu é de origem francesa e pode ser traduzida como "já
visto". Como já ter estado em um determinado lugar ou já ter vivido certa
situação presente, quando na realidade isto não era de conhecimento anterior.
Em alguns casos ocorre a habilidade de predizer os eventos que acontecerão em
seguida, o que é denominado premonição. Outras vezes, a pessoa pode determinar
o tempo exato e o local onde a experiência original ocorreu.
Quando pensamos já ter visto um
filme, lido um livro, conhecido uma pessoa, estado em um lugar sem nunca ter
ido neste local, ficamos confusos, com dúvida, e temos a sensação de uma
experiência déjà vu. Porém o déjà vu clássico nos dá a sensação de
estranheza, de estarmos vivenciando uma experiência do passado.
Hans Holzer, em seu livro “Vida
Além Vida”, descreve o seguinte:
A maioria dessas
experiências déjà vu pode ser explicada com base na precognição. Uma
experiência é prevista e não é registrada na hora. Mais tarde, quando a
experiência se torna uma realidade objetiva e a pessoa passa por ela, de
repente lembra-se "em um piscar de olhos" que já a conhecia. Em
outras palavras, a maioria das experiências déjà vu nada mais é do que
incidentes precógnitos esquecidos. Contudo, existe uma pequena parte dessas
experiências que não pode ser explicada dessa maneira. Entre elas está em ir a
uma cidade ou a uma casa pela primeira vez e prever com exatidão como é a casa
ou a cidade – a ponto até de conhecer os cômodos, os móveis, a disposição de
objetos e outros detalhes que estão muito além do âmbito da precognição normal.
(...) Em geral, as experiências precógnitas são parciais e enfatizam certos
pontos notáveis, talvez alguns detalhes, mas nunca todo o quadro. Quando o
número de detalhes lembrado torna-se muito grande, temos que desconfiar sempre
de que se trata de lembranças de uma encarnação passada".
A explicação médica
Os psicólogos e psiquiatras
explicam que o sistema de memória temporal – que nos informa a idade, a data
dos acontecimentos memorizados ‒ sofre um lapso e nos informa como se fosse
antiga uma memória que na verdade foi armazenada centésimos de segundos antes.
Ou seja, você tem a sensação de já ter estado em um lugar, e já esteve mesmo,
mas dois centésimos de segundos atrás, e fica achando que foi ontem ou há uma
semana ou até anos.
Em 1955, Wilder Penfield fez uma
experiência em que estimulava eletricamente lóbulos temporais, encontrando um
bom número de experiências de déjà vu.
As estatísticas mostram que cerca de 30% da população já teve alguma
experiência déjà vu. Porém, este
fenômeno ocorre com mais frequência em indivíduos com distúrbios
neuropatológicos, como a esquizofrenia e a epilepsia. Há também uma
predisposição maior por fatores não patológicos, como fadiga, estresse, traumas
emocionais, excesso de álcool e drogas.
É um assunto muito interessante,
considerada a forma como o fenômeno se processa. Há diversas teorias sobre esse
fenômeno, como a psicodinâmica, reencarnação e sonhos, ilusão epiléptica,
holografia, distorção do senso de tempo e transferência entre hemisférios
cerebrais. Na psicodinâmica, Freud dizia que o déjà vu resultava da lembrança de desejos inconscientes ou
fantasias do passado que eram ativadas pela situação presente. Também o déjà vu poderia ser uma autodefesa, ou
seja, nosso inconsciente processava a informação de que aquilo já havia
acontecido, por isto, não devia temer, pois já havia passado por aquela
experiência anteriormente. Essa teoria não explica os casos de premonição, nem
de lembranças de datas e locais onde ocorreram eventos no passado e que ninguém
conhecia. Nas teorias que associam o déjà
vu a sonhos ou desdobramento do espírito, onde o espírito teria realmente
vivido estes fatos, livre do corpo, surgiriam as lembranças de encarnações
passadas, o que levaria à rememoração na encarnação presente.
Na ilusão epiléptica, há a
teoria do Dr. John Jackson, que associa o déjà
vu a um sintoma de epilepsia psicomotora, devido à grande incidência de
casos de "déjà senti" entre os pacientes epilépticos.
A holografia seria a memória que
pode ser armazenada no cérebro como holograma tridimensional, em que pequenas
partes de uma figura podem ser utilizadas para reconstruir o todo. Segundo essa
teoria, o déjà vu ocorreria quando
uma peça de um holograma presente fosse coincidente com outra peça de um
holograma no passado. Ou seja, você vê uma foto de uma determinada cidade;
tempos depois, você esquece estas imagens e as deixa armazenadas na memória
como um holograma. Algum dia, quando você visitar essa cidade da foto, poderá
ocorrer um déjà vu, por você se
sentir familiarizado com as imagens, sem recordar-se de onde elas vêm.
Estado de percepção
alterado
A distorção do senso de tempo é
quando sem ter entrado ainda no estado de consciência, percebemos a situação ao
nosso redor. Dessa forma, o tempo parece ser maior do que o normal. Quando
entramos no estado de consciência, a situação que já havíamos percebido no
estado inconsciente parece-nos uma lembrança do passado. A transferência entre
hemisférios cerebrais significa a transferência de informações entre os dois
hemisférios do cérebro, que normalmente ocorre em alguns milésimos de segundos.
