Por Orson Carrara
A vida adulta proporciona de um lado a liberdade de escolha de nossos
próprios caminhos, seja em nossos horários e decisões, seja nas atividades a
que nos dediquemos ou nos caminhos que a maturidade vai trazendo por si só. Por
outro lado, o descuido com o comportamento igualmente pode trazer
condicionamentos perigosos que se apresentam na forma de manias, neuroses,
pontos de vistas arraigados e presos a tradições, crenças ou verdadeiras
prisões emocionais e psicológicas, que podem se traduzir com o tempo em doenças
e desequilíbrios.
A infância, todavia, tem necessidade da rotina que a educação dos pais
precisa impor nos primeiros anos. Horário para levantar-se, dormir,
alimentar-se, banhar-se. A rotina de hábitos que depois recebe o acréscimo dos
horários da escola, de fazer tarefa escolar e mesmo a disciplina de arrumar a
cama, colaborar com pequenos afazeres domésticos, educação com os mais velhos,
guardar os brinquedos e ter cuidados com o próprio material da mochila da
escola, escovar os dentes, entre tantos outros cuidados domésticos, é item
essencial para formar o cidadão integro do futuro.
É da disciplina da família, do equilíbrio dos pais, do afeto vivido em
casa ou dos deveres criados pela rotina, é que formamos o adulto equilibrado de
amanhã que, quando adulto e livre para suas próprias, vê eclodir de si mesmo as
noções de dignidade e hombridade – fruto da semeadura sadia dos pais na rotina
necessária na primeira infância.
A vida cotidiana atual, entretanto, tem agido de maneira oposta.
Vivemos todos uma vida atribulada, na indisciplina própria que vivemos na vida
adulta, e semeamos no coração infantil, que ainda está formando referências,
uma confusão que fará adultos inseguros, igualmente indisciplinados e muitas
vezes incapazes de conduzir a própria vida, porque não tiveram na infância
rotina da disciplina que educa. Por isso encontramos hoje tantos adultos sem
equilíbrio. Vivem sem horários, não se firmam em compromissos, desrespeitam
valores, não conseguem viver um roteiro próprio que lhes dê segurança nas ações
diárias.
Complexo desafio individual e social, esse.
Como vencer isso? Só o tempo que hoje já nos mostra a consequência
direta de nossa indisciplina de ontem. Lares tumultuados, filhos
indisciplinados, sociedade perturbada.
O único caminho é voltar aos velhos padrões de dignidade na vivência
disciplinada do lar, especialmente na primeira infância. Dedicar aos filhos a
atenção de nossa presença e afeto, fazer-lhes sentir o calor de nossa
dignidade, em valores que se perpetuam como referenciais para o futuro da
personalidade que se forma.
Ah! Por que tantos se perdem hoje nas drogas? Por que tantos hoje se
desequilibram, perdem o sentido da vida e ficam atordoados sem saber para onde
se dirigem? Além da bagagem própria, faltou-lhes a rotina necessária da
disciplina necessária que só a vida familiar pode proporcionar…
É ela que forma o referencial de agir… Ela educa o comportamento, eis
o segredo. Ainda somos criaturas com necessidade de repetição das experiências
para que o aprendizado se faça.
E vejam como é sábia a vida. Necessária na formação da criança que se
tornará adulto consciente, o suceder das décadas vai trazendo rotinas novas,
que nos amadurecem em aprendizados permanentes e contínuos, alterando as
rotinas tão necessárias da infância. Da primeira infância, passamos a crianças
que crescem e que vão à escola; depois nos tornamos adolescentes, jovens,
maduros e avançamos na terceira idade. Nesse suceder de experiências, sempre
novas, novas rotinas. Todas necessárias para trazer o amadurecimento que traz a
sabedoria. E, por mais paradoxal que possa parecer, quando avançamos na
terceira idade, uns nos tornamos ranzinzas, outros nos tornamos mais serenos e
calmos.
Quais as razões de tais diferenças na terceira idade? Eis o desafio que
deixo à reflexão do leitor. Até onde a rotina ou a ausência dela, nas
referências educativas da criança, influem nesse processo?
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