BBC – Brasil - 20 maio 2018
Por que um cacto tem a forma
ideal para viver em um habitat sem água? Por que muitos rios formam curvas ao
avançar rumo à sua foz?
Há uma teoria da física que
explica isso. Na verdade, não só isso, mas também o comportamento de qualquer
coisa em movimento, seja inanimada ou animada.
Trata-se de uma lei da física
bem recente e ainda pouco conhecida pelo público em geral: chama-se Lei Constructal e foi formulada em 1996
por Adrian Bejan, professor de Engenharia Mecânica da Universidade Duke, nos
Estados Unidos.
Bejan quis torná-la o mais
acessível possível para as massas em seu livro A Física da Vida: A evolução de tudo, publicado em 2016. Mas como
ela pode explicar praticamente tudo?
Tudo flui sob o mesmo
princípio
A essência da teoria é que todo
processo em movimento, seja de um ser vivo, como uma planta, ou algo mais
intangível ou inanimado, como uma rota migratória ou a comunicação entre
computadores, avança rumo a uma maior eficácia.
Esse avanço gera mudanças
morfológicas e ajustes que respondem ao mesmo princípio de otimização, da
evolução rumo a algo melhor. E isso, segundo escreveu Bejan em seu livro, se
aplica a fluxos tão díspares como o "trânsito de uma cidade, o transporte
de oxigênio dos pulmões e a fluidez dos pensamentos na arquitetura do
cérebro".
Bejan diz que toda a natureza é
formada por sistemas de fluxo que mudam e evoluem com o tempo para se tornarem
melhores. Assim, segundo a Lei
Constructal, a tendência é sempre a uma fluidez mais fácil e, com o tempo,
os fluxos se tornam maiores. E, quanto maiores os fluxos, mais inerentemente
eficazes eles se tornam.
Lei ou teoria?
Na física, há muitas teorias,
tantas quantas a mente puder imaginar, mas poucas leis. Uma lei deve explicar
ou resumir um fenômeno universal, como as leis da dinâmica de Newton. Além
disso, segundo o engenheiro, uma lei deveria ser "obedecida" por
qualquer sistema imaginável: corpos, rios, máquinas.
Por sua vez, as teorias são
previsões sobre como algo deve se dar e estão baseadas em uma lei. Para Bejan,
a Lei Constructal explica o
funcionamento de qualquer sistema dinâmico e é o motor de campos tão distintos
como a evolução, a engenharia e o design.
O engenheiro se inspirou para
concebê-la enquanto desenhava um sistema de refrigeração de computadores
portáteis: ele se deu conta que as canalizações se ramificavam como se fossem
árvores e, a partir daí, nasceu o conceito de sua lei.
Agora, sua proposta está
ganhando grande aceitação nos círculos científicos e, segundo disse Bejan em
entrevistas, até o momento não foi refutada por publicações especializadas.
Ele acaba de receber a
prestigiosa medalha Benjamin Franklin, em parte por sua "teoria
constructal, que prevê o design natural e sua evolução nos sistemas engenharia,
científicos e sociais". Segundo o engenheiro, entender melhor essa lei
pode nos ajudar a antecipar mudanças, por exemplo, em dinâmicas sociais, nos
governos ou na economia.
E como pode melhorar
sua vida?
Se uma dinâmica se torna mais
eficaz quanto mais fluida e livre for, então, a moral para nossas vidas bem que
poderia ser "não pare".
Bejan, que nasceu e cresceu na
Romênia sob um governo comunista, diz que sua Lei Constructal, se aplicada de maneira prática ao nosso dia a dia
e ao nosso trabalho, sugere que quanto mais livres, flexíveis e dinâmicos nos
tornamos, mais eficazes somos. Da mesma forma, a inação interromperia esse
fluxo e deteria o processo de optimização natural.
Segundo disse Bejan há alguns
anos à revista Forbes, sua teoria tem incontáveis aplicações, "porque
coloca o design biológico e a evolução dentro do campo da física, junto a tudo
mais até agora existia sob o guarda-chuva da 'ciência dura': a economia, as
dinâmicas sociais, os negócios e o governo".
Uma das frases que ele mais
gosta de repetir em conversas e entrevistas, também recorrente em seus livros,
é que "a liberdade é boa para o design". Assim, a mensagem que ele
passa é que devemos fluir mais e melhor para nos tornarmos melhores.
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