quarta-feira, 20 de junho de 2018

Gêmeos que se lembram de vidas anteriores[1]


 As gêmeas Pollock ficaram conhecidas como um caso de reencarnação de irmãs na mesma família: Jacquelie e Joana Pollock que morreram em um acidente de carro em 1957.


A resposta para a vida humana não deve ser encontrada dentro dos limites da vida humana.
Carl Jung

São conhecidos inúmeros casos de crianças que se lembram de vidas anteriores[2] . Entretanto, os mais interessantes envolvem gêmeos que, coincidentemente, se lembram de vidas passadas. Essas são evidências notáveis já que, embora seja possível desqualificar lembranças de vidas anteriores de um indivíduo, há que se explicar como duas crianças podem apresentar lembranças espelho de uma existência anterior também como irmãos na mesma família.
Um caso que ficou conhecido foi o das gêmeas Pollock. Jacqueline (com 6 anos de idade) e Joana (com 11 anos) eram filhas de John e Florence Pollock quando, em 5 de maio de 1957, as duas e um amigo (Anthony Layden) morreram tragicamente em um acidente de carro em Hexham, Inglaterra.
Os pais enlutados tiveram que se conformar, embora o pai, não obstante católico, começou a afirmar que as duas voltariam a ser suas filhas em uma nova existência. O leitor deve guardar esse fato porque ele tem sido invocado por céticos para desqualificar o caso (ver mais abaixo).
Um ano depois do acidente (4 de outubro de 1958), Florence deu a luz a gêmeas que receberam os nomes de Gillian e Jennifer. Quando começaram falar (aos três anos), as gêmeas passaram a demonstrar lembranças típicas das irmãs falecidas em 1957. As lembranças criaram uma identificação de personalidades entre Gillian como Joana e Jennifer como Jacqueline. As identificações iam desde semelhanças entre brincadeiras infantis, como coincidências entre os nomes das bonecas dados por cada uma das irmãs anteriores e diferenças de atividade (uma das irmãs era muito ativa e a outra calma), além de gostos específicos por tipo de roupa, semelhanças quanto ao tipo de comida etc.
Segundo os pais, as gêmeas também tinham fobia por carros e chegaram a fazer representações do acidente em brincadeiras. Como havia uma diferença de idade entre as irmãs falecidas, uma das gêmeas demonstrava ascendência sobre outra, reproduzindo a diferença.  Como é bastante comum com memórias de crianças sobre vidas anteriores, aos cinco anos de idade, as lembranças desapareceram completamente.

Crenças céticas sobre o caso e sua análise espírita
A “psi-encyclopedia” é um site dedicado a prover informação na forma de uma "Wikipédia" para os chamados "casos psi". Esse site reproduz críticas céticas do caso das gêmeas Pollock[3], considerando que as afirmações de lembranças foram todas feitas pelos pais, um dos quais acreditava em reencarnação. O argumento geral da crítica segue afirmando que a opinião principalmente do pai contaminou toda a família, embora se reconheça que a mãe não acreditasse em reencarnação. Ela de fato permaneceu cética ao longo de toda a gestação, mas posteriormente apresentou versões coincidentes com o pai sobre o comportamento das meninas e sua identificação com a vida das irmãs anteriores.
Ora, o que se deve estranhar é sobre como alguém, declarado católico fervoroso como o pai, poderia afirmar que elas retornariam reencarnadas. Não resta dúvidas à visão espírita que o pai, John Pollock, provavelmente foi espiritualmente instruído após a morte de que as irmãs regressariam em breve. Essa instrução espiritual pode acontecer de diversas formas, por exemplo, durante o sono:
Os sonhos são efeito da emancipação da alma, que mais independente se torna pela suspensão da vida ativa e de relação. Daí uma espécie de clarividência indefinida que se alonga até aos mais afastados lugares e até mesmo a outros mundos. Daí também a lembrança que traz à memória acontecimentos da presente existência ou de existências anteriores. As singulares imagens do que se passa ou se passou em mundos desconhecidos, entremeados de coisas do mundo atual, é que formam esses conjuntos estranhos e confusos, que nenhum sentido ou ligação parecem ter[4].

