Ademir Xavier
Relatos de pessoas
muito próximas da morte podem conter descrições lúcidas do que nos aguarda além
da vida.
Recentemente o JEE ‒ Jornal de
Estudos Espíritas[2]
‒ publicou um artigo nosso sobre o tema "Visões de leito de morte".
O que são tais visões? Trata-se
de um grande número de relatos (encontrados em todas as épocas e povos) de
pessoas que testemunham um aparente reacender de consciência de doentes
terminais ou pessoas que se avizinham da morte. Durante tais lampejos, o doente
descreve encontros ou visitas de pessoas já falecidas. No artigo mostramos que
tais visões:
² São
relatos feitos por pessoas ‒ moribundos ‒ que não tem qualquer intenção em
falsear ou mentir, já que estão muito próximas do fim da existência material.
² São
relatos que se distinguem de meras alucinações, pois não ocorrem sob as mesmas
condições que se observam durante alucinações típicas.
² São
relatos colhidos de testemunhas idôneas (frequentemente parentes) que afirmam
ter o moribundo entrado em contato com parentes já falecidos antes de morrer.
² Mostram
que os parentes falecidos vem para ajudar o moribundo em sua
"passagem", implicando diretamente na continuidade da vida após a
morte.
O termo "Visões de leito de
morte" (VLM), em inglês, "Deathbed Visions", tem uma história
curiosa na literatura das pesquisas psíquicas. Não é preciso pesquisar muito
para descobrir que A. Kardec se referiu a elas conforme informamos em nosso
artigo. Entretanto, foi apenas com o trabalho de E. Bozzano (1862-1943) que uma
delimitação mais precisa ‒ como uma classe de eventos com características
peculiares comuns ‒ foi feita.
Uma ampla busca bibliográfica de
artigos e livros já produzidos sobre o tema é feita no artigo citado.
As VLMs são fenômenos que
ocorrem todos os dias nos leitos de muitos hospitais. São típicas em mortes de
doentes que têm a chance de se comunicar com seus parentes antes do momento
final (não é o caso, por exemplo, de morte violentas). Esses parentes tornam-se
testemunhas de um desdobramento momentâneo do doente, um recobrar de
consciência por brevíssimo período em que o doente goza de uma lucidez
incompatível com seu estado físico. A chamada "lucidez terminal”[3] dá
origem a diversos fenômenos interessantes que são fáceis de explicar pela
concepção espírita da morte.
Assim, a explicação paras as
VLMs é bastante trivial para o Espiritismo. É de se esperar que o
enfraquecimento dos laços físicos torne o Espírito mais livre, ainda que ligado
a seu corpo antes do desenlace definitivo. Entretanto, também mostramos no
artigo citado que apenas o Espiritismo ‒ como doutrina espiritualista ‒
valorizou as VLMs como provas da continuidade da existência. Pode-se então
dizer que apenas para alguns espiritualistas (os espíritas a partir de A.
Kardec) as VLMs fazem sentido como relatos de vivências extracorpóreas que
comprovam a continuidade da consciência além da morte. Isso pode parecer
incrível, mas o leitor encontrará outras doutrinas chamadas
"espiritualistas" para as quais tais relatos nada representam.
Nossa conclusão é que as VLMs
formam um consenso independente da fenomenologia mediúnica, ainda que pouco
valorizado, de que a vida continua após a morte. Tal conclusão é valida ainda
que os relatos sejam desprezados de forma ampla por acadêmicos que têm preguiça
em analisar e correlacionar fatos mais extensivos que ocorrem no momento da
morte (simultaneidades, aparições, visões inesperadas, cheiros, sensações de
presenças correlacionadas).
Talvez o leitor facilmente tenha
notícia de algum parente testemunho de uma VLM. Não deixe de compartilhar
qualquer experiência que tenha ouvido falar sobre tais visões nos comentários
abaixo. Seu testemunho é importante para o consenso em direção à sobrevivência
da alma.
[3] Nahm, Michael et al. Terminal
lucidity: A review and a case collection. Archives of gerontology
and geriatrics, v. 55, n. 1, p. 138-142, 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário