1809 - 1885
Cahagnet nasceu em Caen, na
França. Embora descendente de uma família pobre, e tendo trabalhado
sucessivamente, para poder viver como relojoeiro, torneiro de cadeiras,
caixeiro de comércio, fotógrafo, conseguiu, com sua poderosa força de vontade,
seu dinamismo extraordinário e sua honestidade, adquirir posição de destaque,
sendo respeitado e admirado por todos quantos com ele privaram, mesmo os
inimigos.
Além das citadas habilidades,
Cahagnet desenvolveu mais uma que o tornaria célebre ‒ a de magnetizador. Foi
desse modo que manteve relações com os entes do além-túmulo, por intermédio de
vários pacientes em estado sonambúlico ou de êxtase. Desse intercâmbio surgiu,
em 1847, o primeiro tomo de "Arcanos da Vida Futura Revelados".
Anotando as palestras do maravilhoso intercâmbio com os espíritos, Cahagnet
edificou a portentosa obra com cerca de mil páginas, que formaram o tomo I dos
"Arcanos". Na bela introdução desse monumental trabalho adverte o
autor:
Sede prudente, não admitais
nem rejeiteis nada sem um exame maduro; aquilo que não puderdes compreender,
jamais diga que não é!
Ao tomo I seguiram-se os tomos
II e III.
Em 1848, Cahagnet reunia em
Argenteuil um grupo de pessoas que havia testemunhado os fatos obtidos através
da sonâmbula Adéle Maginot, e criou a primeira "Sociedade dos
Magnetizadores Espiritualistas", por sugestão do espírito Swedenborg. Três
anos depois, essa sociedade continuou seus estudos sob a denominação de
"Sociedade dos Estudantes Swedenborgianos", aproximando-se mais tarde
do Espiritismo codificado por Allan Kardec.
Sob os auspícios da
"Sociedade" funda o jornal "O Magnetizador Espiritualista",
no qual são registrados todos os fatos maravilhosos das relações com o Além
obtidos por ele e pelos magnetistas de todo o mundo que o quisessem fazer.
Seguiram-se ainda muitas outras obras:
1850 ‒ "Santuário do Espiritismo", ou o estudo
da alma humana e de suas relações com o Universo, segundo o sonambulismo e o
êxtase;
1851 ‒ "Luz dos Mortos" ou estudos magnéticos,
filosóficos e espiritualistas;
‒
"Tratamentos das Enfermidades", obra que engloba um estudo das
propriedades medicinais de 150 plantas que a extática Adéle Maginot transmitira
e diversos métodos de magnetização;
1853 ‒ “Cartas Ódicas-magnéticas do Cavaleiro de
Reichenbach, traduzido do alenço (?)”;
1856 ‒ "Revelações do Além-túmulo", pelos
espíritos de Galileu, Hipócrates, Franklin e outros, onde se estuda Deus, a
preexistência das almas, a criação da Terra, vários problemas da Física, da
Botânica, da Matemática, da Medicina, a análise da existência do Cristo e do
mundo espiritual;
1857 ‒ "Magia Magnética", que trata dos
fenômenos de transporte, de suspensão, das possessões, das convulsões etc.;
1858 ‒ "Estudo sobre o Homem", onde tece
profundas considerações sobre o homem e sobre todas as faculdades da alma
humana;
1861 ‒ "Enciclopédia Magnética Espiritualista"
(1854 -1861);
1869 ‒ "Estudo sobre o Materialismo e o
Espiritualismo";
1880 ‒ "Estudo sobre a Alma e o Livre Arbítrio";
1883 ‒ "Terapêutica do Magnetismo e do
Sonambulismo".
As datas acima mostram que a
obra de Cahagnet antecedeu a de Kardec, e também a sucedeu. Sucedeu-o ainda na
luta pela verdade espírita, suportando sem nunca desanimar os ataques infligidos
à doutrina "Tudo o que a ignorância, o fanatismo, a tolice reeditaram
posteriormente contra a nossa doutrina foi despejada sobre o pobre
magnetizador" ‒ diz Gabriel Delanne. Qual ocorreu com as obras de Kardec,
as de Cahagnet também foram batizadas pelo fogo. A leitura dos Arcanos foi
proibida em todos os países, por decisão da Igreja Católica. Cahagnet, porém,
jamais esmoreceu. Interrogando os mortos, ele obteve respostas interessantes e
reveladoras sobre diversos assuntos: noções de magnetismo, as propriedades da
alma, a oração como meio de evitar os maus pensamentos, o modo por que deve ela
ser proferida, as punições reservadas no mundo espiritual aos criminosos, as
ocupações dos espíritos, as sociedades formadas pelos espíritos, as obsessões,
a separação entre a alma e o corpo no momento da morte, formas diversas que os
espíritos podem tomar, o inferno dos católicos (o que é), o fenômeno dos
transportes, reunião dos familiares e afins no Espaço, noções sobre a loucura,
suas causas, suas consequências no mundo espiritual, alucinações causadas pelos
maus espíritos, o suicídio no além-túmulo etc.
A 10 de abril de 1885, com 76
anos, desencarnava, em Argenteuil, o velho batalhador Cahagnet, a cujo enterro
compareceram inúmeros amigos e espiritistas. A esposa, meses depois, o
acompanhava. Menino pobre, torneiro, relojoeiro, caixeiro, haveria de
tornar-se, mercê da vontade, da inteligência e da perseverança, um erudito e
profundo metafísico, merecedor do reconhecimento de sumidades científicas e
literárias de todos os países, e do respeito e eterna gratidão dos espíritas do
mundo inteiro.
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