quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Visões de Leito de Morte[1]


Ademir Xavier


Relatos de pessoas muito próximas da morte podem conter descrições lúcidas do que nos aguarda além da vida.


Recentemente o JEE ‒ Jornal de Estudos Espíritas[2] ‒ publicou um artigo nosso sobre o tema "Visões de leito de morte".
O que são tais visões? Trata-se de um grande número de relatos (encontrados em todas as épocas e povos) de pessoas que testemunham um aparente reacender de consciência de doentes terminais ou pessoas que se avizinham da morte. Durante tais lampejos, o doente descreve encontros ou visitas de pessoas já falecidas. No artigo mostramos que tais visões:
²  São relatos feitos por pessoas ‒ moribundos ‒ que não tem qualquer intenção em falsear ou mentir, já que estão muito próximas do fim da existência material.
²  São relatos que se distinguem de meras alucinações, pois não ocorrem sob as mesmas condições que se observam durante alucinações típicas. 
²  São relatos colhidos de testemunhas idôneas (frequentemente parentes) que afirmam ter o moribundo entrado em contato com parentes já falecidos antes de morrer.
²  Mostram que os parentes falecidos vem para ajudar o moribundo em sua "passagem", implicando diretamente na continuidade da vida após a morte.
O termo "Visões de leito de morte" (VLM), em inglês, "Deathbed Visions", tem uma história curiosa na literatura das pesquisas psíquicas. Não é preciso pesquisar muito para descobrir que A. Kardec se referiu a elas conforme informamos em nosso artigo. Entretanto, foi apenas com o trabalho de E. Bozzano (1862-1943) que uma delimitação mais precisa ‒ como uma classe de eventos com características peculiares comuns ‒ foi feita.
Uma ampla busca bibliográfica de artigos e livros já produzidos sobre o tema é feita no artigo citado.
As VLMs são fenômenos que ocorrem todos os dias nos leitos de muitos hospitais. São típicas em mortes de doentes que têm a chance de se comunicar com seus parentes antes do momento final (não é o caso, por exemplo, de morte violentas). Esses parentes tornam-se testemunhas de um desdobramento momentâneo do doente, um recobrar de consciência por brevíssimo período em que o doente goza de uma lucidez incompatível com seu estado físico. A chamada "lucidez terminal”[3] dá origem a diversos fenômenos interessantes que são fáceis de explicar pela concepção espírita da morte.
Assim, a explicação paras as VLMs é bastante trivial para o Espiritismo. É de se esperar que o enfraquecimento dos laços físicos torne o Espírito mais livre, ainda que ligado a seu corpo antes do desenlace definitivo. Entretanto, também mostramos no artigo citado que apenas o Espiritismo ‒ como doutrina espiritualista ‒ valorizou as VLMs como provas da continuidade da existência. Pode-se então dizer que apenas para alguns espiritualistas (os espíritas a partir de A. Kardec) as VLMs fazem sentido como relatos de vivências extracorpóreas que comprovam a continuidade da consciência além da morte. Isso pode parecer incrível, mas o leitor encontrará outras doutrinas chamadas "espiritualistas" para as quais tais relatos nada representam.
Nossa conclusão é que as VLMs formam um consenso independente da fenomenologia mediúnica, ainda que pouco valorizado, de que a vida continua após a morte. Tal conclusão é valida ainda que os relatos sejam desprezados de forma ampla por acadêmicos que têm preguiça em analisar e correlacionar fatos mais extensivos que ocorrem no momento da morte (simultaneidades, aparições, visões inesperadas, cheiros, sensações de presenças correlacionadas).
Talvez o leitor facilmente tenha notícia de algum parente testemunho de uma VLM. Não deixe de compartilhar qualquer experiência que tenha ouvido falar sobre tais visões nos comentários abaixo. Seu testemunho é importante para o consenso em direção à sobrevivência da alma.




[3] Nahm, Michael et al. Terminal lucidity: A review and a case collection. Archives of gerontology and geriatrics, v. 55, n. 1, p. 138-142, 2012.

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