Porém, se esse tempo aumentar para cerca de um minuto, o hemisfério não
dominante receberá a informação duas vezes, sendo uma diretamente e outra do
outro hemisfério. Dessa forma, ele terá a sensação que os eventos presentes já
aconteceram no passado.
Há carência de publicações e
depoimentos sobre este assunto. Um rapaz descreveu sua experiência déjà vu na internet, num site renomado.
Ele conta que no passado já sofreu catalepsia e teve muito déjà vu, que duravam desde dois a quinze minutos. Ele diz que em
uma determinada época de sua vida teve que sair do Brasil e foi trabalhar em um
posto de gasolina em Portugal. Um dia chegou um caminhão para abastecer.
Enquanto ele se dirigia até o cliente, ativou-se espontaneamente um dèjá vu. Ele sabia que era um processo
bioquímico e estava convencido de que aquela cena já tinha acontecido. Ele
também podia pensar que a única coisa que não tinha acontecido era justamente
ele saber que era um déjà vu. Então,
em frações de segundos, pensou:
Ora, aqui estou eu
mais uma vez com esta “coisa”. Vou aproveitar para fazer um teste: se o déjà vu
for informação somente do passado que está sendo processada por vias não
convencionais, eu não serei capaz de adivinhar a quantidade de óleo diesel que
o cliente vai desejar.
Após ter esse pensamento
extremamente rápido, aquela própria sensação de que tudo aquilo já tinha
acontecido, modificou-se e passou a incluir também a sensação de que o cliente
iria querer 2.000 escudos de combustível. Lembrou-se, enquanto se aproximava do
caminhão, de que aquela quantidade era muito improvável, devido ele já estar
acostumado a abastecer no mínimo 5.000 escudos para aquele tipo de veículo
pesado. Foi tudo muito rápido e o cliente pediu 2.000 escudos. A sensação de déjà vu continuou, com a ideia de que
aquilo já tinha acontecido, com exceção de sua operação mental discursiva; ele
sabia que aquilo era um déjà vu e ele
tinha livre arbítrio para alterar, seja para confirmar ou para prever o evento
seguinte. Ele comenta que seu acontecimento poderia ser interpretado de forma
diferente por um terceiro observador porque poderiam argumentar de que houve
uma adivinhação, porém, antes de atender o cliente, ele digitou os 2.000
escudos na máquina de combustível, de forma que isto não poderia ser
interpretado mais como uma simples operação mental inversa, devido ao fato de
que o evento real se concretizou no devir de outras pessoas sem estado de déjà vu.
Experiências com o
déjà vu
Como achei interessante seu depoimento, pedi, via e-mail,
mais explicações. Essa pessoa me respondeu o seguinte:
Um aspecto
importante que gostaria de observar é que por muito tempo estive atento à
percepção desta ocorrência o suficiente para poder discriminar quando há
somente um déjà vu e quando ocorre a possibilidade de adivinhação concreta em
torno de eventos particulares. Isto é, quando o déjà vu ocorre há em minha
consciência um “discurso livre” cujas operações mentais permitem inferências
antecipadas sobre eventos futuros. Por outras palavras, naquele estado há um
discernimento concreto do que é a sensação imediata do “já visto” e do que é
pensamento on-line sobre qual evento vai efetivamente ocorrer no futuro
independente do déjà vu.
Relatos interessantes são
encontrados sobre esse fenômeno. Isso não quer dizer que todas as respostas
serão encontradas, mas poderão ter uma visão mais ampla do fenômeno e analisar
com mais precisão as teorias defendidas nesta experiência específica.
Voltemos ao livro de Hans
Holzer, numa história em que ele descreve a experiência déjà vu de um soldado:
Durante a Segunda
Guerra Mundial, um soldado se viu na Bélgica. Enquanto seus companheiros se
perguntavam como entrar em determinada casa em uma cidadezinha daquele país,
ele lhes mostrou o caminho e subiu a escada à frente deles, explicando, enquanto
subia, onde ficava cada cômodo. Quando, depois disso, lhe perguntaram se havia
estado ali antes, ele negou, dizendo que nunca havia deixado seu lar nos
Estados Unidos, e estava dizendo a verdade. Não conseguia explicar como, de
repente, se vira dotado de um conhecimento que não possuía em condições normais.
Devemos ter
cuidado para que uma ilusão não se confunda com uma experiência déjà vu. O termo déjà vu se tornou popular dando amplo sentido a tudo que nos parece
familiar. A experiência déjà vu é muito
profunda e o sentimento é de estranheza. Devem ser separadas, as teorias de
reencarnação, sonhos ou desdobramentos, das teorias de desejos inconscientes,
fantasias do passado, mecanismo de autodefesa, ilusão epiléptica, entre outras,
para melhor discernimento do que realmente é um déjà vu e o que é apenas uma ilusão de nossa imaginação fértil.
Este artigo foi publicado na Revista Cristã de Espiritismo,
edição 35
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