Redação do Site Inovação Tecnológica - 19/03/2019
Hardware para
telepatia
Interfaces neurais, ou interfaces cérebro-computador,
permitem controlar dispositivos externos pelo "pensamento" -
tipicamente são usadas intenções de movimento de um membro, e não exatamente
uma ideia abstrata do tipo "Eu quero isto", ou "Eu quero
aquilo".
Assim, é natural pensar que um próximo estágio no
desenvolvimento dessas neurointerfaces possa permitir a transferência direta de
informações entre pessoas, do cérebro de uma para o cérebro de outra.
Embora se imagine que isto possa estar muito distante no
futuro, uma equipe internacional de pesquisadores acaba de publicar um artigo
alegando terem dado um passo importante nesse rumo. Eles desenvolveram uma
interface neural que permite distribuir uma tarefa cognitiva entre diversas
pessoas.
Em seus testes, a equipe usou a interface cérebro-cérebro
para estimar os estados cerebrais de cada participante e distribuir uma carga
cognitiva entre os membros do grupo, que estavam realizando juntos uma tarefa
comum.
A interface permitiu compartilhar a carga de trabalho entre
todos os participantes, dependendo do desempenho cognitivo de cada pessoa
estimado a partir de sua atividade cerebral elétrica.
Rede de cérebros
Vladimir Maksimenko e seus colegas da Alemanha, Espanha e
Rússia colocaram dois voluntários para resolver juntos uma tarefa de
classificação de imagens ambíguas apresentadas em uma tela. Cada um dos
voluntários tinha sua atividade cerebral monitorada em tempo real por
eletroencefalogramas.
A classificação de imagens altamente ambíguas exige um
grande esforço cognitivo em comparação com a identificação de imagens mais
claras. A equipe forçou uma sobrecarga cognitiva aumentando a duração do
experimento (40 minutos) e fazendo pausas curtas entre a apresentação das
imagens (5 a 7 segundos). Assim, os voluntários foram obrigados a manter um
alto nível de concentração durante o experimento.
No primeiro estágio, cada voluntário fez a tarefa
separadamente, o que permitiu detectar nos sinais cerebrais a carga cognitiva e
os períodos de fadiga, mostrando momentos de perda de atenção e momentos de
recuperação, durante os quais a concentração voltava a aumentar.
No segundo estágio, a interface neural avaliava
continuamente a carga cognitiva no cérebro de cada um dos participantes e, de
acordo com o resultado, distribuía a tarefa para cada um deles, mostrando
imagens menos ambíguas ou aumentando o tempo entre as imagens para quem
estivesse mais cansado, e aumentando a carga para quem se mostrava mais
concentrado. Tudo foi feito de modo a manter o mesmo tempo total para a tarefa
e mostrar o mesmo número de imagens.
"Nós demonstramos que a eficiência da equipe pode ser
aumentada devido à redistribuição do trabalho entre os participantes, de modo
que a carga de trabalho mais difícil recaia sobre o operador que apresenta
desempenho máximo. Por fim, nós demonstramos que a interação humano-humano é
mais eficiente na presença de um certo retardo determinado pelos ritmos
cerebrais. Os resultados obtidos são promissores para o desenvolvimento de uma
nova geração de sistemas de comunicação baseados na atividade cerebral
neurofisiológica de pessoas interagentes", escreveu a equipe.
"Os resultados obtidos podem ser um ponto de partida
para o desenvolvimento de sistemas de comunicação neural entre pessoas que
permitam 'sentir' as condições do outro, resultando em uma interação mais
eficiente", disse o professor Alexander Pisarchik, da Universidade
Politécnica de Madri.
Bibliografia:
Artigo: Increasing Human Performance by Sharing Cognitive Load Using
Brain-to-Brain Interface
Autores: Vladimir A. Maksimenko, Alexander E. Hramov, Nikita S. Frolov,
Annika Lüttjohann, Vladimir O. Nedaivozov, Vadim V. Grubov, Anastasia E.
Runnova, Vladimir V. Makarov, Jürgen Kurths, Alexander N. Pisarchik
Revista: Frontiers in Neuroscience
DOI: 10.3389/fnins.2018.00949
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