Paulo Henrique
Figueiredo
O Espiritismo explica como tudo
se encadeia no universo, desde o átomo até o arcanjo. A variedade infinita dos
seres forma uma imensa escala em completa harmonia. Charles Darwin chocou o mundo,
em 1859, ao publicar a primeira edição de A
Origem das Espécies. Nela, Darwin demonstrou que a origem da espécie humana
está na evolução de um simples ser unicelular.
Assim como Copérnico, Galileu e
Giordano Bruno, Darwin foi acusado de charlatanismo. Mas sua pesquisa se
comprovou através de fósseis e estudos mais aprofundados. Estava desvendada a
origem do corpo humano como animal que desenvolveu a razão. Mas ainda restava
um grande enigma. Faltava explicar a origem da alma racional, a qual dá a vida
ao último elo de animalidade na Terra. A filosofia espírita diverge da doutrina
da criação da alma no instante do nascimento, defendida pela concepção
dogmática. A pré-existência da alma é uma consequência natural do princípio
básico da reencarnação. Mas se, num exercício de imaginação, recuarmos no
passado de um espírito até sua primeira encarnação na humanidade, o que ele era
antes disso? Qual sua origem, seu momento inicial?
“Como foi que se completou essa
gênese da alma? Por quais metamorfoses terá passado o princípio inteligente
antes de atingir a humanidade?”, questionou Gabriel Dellane, no livro Evolução Anímica. De acordo com a
doutrina espírita, iniciada dois anos antes da publicação do trabalho de
Darwin, o espírito não entra para a sua fase de desenvolvimento na humanidade
sem antes passar pelos reinos inferiores da criação.
A Jornada
Do mineral à planta da planta ao
animal, do animal ao homem, do homem aos espíritos superiores. O princípio
inteligente vai despertando todas as suas potencialidades no decorrer de suas
experiências na matéria.
A expressão de Léon Denis, o
continuador de Kardec, define poeticamente essa ascensão: “A alma dorme na
pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e desperta no homem”.
O princípio inteligente não é
influenciado pelo tempo em sua caminhada. Ao iniciar sua jornada, num
aprendizado contínuo, ele domina a estabilidade e a simetria do mineral. O
cristal, acredita Gabriel Dellane, está situado entre dois reinos. “É quase um
ser vivente, visto que difere completamente da matéria amorfa, tendo as
moléculas orientadas por uma ordem geométrica fixa. Portanto, uma tal
individualidade”. Em seguida, numa lenta
transição caminha para as primeiras estruturas básicas da vida nos simples
vírus e nos seres unicelulares. Em sua passagem pelas espécies vegetais, domina
os princípios do momento, da reprodução, sente o passar da seiva que lhe
garante vida orgânica. A vida animal oferece incontáveis circunstâncias de
aprendizado, e, nos diversos orbes do universo, desperta os embriões dos
sentimentos que um dia vão guiar sua existência humana. “Tudo se encadeia na
Natureza por liames que não podeis ainda perceber, e as coisas aparentemente
mais disparatadas têm pontos de contato que o homem jamais chegará a
compreender, no seu estado atual[2]”. Um
lanço invisível une todos universos e todas almas, em todos os tempos. As
formas e os seres, desde as menores partículas até as maiores inteligências,
trazem em si um princípio espiritual imortal que lhe sustentam as individualidades.
Esse princípio estrutura a matéria esparsa pelo espaço infinito. Sem o
princípio inteligente a matéria será algo “inerte, sem objetivo, sem
inteligência, sem outro motor além das forças materiais. Ficaria dispersa no
espaço cósmico, pois ela não é dotada de impulso para se organizar por si. Nem
a estrutura atômica, assim, chegaria a existir”, afirma Allan Kardec, em A Gênese.
Esse sistema foi anteriormente
desenvolvido pelo filósofo alemão Leibniz, em sua teoria das mônadas. “As
mônadas seriam partículas infinitesimais do pensamento divino que, como as
sementes, trazem em si mesmas o plano secreto daquilo que vai ser criado”,
explicou Herculano Pires na obra Curso Dinâmico de Espiritismo.
Humanização
Depois dessa passagem da alma
pelos reinos inferiores da natureza, num dado momento concebido por Deus, o
princípio inteligente torna-se espírito. Recebe então “a iluminação divina, que
lhe dá, simultaneamente com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus
altos destinos[3]”.
Desperta para o mundo espiritual
e, a cada vez que deixa um corpo físico no fenômeno da morte, permanece lúcido,
no plano espiritual, iniciando sua gradual evolução, agora consciente, sem
perda de continuidade.
A alma imortal está, então,
mergulhada no espaço e no tempo. Conhecedora de seus destinos, olha para o
infinito acima de sua fronte e almeja as conquistas da razão e do sentimento.
Inicia essa nova fase, simples e ignorante, mas com o potencial de todas as
qualidades e capacidades contidas na centelha de sua alma.
A sua caminhada evolutiva passa
a ser conduzida por sua própria vontade e livre-arbítrio, transcorrer das
reencarnações educativas.
A partir desse instante, o homem
se insere na humanidade. Estágio no qual sua adaptação às leis naturais se dá
pelo exercício pleno de sua liberdade, de acordo com os planos traçados pelo
Criador. Todos possuímos as fontes ocultas das capacidades, dons, virtudes e
potências infindáveis em nosso íntimo. Os trabalhos da alma nos reinos da
natureza despertaram esse potencial. O homem precisa acordar a justiça presente
em sua consciência, o gérmen das leis divinas presente em todas as almas. Mesmo
as mais persistentes no mal. Fará isso por meio da solidariedade, a conquista
coletiva daqueles que expressam o amor em suas ações.
Ao estudar a si mesmo, o homem
encontra os recursos necessários para remover qualquer sombra das paixões que
momentaneamente, o desviam de seu inevitável e sublime destino.
Mas a caminhada da alma, a
partir da ínfima partícula, não termina em sua fase hominal. A atual condição
no planeta não é a final. Sem pressa, contudo evoluindo, o homem ascende para a
angelitude. Numa síntese, os espíritos afirmam:
É assim que tudo
serve, que tudo se encadeia na natureza desde o átomo primitivo até o arcanjo,
que também começou por ser átomo. Admirável lei de harmonia, que o vosso
acanhado espírito ainda não pode aprender em seu conjunto.
Conclusão
Numa terceira fase de seu
desenvolvimento, o espírito, consciente de sua capacidade e de seus desígnios,
age como co-criador da obra de Deus. Liberto de todo egoísmo e orgulho
desprendido da matéria bruta pode habitar os mundos superiores. Trabalha para o
estabelecimento da harmonia universal ao orientar seus inferiores.
Oportunamente, seu
desenvolvimento atinge tal grau que a reencarnação não lhe é mais necessária.
Passa a fazer uso de suas conquistas trabalhando nas falanges do bem, com
bondade, justiça e sabedoria.
Na medida em que desenvolve suas potencialidades, suas faculdades e
seus sentimentos, o espírito se torna cada vez mais apto para agir no Plano da
Criação, na condição de co-criador, até atingir seu grau superlativo, onde a
vida se desdobra em nuanças inimagináveis. Dando maior vazão à sua
característica fundamental de agente transformador, o espírito superior
afina-se convenientemente ao pensamento e à vontade de Deus.
Passa à direção de mundos, de sistemas estelares
e de conjunto galácticos, polvilhados ao infinito no espaço sem fim. E, ainda,
ostenta o tipo de perfeição ideal ao progresso de uma humanidade, afirma Manuel O.
Portásio, na obra Deus, Espírito e
Matéria.
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