Em suma: a possibilidade do regresso foi adiantada a um dos parentes que manifestou a crença extravagante em discordância com sua fé. Dessa forma, a crítica do céticos de que a crença do pai motivaria a opinião da família em torno da ideia da reencarnação é, de fato, uma evidência de que as irmãs reencarnariam, porque foi obtida provavelmente através de um mecanismo que escapou à apreciação cética. O caso das gêmeas Pollock demonstra a precariedade de explicações que não consideram o contexto espiritual e a possibilidade de assistência que os pais enlutados podem ter diante do episódio devastador da morte dos filhos.
Uma vez estabelecida a existência da reencarnação, subsistem dúvidas sobre o mecanismo do fenômeno que apreciamos de um ponto de vista muito limitado, pois se não temos acesso a todas as nossas lembranças, muito menos teremos às de terceiros. Casos como o das gêmeas Pollock podem servir para elucidar muitas essas dúvidas.
Uma das dúvidas diz respeito à duplicidade de personalidade que permanece por curto período de tempo ao longo da infância. Enquanto ainda é frouxo o laço que prende o espírito ao novo corpo, pode o espírito manifestar tais lembranças. Entretanto, em determinada fase em que ocorre a efetiva "ligação" do espírito ao novo corpo (entre 5 e 7 anos de idade), muitas vezes essa duplicidade desaparece, principalmente na forma de lembranças específicas. Um estudo recente sobre a influência da idade na lembrança de existências anteriores é [5].
A questão dos gostos e aptidões, entretanto, parece continuar como Nubor Facure explicou recentemente aqui no post "O Cérebro e o nascer de novo - afinal, quem somos? Uma hipótese neurológica".
Não parece existir uma regra com relação ao parentesco anterior. Enquanto no caso das Pollock elas já eram irmãs em existência pregressa, pode não ser o caso com outros gêmeos, embora alguma relação de afinidade seja condição necessária para a reencarnação de gêmeos. Ainda que espíritos diferentes, tais afinidades psíquicas se devem à semelhanças de pensamento, gostos e outras variáveis psicológicas ainda pouco conhecidas.

Outros casos
Outras "explicações" céticas giram em torno da ideia batida de que "tudo se deve a falsas esperanças dos pais enlutados em rever os entes que se foram". Tais explicações simplesmente ignoram marcas de nascença e outras evidências físicas que podem ser investigadas em outros casos semelhantes aos das gêmeas Pollock.
Ian Stevenson ‒ conhecido pesquisador em reencarnação ‒ descreve detalhes de um outro caso de gêmeos (Ramoo e Rajoo Sharma), que se lembraram de existência pregressa[6] em que foram assassinados ao mesmo tempo e seus corpos depositados em um poço. Comparsas revolucionários em uma existência reencarnaram como gêmeos. O próprio caso das Pollock é explorado por Stevenson em “Cases of the reincarnation type”[7] .
Segundo Matlock[8] há casos na literatura de marido e mulher que reencarnaram como irmãos gêmeos (meninos, no caso, com troca de sexo de um dos espíritos). Matlock também cita caso em que apenas um dos gêmeos apresenta o fenômeno da lembrança da vida anterior. Provavelmente, esse deve ser o caso mais comum, o que torna o caso das gêmeas Pollock ainda mais notável.




[2] Matlock, J. G. (1990). Past life memory case studies. Advances in parapsychological research, 6, 184-267.
[3] Artigo sobre as "Pollock Twins" (acesso em junho de 2018).
[4] Comentário de A. Kardec à questão 402 de "O Livro dos Espíritos". Citação extraída do site www.ipeak.com.br    (acesso em junho de 2018)
[5] Matlock, J. G. (1989). Age and stimulus in past life memory cases: A study of published cases. Journal of the American Society for Psychical Research, 83(4), 303-316.
[6] Stevenson, I. (1983 b). Cases of the reincarnation type. IV: Twelve cases in Thailand and Burma. Charlottesville, VA: University Press of Virginia.
[7] Stevenson, I. (1987a). Children who remember previous lives: A question of reincarnation. Charlottesville, VA: University Press of Virginia.
[8] Matlock, J. G. (1990). Past life memory case studies. Advances in parapsychological research, 6, 184-267.

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